Terry Wogan

Terry Wogan era encantador. A rádio é a mais bonita e volátil de todas as artes ingratas.

A morte de Terry Wogan entristeceu-me. Foram muitas as horas em que ele me acompanhou e fez sorrir e rir de boca aberta. Nos festivais da Eurovisão, por exemplo, os comentários dele eram tão satíricos e subtis como Jonathan Swift.

Quando vi nos jornais que ele tinha morrido tive pena de raramente haver nos jornais – ao contrário do que acontece na Internet – notícias segundo as quais “ele afinal não estava morto”. Ou ela.

Terry Wogan escrevia uma coluna deliciosamente reaccionário no (hoje – ou já então – horroroso) Sunday Telegraph. Não era apenas a vida moderna que o revoltava. Era a hipocrisia. Era o fingimento de sensibilidades.

Só um grande herói é capaz de passar três horas de cada manhã a ter graça todos os dias. Portugal tem mais heróis do que se pensaria (ou merecemos). No Reino Unido Terry Wogan era o melhor dos melhores.

Como a arte dele era espontânea e temporária só os muitos milhões de ouvintes cuja vida claramente beneficiou terão uma noção exacta do que perdemos.

Terry Wogan, tal como António Sérgio (só próximo dele pelo facto de estar morto), era um génio da rádio. Era um mestre da conversação. Era um improvisador. Aquilo que ele fazia com as palavras era uma espécie irlandesa de jazz.

Terry Wogan era encantador. A rádio – mais até do que o teatro, que tem a consolação de repetir-se durante um breve espasmo – é a mais bonita e volátil de todas as artes ingratas.

Adeus, Terry Wogan. Obrigado por todas as tuas troças. E artes.

Sugerir correcção
Comentar