Jovens portugueses representam o México na Bienal de Veneza

O ateliê de arquitectura Root Studio, localizado no México, é um dos escolhidos para representar o país na Bienal de Veneza. João Boto Caeiro, co-fundador do ateliê, é um dos responsáveis pelos projectos comunitários. Mas há mais um português na equipa

Foto
DR

Um ateliê de arquitectura co- fundado por um jovem português no México vai representar o país da América do Norte na Bienal de Veneza 2016. O Root Studio, de João Boto Caeiro, tem mais um português na equipa, Tiago Seixas, e aposta em projectos de natureza humanitária. O convite para integrar o evento de arquitectura internacional de Itália, disse Tiago Seixas ao P3, é o reflexo do trabalho desenvolvido por João Boto Caeiro, nos últimos anos, em zonas subdesenvolvidas da região de Oaxaca.

“Neste momento temos algumas dezenas de obras concluídas e todas têm em comum o facto de serem realizadas com poucos ou nenhum recursos, recorrendo a técnicas construtivas tradicionais como adobe, tapial [terra prensada manualmente], etc.”, explicou o jovem arquitecto. Estes projectos são realizados em paralelo com as outras encomendas de carácter “mais convencional”.

Nas zonas rurais de Oaxaca, a equipa de arquitectos ajuda a própria comunidade durante o processo de construção, com o apoio de voluntários “que se juntam ao fim-de-semana para impulsionar e aprender”. “Todos estes projectos acabam por ser fruto de bastante esforço colectivo e quase todo o financiamento que conseguimos é para a compra de materiais”, continua Tiago, de 29 anos.

Foto
Casa comunitária, em San Pedro Apostol, construída com três adobes para os produtores da bebida “mezcal” DR

Da lista de projectos sociais já levados a cabo pelo Root Studio — co-fundado por Fulvio Capurso — fazem parte uma casa comunitária, em San Pedro Apostol, construída com três adobes para os produtores da bebida “mezcal”, várias habitações para mulheres viúvas ou em situações precárias da associação sem fins lucrativos Adobe for Women, também na região de Oaxaca, e uma pequena capela dedicada a San Isidro, o santo dos agricultores. Os responsáveis pela curadoria da Bienal de Veneza seleccionaram estes e outros projectos do Root Studio. Já estiveram no México para um levantamento oficial e devem regressar em breve para o registo fotográfico.

Foto
Capela dedicada a San Isidro, o santo dos agricultores, na região de Oaxaca DR

As técnicas utilizadas pelos arquitectos têm um “óbvio carácter sustentável”, quer ambiental quer economicamente falando, e procuram revitalizar este tipo de práticas construtivas junto das comunidades. “Há muito que estes processos se vão perdendo e inclusivamente vistos como arcaicos e ineficientes, [quando na verdade] são superiores aos ditos processos convencionais”, lembra Tiago. “Basta lembrar que um terço da população mundial vive ainda em casas de terra.” A revitalização destas técnicas, sublinha o arquitecto, já deu a João Boto Caeiro uma comenda da UNESCO.

Foto
Parte da equipa do Root Studio, acompanhada por voluntários DR

O trabalho social paralelo que o ateliê de arquitectura tem desenvolvido nos últimos anos, no México, enquadra-se no tema de 2016 da Bienal de Veneza, “Reporting from the front”. O Root Studio, um colectivo de nove arquitectos “jovem, multidisciplinar e muito activo”, como o define Tiago, é a única equipa estrangeira a integrar o pavilhão do México no evento, que acontece entre os meses de Maio e Novembro.

Em 2014, João Boto Caeiro, de 34 anos, viu o projecto de um ginásio sustentável localizado em Oaxaca, no México, ser premiado em três categorias na 23.ª edição do CEMEX.

Sugerir correcção
Comentar