Moradores queixam-se de praga de pombos na vila da Moita

Aves alimentam-se nas vacarias existentes na zona e pernoitam nos prédios de habitação. Município pondera recorrer a contentores com armadilhas.

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No caso da Moita, ainda não há indícios de problemas de saúde pública Enric Vives-Rubio

O aumento da população de pombos está a preocupar moradores de vários locais do concelho da Moita e eleitos dos diversos partidos na autarquia local, ao ponto de a câmara municipal estar a trabalhar numa estratégia para combate ao problema, que deve passar pela colocação de contentores com armadilhas para a captura das aves.

Esta hipótese foi admitida ao PÚBLICO pelo vereador municipal com os pelouros das Obras Municipais, Serviços Urbanos e Ambiente e Protecção Civil depois de um grupo de moradores ter ido à última reunião pública do executivo camarário queixar-se da praga de pombos. 

Miguel Canudo diz que “a decisão ainda não está tomada, mas isto [a colocação de contentores com armadilhas] pode ser o caminho”. E explica que a câmara está à procura de um caminho, com todos os eleitos e não apenas com os da CDU. “Vamos abordar a questão e ver qual será a solução, porque isto é um problema que é de todos e há um certo consenso sobre esta matéria”. 

O presidente da câmara também já tinha dito a mesma coisa, em reunião do executivo. “A câmara está a estudar uma solução para acabar com o problema dos pombos, ao nível do que foi feito em Lisboa, na zona da Expo. No caso, são contentores com armadilhas, porque é o único meio legal a que podemos recorrer”, disse Rui Garcia (CDU).

Segundo o vereador Miguel Canudo, as aves durante o dia estão em três vacarias de grandes dimensões, com centenas de cabeças de gado, que existem nos arredores rurais do concelho, “porque têm lá muita alimentação”, e, à noite, é que recolhem às áreas urbanas. 

As zonas mais afectadas da Moita são o Palheirão e o Bairro da Caixa, uma zona de prédios propriedade do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social (IGFSS), onde residem cerca de um milhar de pessoas. 
Uma das moradoras disse ao PÚBLICO que os pombos “prejudicam as pessoas, com a sujidade toda que produzem, e porque começam a cantar muito cedo, logo de madrugada”. Maria Colaço relata que as aves andam por ali aos milhares, de manhã e ao anoitecer. “Incomodam muito, porque não podemos estender a roupa na varanda. Sujam tudo, as paredes e os passeios no chão ficam cheios de resíduos”. Além disso, prejudicam o escoamento de águas pluviais, entupindo os algerozes.

De acordo com esta residente, a situação melhorou um pouco desde que, em 2014, o IGFSS realizou obras nos prédios, reparando os telhados, onde os pombos se introduziam, “às centenas”, através dos buracos das telhas partidas. As obras impediram as aves de fazerem ninho no interior da cobertura dos edifícios, mas nem por isso o bairro deixou de ser o seu poiso habitual. Os telhados continuam repletos de pombos e, segundo os moradores, o seu número tem vindo a aumentar nos últimos anos.

O vereador Miguel Canudo refere que o município pondera optar pela captura através de armadilhas, porque outras alternativas, tentadas noutros concelhos, se têm revelado pouco eficientes. “A pílula para os pombos e outras formas de controlo de natalidade têm falhado, Não tem tido efeitos positivos.” Em Setúbal, acrescenta, “uma das coisas que fizeram foi a apanha de pombos, que foram levados e largados no Alentejo, mas eles voltaram à cidade”.

Sobre a proposta de solução que tenciona apresentar ao executivo municipal, o autarca diz não ter prazo ou calendário definido. Avança apenas que está a trabalhar com uma “empresa certificada” no combate a pragas urbanas e que, a serem colocados os contentores com armadilhas, não será nas zonas urbanas da vila. 
“Temos feito reuniões com os responsáveis das vacarias no sentido de estudar soluções. Fizemos o trabalho de observação e agora estamos na fase de solução. A serem instalados os contentores, será nas vacarias. Nunca será feito na vila, mas sim nas vacarias, onde os pombos estão durante o dia”, assegura.

O tema dos pombos tem sido politicamente consensual nos órgãos autárquicos locais. Na última reunião do executivo, todos os eleitos se mostraram sensíveis à dificuldade de lidar com o problema. Até porque o caso já deu polémica nas redes sociais. 

Quando a autarquia publicou no Facebook uma mensagem de apelo aos munícipes para não alimentarem os pombos, gerou-se uma acesa troca de palavras, e houve acusações à câmara por parte de alguns intervenientes.
Na altura, o vereador do PS, Manuel Borges, solidarizou-se com a maioria comunista, mas não deixa de exigir uma solução. “Algo tem que ser feito. Os pombos reproduzem-se e são cada vez mais”, afirmou o eleito socialista na reunião camarária. 

Também Joaquim Raminhos, eleito pelo BE, considera tratar-se de “um caso de difícil resolução”, e defende uma “conjugação de esforços” entre os autarcas e as associações de defesa dos animais. 
 

“Ratos voadores"

A população excessiva de pombos em ambientes urbanos é considerado um factor de risco para a saúde pública. É por isso, pelos estragos no património edificado, nos monumentos e nos pavimentos, e ainda pelos incómodos causados às pessoas, que muitos municípios tentam travar o crescimento da espécie. 

É o caso da Câmara de Lisboa, que tem um Programa de Controlo da População de Pombos, que passa pela utilização de um contraceptivo oral, mas também pelo abate da maioria das aves que são capturadas.

No caso da Moita, ainda não há indícios de problemas de saúde pública. O vereador Joaquim Raminhos afirmou, na reunião publica camarária, que “já é um caso de saúde pública”, mas não há, por enquanto, qualquer caso concreto, conhecido, de pessoas afectadas. 

“Não há qualquer queixa ou suspeita de problemas de saúde no concelho da Moita”, disse ao PÚBLICO o delegado de saúde da zona que abrange aquele município. Mário Durval explica que há riscos para a saúde pública porque “os pombos são ratos com asas, são transmissores de algumas doenças que podem afectar os seres humanos”. O médico defende, por isso, tratar-se de “uma coisa que devia ser muito controlada”.
No mesmo sentido, Miguel Canudo afirma que o excesso de pombos “é um problema de difícil solução, mas não um problema de saúde”. O autarca deixa claro que, por enquanto, o município não tem conhecimento de qualquer queixa relacionada com a saúde. 

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