Um dia depois da tomada de posse, Marcelo fala ao corpo diplomático

A primeira ida ao estrangeiro tera um carácter simbólico. E se o Presidente combinar visita de Estado, de trabalho e cortesia?

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José Augusto Duarte, o assessor diplomático do Presidente eleito Rui Gaudêmcio

A 10 de Março, horas depois da sua tomada de posse no Parlamento como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa discursa, no Palácio da Ajuda, perante o corpo diplomático. É um sinal inequívoco da importância que o Presidente eleito atribui à política externa.

“Habitualmente, a intervenção do Presidente da República aos embaixadores acreditados em Lisboa não é imediata à sua tomada de posse”, refere ao PÚBLICO o diplomata José Augusto Duarte, nomeado assessor diplomático de Marcelo, com o qual já está a trabalhar no Palácio de Queluz. Esta primeira vez tem um objectivo de sinalização da importância das relações externas. “Quer dar uma atenção muito particular a todos os embaixadores, os que representam Estados e organizações internacionais”, assinala.

“As prioridades da política externa portuguesa estão definidas no programa do Governo, como nos programas dos 20 governos anteriores, aliás, desde 1976 são as mesmas, independentemente da ideologia dos executivos”, recorda. “A democracia portuguesa estabeleceu uma política externa de Estado, institucional e previsível, o que nos dá uma enorme credibilidade, há uma absoluta linha de continuidade, os eixos estratégicos estão definidos claramente”, sintetiza o diplomata.

A acção externa do Estado é, assim, território de convergência do Presidente com o Governo. “A política externa representa o interesse dos portugueses e do país no estrangeiro, noutros campos, como a saúde, a educação ou a segurança social, é saudável e desejável a diversidade de opinião”, observa: “A convergência do Presidente com o Governo em política externa é uma tradição saudável face aos desafios que temos pela frente, cabe ao executivo definir as prioridades e ao Presidente da República actuar em parceria.”

A continuidade dos objectivos e a convergência na acção não são, contudo, limitadoras. O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa não só inova na rapidez do encontro com os embaixadores. A forma e o destino do seu primeiro contacto fora de portas também deverá ser diferente.

Tradicionalmente, a primeira visita de Estado do Presidente da República de Portugal é a Espanha, único vizinho com fronteira terrestre, primeiro cliente e investidor no nosso país. Na campanha eleitoral, em declarações ao PÚBLICO, o então candidato referiu a tradição da visita a Espanha, não escondendo o desejo de a conjugar com os países de língua oficial portuguesa. Aliás, a primeira visita presidencial tem um inegável carácter simbólico.

No Palácio de Queluz, a 15 dias da tomada de posse, o assunto está a ser equacionado. Espanha, Santa Sé - o primeiro Estado a reconhecer a independência portuguesa -, Marrocos, países de língua oficial portuguesa e instituições europeias são os destinos em causa. Em princípio não conciliáveis, embora exista uma combinação possível. Há três tipos de visitas presidenciais – de Estado, de trabalho e cortesia – e em caso de distâncias curtas a possibilidade de no mesmo dia decorrer mais de uma. Um expediente nada estranho à reconhecida inquietude de Marcelo.

“Marcelo Rebelo de Sousa tem uma sensibilidade inata para a política externa, sai-lhe naturalmente”, afirma o ainda embaixador de Portugal em Moçambique. “Tem uma relação de empatia imediata com os seus interlocutores baseada na autenticidade”, explica. Características que, garante um diplomata com 26 anos de carreira, são uma mais-valia no mundo da política externa.

 “É um humanista, um universalista, com um enorme sentido de humor, o que o torna um interlocutor agradável que conquista imediatamente a empatia dos outros”, prossegue. Foi esta avaliação pessoal, de apenas dois encontros com Marcelo em Maputo, que levou o jovem diplomata, com 53 anos, a passar do Palácio das Necessidades, sede da diplomacia portuguesa, para o Palácio de Belém.

“Esses dois encontros foram surpreendentemente agradáveis e interessantes, Marcelo Rebelo de Sousa alia uma capacidade intelectual superior a um enorme sentido de humor, o aspecto intelectual combinado com o lúdico”, conclui. Em Belém, José Augusto Duarte terá uma equipa directa de três assessores que conheceu nas suas andanças de diplomata. Um périplo com paragens em Washington, Madrid, Bruxelas e Maputo.  

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