Este ano a Arco perdeu um país, mas ganhou Lisboa

A feira de arte de Madrid vai este ano testar novos modelos. Faz 35 anos, prescindiu de ter um país convidado e cresce até Lisboa em Maio.

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Carlos Urroz, director da ArcoMadrid enric vives-rubio

O embaixador de Espanha em Portugal disse esperar com “impaciência” a ArcoLisboa, naquela que será a primeira feira de arte contemporânea que a Arco realiza fora de Espanha. Mas, apesar de Juan Manuel de Barandica y Luxán, o anfitrião da conferência de imprensa desta quarta-feira sobre a Arco, estar muito curioso tal como toda a gente, ainda é demasiado cedo para se saber que galerias e artistas estarão em Lisboa.

O comité internacional que vai seleccionar as 40 galerias esteve reunido na véspera da conferência de imprensa, mas os pormenores da feira de Lisboa que vai decorrer na Cordoaria de Lisboa de 26 a 29 de Maio só vão ser revelados depois da feira de Madrid, que se realiza de 24 a 28 de Fevereiro, e foi afinal a razão para juntarem os jornalistas portugueses no Palácio de Palhavã, em Lisboa.

O director da ArcoMadrid, o espanhol Carlos Urroz, explicou numa conversa com o PÚBLICO que na Cordoaria haverá “uma feira boutique, orientada para os artistas”. O objectivo é que as galerias destaquem um artista para que haja um foco. A galerista Cristina Guerra, que faz parte do comité organizador da feira de Lisboa e estava entre os convidados da apresentação, disse, tal como Urroz, que o processo “está a correr bem”.

Além da portuguesa, fazem parte do comité organizador de Lisboa a galerista espanhola Juana de Aizpuru (a primeira directora da Arco), o galerista português Nuno Centeno, a galerista brasileira Jaqueline Martins (São Paulo) e o galerista italiano Giorgio Persano (Turim). Cristina Guerra sublinha a importância da presença de Juana de Aizpuru, uma veterana da Arco.

Urroz não abriu mesmo o jogo, esclarecendo apenas que para Maio há mais candidaturas do que lugares, evitando enumerar as presenças internacionais, porque não costumam divulgar esses números. A feira custará 800 mil euros, esclareceu à agência Lusa o director.

A ideia de se fazer a ArcoLisboa surgiu em conversas entre os galeristas portugueses e Urroz logo que ele se tornou director da ArcoMadrid há seis anos. Mas com a crise, apesar da vontade, só foi possível concretizar esse desejo agora. Cristina Guerra, que tem actualmente na sua galeria uma exposição do artista angolano Yonamine (Luanda, 1975), explicou que depois de tentarem vários formatos esperam mesmo que esta solução ibérica funcione: “Eles têm o know-how, sabem o que é uma feira. Isso é uma pequena grande diferença. É uma marca que nós também ajudamos a consolidar. Essa marca ajuda-nos e nós também os vamos ajudar.”

Este ano a ArcoMadrid não tem, pela primeira vez em mais de 20 anos, um país convidado, como no ano passado aconteceu com a Colômbia. Com 167 galerias presentes no programa geral (72% são estrangeiras) – a que se juntam mais 18 galerias jovens (programa Opening) e 18 outros projectos individuais dedicados à América Latina (Solo Projects) –, este é um ano de celebração do 35.º aniversário, em que se testa de certa forma um novo modelo, além do processo de internacionalização que passa por Lisboa.

Carlos Urroz não diz que estão a repensar o conceito de país convidado. Ele não está em causa até porque vai voltar já para o ano (a escolha vai ser anunciada em Madrid), mas o ano dedicado ao 35.º aniversário é "um bom teste para ver o que acontece. Talvez também possamos trabalhar um tema no futuro.”

Em Madrid vão estar presentes 11 galerias portuguesas, a maioria no programa geral: 3+1 Arte Contemporânea, Baginski, Cristina Guerra, Filomena Soares, Graça Brandão, Murias Centeno, Pedro Cera, Vera Cortês (todas de Lisboa), Mário Sequeira (Braga) e Quadrado Azul (Porto). A Galeria Kubik de Lisboa participará no programa latino-americano com o brasileiro Felipe Cohen, artista que já esteve nos Solo Projects em 2010.

No programa especial de aniversário, intitulado Imaginando Outros Futuros, estará Cristina Guerra ao lado de outras 33 galerias participantes, uma por cada ano da feira. A selecção foi feita por María e Lorena de Corral (a primeira foi curadora da última representação de Portugal na Bienal de Veneza, que levou o artista João Louro), com os comissários Catalina Lozano e Aaaron Moulton. Cada galeria terá cerca de 30 metros quadrados, numa participação financiada pela feira, e Cristina Guerra apresentará os artistas Filipa César e Lawrence Weiner, num diálogo entre gerações.

“O aniversário serve para pôr em destaque o que se passou nestes 35 anos. É também uma forma de testar novos formatos”, diz o director, Carlos Urroz, explicando que como é um bom momento para a economia é também um bom momento para começar algo de novo.

A ArcoMadrid quis envolver toda a cidade nesta comemoração e criou o projecto Ano 35. Madrid, comissariado pelo crítico de arte espanhol Javier Hontoria, além do programa normal das instituições que costuma ser muito intenso nesta época (o Museu Rainha Sofia mostra, por exemplo, o artista português Alexandre Estrela numa exposição comissariada por João Fernandes, subdirector do museu). A ideia é apresentar intervenções de artistas (de Adriano Amaral a Khalid Rabah, passando por Jane & Louise Wilson, entre outros) em espaços muito diferentes, mesmo sem ligação à arte contemporânea, como os museus de arqueologia ou do romanstismo.

Cristina Guerra pensa que as duas feiras, a de Lisboa e a de Madrid, têm de ser complementares. “Faz uma força maior, porque através das ligações da ArcoLisboa e África podemos ajudar bastante como complementaridade ao mercado do Norte. É muito difícil passar um artista português, porque o mercado está feito a norte e não a sul.”

Em Madrid, João Fernandes volta a co-dirigir o Encontro de Museus da Europa e América Latina, enquanto os comissários Miguel Amado e Luísa Teixeira de Freitas participam noutras conferências organizadas pela feira. No fórum, à volta do tema coleccionismo, participarão também os coleccionadores Armando Cabral e Jorge Gaspar, bem como o comissário Miguel von Hafe Pérez, que vai dirigir a sessão Coleccionismo em Portugal. Vícios privados/virtudes públicas. O economista António Cachola, que com a sua colecção de arte portuguesa fez o Museu de Arte Contemporânea de Elvas, receberá um prémio da ArcoMadrid.

 

 

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