Impasse inesperado em Bruxelas nas negociações com o Reino Unido

“Vou bater-me pelo Reino Unido", afirmou David Cameron à entrada para a reunião do Conselho Europeu. Optimismo moderado no arranque da "cimeira do vai ou racha".

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Cameron diz que não aceitará "um acordo que não corresponda às necessidades" britânicas Emmanuel Dunand/AFP

Ninguém esperava que a negociação que determinará o futuro do Reino Unido na União Europeia ficasse fechada logo na quinta-feira, mas ninguém antecipava que as divergências fossem ainda tão pronunciadas quando os trabalhos foram interrompidos. O impasse estava de tal maneira fincado que o pequeno-almoço que presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, agendou para esta sexta de manhã, supostamente para limar as últimas arestas do acordo, foi adiado para um “brunch”.

À entrada para a cimeira, os líderes traduziram uma vontade unânime em fechar o acordo com o Reino Unido e dar a Cameron os trunfos e o tempo necessário para vencer o referendo à permanência do país na União Europeia. O último rascunho mostrava que havia muitos pormenores a trabalhar nos pontos mais polémicos da renegociação, no que se refere ao mecanismo para permitir a Londres suspender durante quatro anos os apoios sociais aos trabalhadores comunitários, e na exigência britânica de ter uma palavra a dizer em relação às decisões da zona euro que possam afectar a sua economia. O Reino Unido também não tinha garantida a promessa de que as reformas acordadas viessem a ser inscritas numa futura revisão dos tratados.

Depois de horas de discussão, continuaram a sobrar divergências. Citando “fontes de Downing Street”, a editora política da BBC dizia que o processo tinha mergulhado no impasse: “Quando esperávamos discutir pontes, ainda estamos a falar de fossos. Não fizemos progressos nenhuns”.

“Vou bater-me pelo Reino Unido. Se conseguirmos um bom acordo, vou aceitar esse acordo, mas não aceitarei um acordo que não corresponda às nossas necessidades”, afirmou o primeiro-ministro britânico à chegada à cimeira. No primeiro “intervalo” da noite, ara o jantar, um assessor britânico repetia ao The Guardian que “o primeiro-ministro deixou muito claro que só aceitaria um acordo que cumprisse com as suas exigências. Se tal não acontecer, a cimeira acaba sem acordo”. Donald Tusk já tinha avisado que o processo seria “difícil e sensível: é a cimeira do vai ou racha”.  

O líder conservador quer chegar a acordo o quanto antes – as sondagens indicam que cresce o número de britânicos a pensar votar “não” no referendo – e precisa de sair de Bruxelas com um texto capaz de provar que, depois desta renegociação, a permanência do Reino Unido na UE é “o melhor de dois mundos”. “Com boa vontade e trabalho árduo podemos conseguir um melhor acordo para o Reino Unido”.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse estar “bastante confiante” de que será possível chegar a um entendimento. “Faremos tudo o que for necessário para criar as condições para que o Reino Unido possa continuar a fazer parte da UE”, afirmou a chanceler alemã, Angela Merkel. Menos entusiasta, mas igualmente pragmático, o Presidente francês, François Hollande, disse que “um acordo é possível porque é necessário”. Paris rejeita qualquer passo que permita a Londres vetar as decisões da zona euro ou a isentar a City londrina da regulamentação financeira da UE.

Também a primeira-ministra polaca, Beata Szydlo, garantiu que o seu país “quer um acordo, mas não a qualquer preço”. A Polónia, que tem 600 mil cidadãos a trabalhar no Reino Unido, encabeça os países de Leste que se têm oposto aos cortes nos apoios sociais aos trabalhadores comunitários. Num bem-humorado resumo das posições dos seus parceiros, a Presidente da Lituânia Dalia Grybauskaite estimava que “cada um fará o seu pequeno drama, mas no final encontraremos um compromisso”.

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