Aqui, onde todos gostam da pessoa errada

Fotogaleria

Um-dois-três-macaquinho-do-chinês. Um-dois-três-macaquinho-do-chinês. Viramos costas, dizemos as palavras mágicas e tudo mudou — ou está tudo na mesma? Victor Hugo Pontes já vivia com "A Gaivota", de Anton Tchékhov, na cabeça. Tantas vezes repetiu o texto que de lá, do texto e da sua cabeça, só saíram as emoções despidas de palavras — que pairam na cabeça dos bailarinos, "o texto está mais presente do que nunca". No palco, ficaram os corpos — o coreógrafo deixou o seu próprio corpo também — e ficaram os conflitos que terminam a mal, as danças de acasalamento que acabam com lutas de galos, cristas eriçadas, pessoas de costas voltadas, pessoas que carregam um peso às costas. Em "Se Alguma Vez Precisares da Minha Vida, Vem e Toma-a" (esta quinta-feira, 4 de Fevereiro, na abertura do GUIdance, festival internacional de dança de Guimarães; depois, 11 a 13 no TNSJ, no Porto, 26 e 27 no Centro Cultural de Belém, em Lisboa) o texto não existe, mas sentimo-lo rasgado, sufocado, aplaudido. “Estou completamente dentro do texto, apesar de depois o rejeitar”, reconhece Victor Hugo Pontes. Nascemos e morremos debaixo de um palco cheio de desamor, um palco onde todos gostam da pessoa errada. L.O.C.