Humberto Delgado: nome de herói no aeroporto de Lisboa

A combatividade do General Sem Medo deve continuar a ser uma estimulante referência moral e política.

O Aeroporto Internacional de Lisboa passa a chamar-se Humberto Delgado no próximo dia 15 de Maio, data em que passam 110 anos sobre a data do nascimento do general Humberto Delgado em Boquilobo, Brogueira, Torres Novas, prestando-se assim mais uma merecida homenagem ao homem que continua a representar uma atitude de coragem e de persistência no combate contra a ditadura que lhe tirou a vida a 13 de Fevereiro de 1965, em Los Almerines, Olivença, a poucos quilómetros da fronteira com Portugal.

Delgado participou, muito jovem no levantamento militar de 28 de Maio de 1926 que, sob o comando do marechal Gomes da Costa, derrubou a república parlamentar e abriu as portas à ditadura que Salazar lideraria durante décadas.

Humberto Delgado, oficial brilhante, chegou a assumir as suas simpatias pela Alemanha nazi em 1941. Depois representou Portugal nos acordos secretos com o governo inglês sobre a instalação de bases dos Aliados nos Açores, durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1944 foi nomeado director do Secretariado da Aeronáutica Civil. Foi adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e membro do Comité dos Representantes Militares da NATO. Promovido a general na sequência da realização de cursos de altos comandos, passou a chefiar a Missão Militar junto da Nato.

Os anos passados nos Estados Unidos e também no Canadá foram determinantes para que adoptasse uma atitude crítica e de afastamento em relação à ditadura de Salazar, o que seria determinante para a sua candidatura à Presidência da República em 8 de Junho de 1958, data em que seria vítima da fraude eleitoral montada pela ditadura, de que resultou a eleição de Américo Tomás para o desempenho do cargo. Desde que em 1959 pediu asilo político na Embaixada do Brasil até à data do assassinato, Humberto Delgado tudo fez para criar condições para o derrube da ditadura, incluindo o chamado Golpe de Beja, em 1962, que fracassou e o deixou mais perto do isolamento que viria a determinar a sua execução, juntamente com a sua secretária brasileira, Arajaryr Campos, às mãos do agente da PIDE Casimiro Monteiro. Os corpos foram ocultados em Vila Nueva del Fresno, a cerca de 30 quilómetros do local do crime.

Símbolo de um duro combate político contra a ditadura, Delgado foi trasladado em 5 de Outubro de1990 para o Panteão Nacional. Em Fevereiro de 2015, assinalando o cinquentenário do assassinato, a Câmara Municipal de Lisboa propôs ao Governo Português a atribuição do seu nome ao Aeroporto de Lisboa. Esse propósito é agora cumprido, passando o aeroporto da capital portuguesa a ter o nome do homem que resistiu à ditadura, pagando com a vida essa determinação e coragem e que em 14 de Março de 1945 criou a TAP, sendo, à data, director do Secretariado Nacional da Aeronáutica Civil.

Refira-se ainda que Humberto Delgado foi autor de livros e de textos teatrais, tornando-se associado da Sociedade Portuguesa de Autores em 9 de Dezembro de 1942, seis anos da entrada de Aquilino Ribeiro para a mesma instituição. Humberto Delgado foi homenageado pela SPA, em 8 de Junho de 2008, com o descerramento de uma placa de homenagem em acto que contou com a presença de sua filha, Iva Delgado, historiadora e figura incansável no processo de preservação da memória do General sem Medo.

Louve-se agora a decisão da Câmara de Lisboa e do governo que celebram o homem, o seu heroísmo e a força do seu exemplo, quase 42 anos depois do 25 de Abril de 1974, para o derrube da ditadura que privou os Portugueses de liberdade e democracia e deixou Portugal numa situação de isolamento humilhante que só o processo de democratização então iniciado conseguiu anular. A combatividade do General Sem Medo deve continuar a ser uma estimulante referência moral e política para quem não aceita a a subalternização de Portugal e dos Portugueses num continente que não consegue encontrar com firmeza solidária uma solução para a situação de centenas de milhares de migrantes/refugiados.

Escritor, jornalista e presidente da Sociedade Portuguesa de Autores

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