Marcelo participa em celebração inter-religiosa na Mesquita de Lisboa no dia da posse

Discurso da posse na Assembleia da República será sobre política interna. Marcelo quer fazer regressar uma coabitação pacífica entre Presidente e Governo.

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No discurso da posse na Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa abordará a situação interna portuguesa Miguel Manso

Marcelo Rebelo de Sousa vai participar numa celebração ecuménica em sentido lato na Mesquita de Lisboa na tarde de dia 9 de Março, dia em que toma posse como Presidente da República, sabe o PÚBLICO. A iniciativa, inédita em Portugal, está a ser organizada para assinalar a sua posse e tem como objectivo chamar a atenção para a necessidade de entendimento entre religiões e culturas.

O objectivo é concentrar atenções e apelar à busca de uma solução para o drama dos refugiados do Médio Oriente que têm fugido para a Europa. Mas também significará uma manifestação contra os ataques terroristas que têm surgido na Europa e por todo o mundo.

A celebração inter-religiosa da Mesquita de Lisboa terá a participação, além de muçulmanos e de cristãos, católicos, evangélicos e adventistas, de outras confissões religiosas, como judeus e budistas, devendo estar representadas cerca de duas dezenas de Igrejas, dentro de um espírito ecuménico que bebe na doutrina do Vaticano II, cara a Marcelo Rebelo de Sousa, assumidamente católico.

Já como Presidente e antes de entrar na Mesquita de Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa irá depositar uma coroa de flores no túmulo de Luís de Camões, na Igreja do Mosteiro dos Jerónimos. Esta cerimónia, que faz parte da praxe protocolar da posse dos presidentes da República em Portugal, terá como inovação o facto de Marcelo Rebelo de Sousa ir também depositar uma segunda coroa de flores, esta no túmulo de Vasco da Gama.

O simbolismo desta segunda coroa prende-se, ao que o PÚBLICO apurou, com a importância que Marcelo Rebelo de Sousa dará no seu mandato presidencial à Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Aliás, um dos traços que ressaltam do currículo do assessor diplomático do próximo Presidente, José Augusto Duarte, é o facto de ter sido embaixador em Maputo.

Já na chefia da Casa Militar e da Casa Civil – e ainda no plano da explicação simbólica – estarão duas personalidades cuja carreira está ligada à NATO e à União Europeia. A Casa Militar, como o PÚBLICO noticiou na quinta-feira, será chefiada pelo general João Cordeiro, que era, desde 2013, representante militar de Portugal junto da NATO e junto da União Europeia em Bruxelas. A Casa Civil é chefiada por Fernando Frutuoso de Melo, até agora director-geral da Cooperação para o Desenvolvimento DG – Europaid e que anteriormente foi vice-director-geral da DG Recursos Humanos e Segurança e integrou como adjunto o gabinete de Durão Barroso quando este foi presidente da Comissão Europeia.

A reinvenção da cerimónia de posse do Presidente da República irá também ser marcada pela realização de um espectáculo que juntará vários tipos de música popular, dirigido a vários públicos e a diversas gerações. Devendo contar com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, o objectivo é tornar a posse numa celebração popular e torná-la apelativa também para os jovens. Organizado pelos serviços de apoio ao Presidente eleito e pela Câmara Municipal de Lisboa, este espectáculo realiza-se na Praça do Município, local onde José Relvas proclamou a República a 5 de Outubro de 1910.

Coabitação pacífica
Ainda ao nível do simbolismo com que Marcelo Rebelo de Sousa quer marcar o dia da sua posse, destaca-se o facto de fazer questão de condecorar o seu antecessor, o ainda Presidente da República Aníbal Cavaco Silva. Os dois estarão juntos logo pela manhã, na posse de Marcelo Rebelo de Sousa na Assembleia da República, numa cerimónia em que os dois presidentes, o cessante e o recém-eleito, discursarão.

De acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, o discurso de posse de Marcelo Rebelo de Sousa irá abordar a situação interna de Portugal. O objectivo de Marcelo Rebelo de Sousa na sua função de ocupante do primeiro órgão de soberania é a de que o país viva o mais normalmente possível, ou seja, que haja um clima de pacificação política.

Depois de um período de oito anos em que não houve relações pacificadas e de coabitação entre o Presidente e o Governo, Marcelo Rebelo de Sousa pretende contribuir para essa pacificação interna. Desde a querela jurídico-constitucional sobre o Estatuto Político-Administrativo dos Açores que o clima entre Cavaco Silva e José Sócrates se azedou e foi-se degradando até à ruptura. Já com Passos Coelho como primeiro-ministro, as relações entre este e Cavaco sempre foram formais, mas frias.

O objectivo de Marcelo é distender a vida política, diminuir a tensão e o confronto político – para isso aposta no facto de manter com o actual primeiro-ministro uma relação cordial e de respeito mútuo há mais de duas décadas, quando António Costa estava nos Assuntos Parlamentares do Governo de António Guterres e Marcelo Rebelo de Sousa era presidente do PSD.

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