El Niño ultrapassou o pico de intensidade, mas alerta é para manter

Organização Meteorológica Mundial alerta para as consequências humanitárias do El Niño. Regiões no Corno de África, no Sul da África e na América Central são as mais afectadas pelo fenómeno.

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O El Niño provocou chuvas torrenciais e cheias numas partes do planeta, seca extrema noutras Karen Pulfer Focht/Reuters

O El Niño, que conduziu a um nível-recorde nas temperaturas globais, a secas e cheias durante o último ano, passou o seu pico de intensidade, apesar de os impactos humanitários continuarem nos próximos meses. A informação é avançada pelas Nações Unidas, num comunicado da Organização Meteorológica Mundial (WMO).

“Em termos meteorológicos, o El Niño está em declínio. Mas não podemos baixar a guarda, visto que ele continua forte e, em termos humanitários e económicos, os seus impactos vão continuar por muitos meses”, afirmou Petteri Taalas, secretário-geral da WMO, ao jornal The Guardian.

Apesar de já ter ultrapassado o seu pico de intensidade, a força do El Niño (fenómeno cíclico de aquecimento das águas do oceano Pacífico) é ainda bastante elevada e com consequências devastadoras, nomeadamente no continente africano e americano. “Partes da América do Sul e do Este de África ainda estão a recuperar das chuvas torrenciais e das cheias. O custo económico e humanitário da seca — que é, por natureza, um desastre em lento desenvolvimento — está a tornar-se cada vez mais evidente no Sul e no Corno de África, na América Central e em outras regiões”, acrescentou Taalas.  

O comunicado da WMO surge no mesmo dia em que a Unicef alerta para a situação catastrófica no Burundi, um dos países mais pobres do mundo. O El Niño tem contribuído para o aumento de doenças como a malária ou a cólera, e a violência que o país atravessa tem agravado a sua difícil situação alimentar, afirmou Bo Viktor Nylund, representante da Unicef no Burundi, ao The Guardian.

O Burundi é apenas um exemplo dos países que têm sido afectados pelo fenómeno do El Niño, que tem estado associado a uma série de impactos regionais. Na África Oriental, o fenómeno está relacionado com o aumento da precipitação em países como o Quénia ou o Uganda. Já a Etiópia atravessa uma seca prolongada que deixou cerca de 18 milhões de pessoas a necessitarem de ajuda devido à grave insegurança alimentar nas zonas afectadas.

No Sul da África, a situação é particularmente alarmante. O Programa Alimentar Mundial estima que mais de 40 milhões de pessoas possam estar em risco de fome. Baixos níveis de precipitação foram registados em países como o Lesoto, o Malawi, Moçambique, África do Sul, Zâmbia ou Zimbabwe. Este último declarou “estado de catástrofe” no início do mês de Fevereiro.

Já na América Central, o El Niño está associado às graves secas na Guatemala, Honduras e El Salvador. Nas ilhas do Pacífico tem contribuído para reduzir a precipitação no Sudoeste — a Papua Nova-Guiné tem sido particularmente afectada — e para a aumentar no Pacífico Central e Oriental. Tem também contribuído para o aumento do número de ciclones.

O El Niño tem desempenhado um papel determinante, juntamente com as alterações climáticas, na evolução das temperaturas globais para níveis-recorde em 2015 e em Janeiro de 2016. Apesar da estimativa da WMO para o declínio do fenómeno no segundo trimestre de 2016, as consequências dos últimos meses são visíveis, com milhões de pessoas a viverem em condições extremas. 

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