O sexo e o afecto de quem cresceu na Madeira

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Começou a fotografar para escapar ao "aborrecimento" e "isolamento". Crescer na Madeira pode não ser fácil para todos e, para Igor Pjörrt, a câmara começou por ser a sua nave voadora. Assim começou a série "Melancholy", um retrato adolescente da "frustração de crescer numa ilha pequena quando se tem ambições maiores", conta o jovem de 19 anos por e-mail ao P3. Foram esses desejos que o levaram, após o ensino secundário, a Lausanne, na Suíça, onde fez um ano de ensino preparatório especializado em cinema, e depois a Londres, onde há quatro meses começou uma licenciatura em cinema e televisão. Ele que, em criança, queria tornar-se astrónomo, viu no cinema o meio onde poderia ser "mais eloquente, dinâmico e criativo". A fotografia, porém, continua até hoje, mesmo a série "Melancholy", a sua maneira de voltar ao ponto de partida: "Ao finalmente tê-la abandonado [à Madeira], reconheci nela um carinho intemporal que trazia de volta os meus amigos e a minha família, e sobretudo uma profunda saudade." A galeria que publica no inclui também imagens de "Betelgeuse", um documetário visual íntimo da relação à distância de Igor com o seu namorado: "É uma série de fotos que funciona para mim, com o tempo, como um estudo sobre o complexo estado de estar apaixonado, esquecer-se do que nos foi ensinado e descobrir, em conjunto, as nossas próprias necessidades, desejos e excessos." Entrar no universo de Pjörrt, pseudónimo que criou aos 13 anos quando queria manter-se anónimo na Internet, também é assistir às dores de crescimento de uma geração e do que a move, nomeadamente a sexualidade, neste caso a de dois rapazes. Nas suas fotografias combate qualquer tipo de "censura e pudor", não para tornar o público "desconfortável", mas antes para expor sensações partilhadas por toda a gente "de uma maneira sincera e comovente". "Acho importante, especialmente perante um público português, ter uma discussão honesta e saudável sobre a sexualidade, não só a de pessoas heterossexuais, mas também a de quem se identifica com qualquer uma das letras da sigla LGBTQ+", diz Igor, para quem este assunto ainda é "visivelmente evitado pelas raízes conservadoras" do país. Mas algo está a mudar: "O pavor, a condenação e a humilhação provêm de uma enorme hipocrisia púdica que agora, felizmente, aparenta tornar-se obsoleta. O sexo e o afecto discutem-se mais abertamente entre as novas gerações, os nossos corpos pertecem-nos mais do que nunca e é através deles que saboreamos a vida em todos os aspectos."