Uma visão positiva da produtividade laboral de Portugal

A produtividade agregada do trabalho desempenha um papel-chave no crescimento e nas teorias do ciclo económico. Nos modelos de crescimento económico, uma maior produtividade laboral permite alcançar padrões de vida mais elevados. As dinâmicas de produtividade laboral estão estreitamente associadas ao emprego e às flutuações salariais.

Em Portugal, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, a medida mais usual dos padrões de vida de uma nação, é de cerca de 17.300 euros, comparado com os cerca de 30.500 euros da Zona Euro (ZE). Por outras palavras, o PIB per capita em Portugal é 57% do PIB per capita da ZE. Todavia, as diferenças de preços entre países significam que são necessárias diferentes quantias em euros para os mesmos bens de consumo e serviços dependendo do país. Assim sendo, para que se faça uma comparação expressiva entre países os economistas criaram uma unidade monetária artificial, a Paridade do Poder de Compra (PPP). Teoricamente uma unidade PPP pode comprar a mesma quantidade de bens de consumo e serviços em todos os países. Tendo em conta estas diferenças nos níveis de preços entre países, o PIB per capita em Portugal é apenas 71,5% do PIB per capita da Zona Euro. Melhor do que comparando diretamente valores em euros mas, ainda assim, consideravelmente mais baixo. Este rácio era 73,2% em 1995. Em 20 anos, pouco se evoluiu em termos relativos. Estes factos sugerem um Portugal com um padrão de vida substancialmente mais baixo do que a Zona Euro e incapaz de se aproximar dos outros países. Esta evolução resulta de uma produtividade laboral mais baixa e que não conseguiu crescer para se aproximar do resto da Zona Euro.

Crescimento
A evolução do PIB per capita relativo à Zona Euro confirma que Portugal sofreu um pequeno aumento no fosso que o separa da Zona Euro. A produtividade laboral, medida como PIB por hora de trabalho, a medida-padrão da produtividade laboral de um país, aumentou ligeiramente mais depressa em Portugal do que na Zona Euro. A produtividade relativa de Portugal, que estava nos 59,2% da Zona Euro em 1995, está agora nos 61%. Por comparação, a produtividade relativa italiana diminuiu, passando de 107,8% para 90% ao passo que a produtividade relativa alemã cresceu de 112% para 116%. Já as horas relativas de trabalho por pessoa em Portugal eram 123,7% da Zona Euro em 1995 e 117,4% em 2014 e ajudavam a compensar com mais horas de trabalho as implicações de uma produtividade mais baixa no padrão de vida.

Mas há uma outra forma de apresentar os factos, olhando para as evoluções absolutas. Em Portugal, entre 1995 e 2014, o PIB por hora aumentou 26% ou aproximadamente 1,2% por ano. Durante o mesmo período o PIB por hora aumentou 1,05% por ano na Zona Euro. O lento crescimento da produtividade na zona euro, especialmente quando comparado com taxas de 2,5% por ano entre 1975 e 1995, constitui uma preocupação global. Os economistas avançam com muitas explicações, onde se incluem a maior lentidão no crescimento demográfico, o patamar educacional, o abrandamento do progresso tecnológico e até mesmo factores que tradicionalmente não eram associados a efeitos de longo prazo, como por exemplo uma desigualdade crescente e um maior endividamento. A maior parte destes factores são comuns a muitos países incluindo Portugal. A única exceção portuguesa óbvia é o patamar de educação.

Dentro da Zona Euro, Portugal tem a maior percentagem, 50,8%, de trabalhadores nos níveis de escolaridade baixos (níveis de 0-2). A transição educacional da composição da força de trabalho é impulsionada pela educação de grupos de jovens e pela saída dos mais velhos que têm um nível médio de instrução baixo. Os dados mostram que a transição de uma força de trabalho com baixa escolaridade para uma de média-alta escolaridade começou mais tarde em Portugal do que no resto da ZE. A percentagem de indivíduos com baixa escolaridade diminuiu substancialmente a partir de 1995, altura em que se encontrava nos 75%. Mas essa mesma percentagem continuava a ser de 70% em 2005, mostrando que o grosso da melhoria apenas ocorreu muito recentemente. Podemos concluir que a margem em termos de educação é um factor positivo para as perspetivas de produtividade do trabalho em Portugal. Isso não acontece em algumas economias mais avançadas que já atingiram, ou estão próximas, do patamar de educação mais elevado, uma situação em que a composição média de educação da força laboral é estável.

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Ciclo
Olhando para os dados a partir da recessão global, que teve início em 2008, vemos que o aumento do fosso no PIB per capita relativo à ZE se verificou durante esta crise. Os dados mostram que o PIB per capita (normalizado para 100 em 2008) diminuiu de forma semelhante em Portugal e na Alemanha durante a contração de 2008-2009 mas as dinâmicas do PIB por trabalhador durante o mesmo período registam marcadas diferenças entre os dois países. A produtividade laboral por empregado e por hora de trabalho manteve-se constante em Portugal durante a recessão de 2008/2009 (ver gráficos).

Em contrapartida, a produtividade laboral por empregado na Alemanha diminuiu acentuadamente e muito mais rapidamente do que a produtividade por hora. Os dados mostram que a produtividade agregada do trabalho por empregado em Portugal se mantém em declínio. Uma possibilidade é os salários nominais terem rigidez à descida, ou, relacionado, o número mensal de horas ser fixo. Isto sugere uma interpretação do facto de a reacção de Portugal à recessão ter sido, sobretudo, o aumento do desemprego, ao passo que na Alemanha isso aconteceu pela diminuição do número de horas de trabalho de cada por pessoa.

Crescimento e ciclo
A implicação a curto prazo de uma mais baixa produtividade por trabalhador é a tendência para que o desemprego cresça menos. Um elevado desemprego afeta desproporcionalmente os trabalhadores pouco qualificados e a exclusão de trabalhadores com baixa produtividade tende a fazer crescer a produtividade medida. Isso talvez explique por que é que a segunda maior e mais longa queda do PIB per capita em Portugal entre 2011 e 2013 seja acompanhada por um aumento de produtividade por trabalhador e por hora. As implicações a longo prazo são menos certas mas talvez uma elevada taxa de desemprego possa levar alguns trabalhadores a abandonar permanentemente ou a tornarem-se inúteis para o mercado de trabalho. Em suma, a produtividade laboral é extremamente importante para explicar o desempenho macroeconómico mas a sua interpretação tem de ser feita com cuidado dada a enorme quantidade de factores económicos que estão por detrás de um simples número.

É expectável que a mudança educacional que está a ocorrer em Portugal possa melhorar a produtividade laboral e, em consequência, os níveis de qualidade de vida no futuro, o que é positivo. Contudo, a produtividade no país parece apresentar uma rigidez descendente durante a recessão, o que pode ser negativo, especialmente, se implica um aumento do emprego de longa duração pouco qualificado.

Professor assistente na Nova School of Business and Economics

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