“O nosso km2” resolve problemas sociais através de redes de vizinhança

Projecto, desenvolvido pela Fundação Calouste Gulbenkian, está a desenvolver redes de proximidade e vizinhança para resolver problemas como a solidão dos idosos e o desemprego

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“O nosso km2”

Implementado na freguesia das Avenidas Novas, em Lisboa, o projecto "O nosso km2" está a desenvolver redes de proximidade e vizinhança para resolver os problemas sociais existentes, desde a solidão dos idosos, o insucesso escolar e o desemprego.

A ideia é "ajudar as pessoas e as organizações a resolverem os seus próprios problemas", através da partilha de informação e de recursos existentes no mesmo território, disse à agência Lusa a responsável pelo projecto, Luísa Valle. Desenvolvido pela Fundação Calouste Gulbenkian, instituição sediada na freguesia das Avenidas Novas, "O nosso km2" surgiu há cerca de dois anos e pretende contribuir para a construção de uma comunidade participativa e actuante.

"É dentro das comunidades que se vai encontrar uma boa parte das soluções para a resolução dos problemas sociais", defendeu Luísa Valle, considerando que existe actualmente "uma sociedade de desperdício". Em Dezembro, foi organizado um mercado social segundo o modelo holandês Marketplace, que decorreu durante uma tarde, com o objectivo de ser "acelerador" do projecto. O Marketplace "O nosso km2" foi "a primeira grande iniciativa" de juntar no mesmo espaço empresas, organizações sociais e movimentos de cidadãos, de forma a "mostrar a uns e a outros que há uma realidade na rua do lado ou na sua própria rua que tem um conjunto de problemas ou que tem um conjunto de recursos que podem ser aproveitados ou usados", explicou.

Estado não chega aos problemas das pessoas

Entre consultoria, apoio jurídico, publicidade, voluntariado, formação, roupa, refeições, um armário, uma botija de gás e até a elaboração de um livro, o tipo de oferta foi "completamente variável", tendo obtido um impacto social de "cerca de 150 mil euros", afirmou o António Paisana, um dos responsáveis pelo modelo Marketplace em Portugal. Segundo a responsável pelo projecto, "hoje em dia não há recursos para que o Estado esteja presente em todas as problemáticas", acrescentando que, mesmo que existissem, "o Estado não tem vocação para chegar aos microproblemas, que são os problemas das pessoas".

"Isto implica uma alteração de comportamentos e implica sobretudo o estabelecimento de redes de vizinhança, redes afectivas e redes de confiança, que incluam as organizações, as empresas e as pessoas que vivem nesta zona", referiu Luísa Valle, directora do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano, admitindo que o processo é "muito lento". Entre os principais problemas identificados nesta freguesia lisboeta encontram-se a solidão da população idosa, o desemprego jovem e o feminino, além do insucesso escolar, informou.

"A solidão [dos idosos] é um problema gravíssimo e com impactos tremendos na comunidade", afirmou Luísa Valle, referindo que o projecto tem desenvolvido apoios no âmbito da segurança e das acessibilidades, assim como na organização de iniciativas de cultura e lazer. Para combater o desemprego, estão a ser aproveitados os recursos de universidades e de outras entidades da freguesia para desenvolverem formações para complementar as habilitações das pessoas desempregadas, particularmente de jovens e de mulheres, tentando "combinar necessidades de pessoas que estão desempregadas com necessidades de entidades que estão à procura de mão-de-obra" dentro deste território.

Em relação à questão do insucesso escolar, a responsável pelo projecto sublinhou que existem na freguesia dois agrupamentos escolares, um dos quais é o Agrupamento de Escolas Marquesa Alorna que integra o programa Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP), por existirem "problemas muito graves ao nível comportamental e ao nível do insucesso" dos alunos. Luísa Valle frisou que é importante melhorar o desempenho escolar das crianças, caso contrário "é todo o futuro delas que está hipotecado". O projecto tem um orçamento de cerca de 200 mil euros por ano, essencialmente para suportar os recursos humanos, disse a responsável, reforçando que "a ideia é encontrar os recursos dentro de si".

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