Portugal importou mais 14% de crude e pagou menos 26%
De Janeiro a Novembro de 2015, a queda dos preços do petróleo conduziu a economia portuguesa a forte poupança na factura desta matéria-prima. Também comprou muito mais.
Portugal está a comprar mais petróleo, a gastar muito menos dinheiro com isso e a diversificar os mercados onde se abastece, diminuindo a dependência de Angola e de outros grandes fornecedores.
Num cenário de queda acentuada da cotação do crude, de alguma descida do preço dos combustíveis e de subida da confiança dos consumidores, as importações de petróleo bruto cresceram significativamente em 2015. Porém, com o preço do barril a deslizar para valores mínimos de mais de uma década, a factura paga pelos importadores portugueses acabou por ser muito mais reduzida do que no ano anterior.
Até Novembro do ano passado (os dados disponíveis ainda não incluem Dezembro), Portugal tinha comprado ao estrangeiro mais 14% de petróleo bruto (que representa a maioria destas importações, às quais se somam os produtos refinados) do que em 2014. Em sentido inverso, os pagamentos desceram 26% em relação aos 11 meses do ano anterior. Ao todo, foram pagos 4592 milhões de euros por 12,7 milhões de toneladas de petróleo, de acordo com dados da Direcção Geral de Energia e Geologia.
Os números mostram também que, no ano passado, Portugal importou petróleo bruto a três países que estavam ausentes da lista de 2014: Gabão, México e Noruega foram os novos mercados fornecedores, embora todos tenham tido pouco peso nas contas. Esta diversificação foi acompanhada por um menor volume de compras a Angola, o principal fornecedor português e uma das várias economias no mundo que mais se ressente com o excesso de oferta de crude.
Há dois anos, o petróleo angolano representava aproximadamente um quarto do total de importações portuguesas, tanto em termos de quantidade, como de valor: 2,9 milhões de toneladas e 1531 milhões de euros entre Janeiro e Novembro de 2014. Já em 2015, aquele país passou a significar um quinto do total, com as importações a Angola a ficarem-se pelo 1017 milhões de euros. Os restantes grandes fornecedores de petróleo a Portugal – como é o caso da Arábia Saudita, Cazaquistão e Azerbaijão – também viram as respectivas quotas diminuir.
Impacto no combustível
A cotação do petróleo pressionou o preço dos combustíveis nas bombas portuguesas, embora sem reflectir directamente a descida abrupta observada no custo da matéria-prima. Ao longo de 2015, o preço dos combustíveis em Portugal foi subindo gradualmente até ao Verão, altura em que começou uma trajectória descendente. No início desta semana, o preço médio do gasóleo, no território continental, ficava oito cêntimos abaixo do mesmo período de 2014. Pelo contrário, a gasolina estava quase três cêntimos mais cara.
O petróleo é apenas um dos componentes do preço final dos combustíveis, para o qual contribuem, por exemplo, os custos de refinação, de transporte e os impostos. No caso português, estes representam 65% do preço final da gasolina e 57% do gasóleo, abaixo da média da União Europeia, que é de 68% e 63%, respectivamente. Também a desvalorização do euro face ao dólar (a divisa em que o petróleo é comprado a nível internacional) atenuou para os consumidores o efeito da quebra. O esboço do Orçamento do Estado para 2016 prevê um agravamento da carga fiscal sobre os combustíveis que fará subir os preços em 4 cêntimos para o gasóleo e 5 cêntimos para a gasolina (ver texto nas páginas 6/7).
O consumo acelerou no ano passado, ainda que de forma ligeira. Até Novembro, a procura por gasolina subiu 1% em relação a 2014, enquanto o gasóleo cresceu 3%.
Os tempos de crude barato parecem estar para durar. Nesta semana, o Banco Mundial estimou um preço de 37 dólares por barril de crude para este ano, uma forte revisão em baixa das previsões que tinha feito há dois meses, quanto apontara para um preço de 51 dólares. A instituição justificou a descida com factores tanto do lado da oferta, como da procura.
Por um lado, os preços estão a sentir o impacto do abrandamento das economias emergentes, em particular da China, que é o segundo maior consumidor de petróleo do mundo, a seguir aos EUA. Em Novembro, as importações chinesas de petróleo cresceram 1,5% em relação ao mesmo mês de 2014, naquela que foi a menor subida desde Fevereiro do ano passado. Também um inverno moderado no hemisfério norte contribuiu para uma menor procura.
É, no entanto, o lado da produção que acentua o problema do excesso de oferta: a exploração nos EUA segue a bom ritmo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo decidiu não baixar os limites de produção (apesar das muitas tentativas de uma Venezuela com falta de liquidez) e, já este mês, o levantamento das sanções económicas ao Irão significa que este país pode voltar a exportar para os mercados ocidentais. O primeiro cliente foi a maior refinaria grega.
Antecipar o preço do barril, porém, tem sido um exercício com resultados diversos. O patrão da petrolífera BP estimou este mês um valor mais optimista para a indústria do que o do Banco Mundial. Bob Dudley disse esperar um primeiro semestre de grande volatilidade, com valores entre os 30 e os 40 dólares, e uma subida na segunda metade do ano que, afirmou o executivo, poderá levar o barril aos 50 dólares (em meados de 2014, estava acima de 100 dólares). Há apenas três meses, Dudley falava em 60 dólares por barril.