SAG Awards põem DiCaprio a caminho dos Óscares, mas diversidade foi o tema da noite

Guilda de actores dos Estados Unidos elege Spotlight, Di Caprio e Brie Larson como vencedores da noite. Mas nos SAG Awards, como na gala de premiados do festival de Sundance, a discussão sobre a falta de diversidade em Hollywood que tomou a dianteira.

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Leonardo diCaprio e no novo filme do menino querido dos Globos e dos Óscares: O Renascido, de Alejandro González Iñárritu DR

Considerados como (mais) uma das antecâmaras para a atribuição dos Óscares de Hollywood, a entrega dos Screen Actors Guild Awards de 2016 voltou a deixar poucas dúvidas que este é o ano da consagração de Leonardo Di Caprio. Ainda falta um mês para os Óscares, mas a imprensa norte-americana já se começa a questionar como é que o actor de O Renascido irá conseguir surpreender no discurso dos Óscares. Ao mesmo tempo que também há quem escreva: já não era sem tempo.

Contudo, num momento em que se discute a falta de diversidade manifestada pelas escolhas da Academia de Hollywood, reflexo das nomeações para os próximos Óscares, a cerimónia dos SAG Awards acabou por ser palco para a continuação do debate. “Senhoras e senhores, bem-vindos à TV da diversidade”, exclamou o britânico Idris Elba, distinguido como melhor actor secundário pelo filme da Netflix Beasts of No Nation e como melhor actor em filme televisivo/mini-série por Luther, da BBC América.

A declaração foi suportada não só pelos dois prémios que recebeu, mas pelas distinções de Viola Davis, Queen Latifah e Uso Aduba na cerimónia. Esta última foi premiada como melhor actriz de comédia pelo seu trabalho em Orange is the New Black. A produção da Netflix, vencedora pelo segundo ano consecutivo na categoria série cómica, é considerada uma representação feliz da diversidade de olhares, origens culturais, orientações sexuais e faixas etárias que se encontra no mundo real e que uma Hollywood dominada por “homens brancos idosos”, como vem sendo denunciado, parece ignorar.

“Olhem para este palco. É disto que falamos quando falamos de diversidade”, afirmou uma das estrelas da série, Laura Prepon, quando discursou ao receber, em nome de todo o elenco, disposto atrás de si, o prémio atribuído à série.

Queen Latifah, melhor actriz em série/filme televisivo, pela sua interpretação de Bessie Smith, a “imperatriz do blues”, em Bessie, da HBO, considerou, em declarações à Variety nos bastidores da cerimónia que, tal como aconteceu no universo televisivo, “a mudança é inevitável” também no mundo cinematográfico americano. “Penso que, em parte, já está a acontecer, mas o público tem que continuar a exigi-lo. Vivemos numa sociedade capitalista, portanto, esperemos que a lei da oferta e a procura se imponham”, disse, antes de acrescentar: “Espero que acordemos e percebamos que a velha forma de fazer as coisas é velha e que é bom evoluir”. Como apontou Lea DeLaria, uma das actrizes de Orange is the New Black”, “há cinco anos não estaríamos a ter esta discussão. E o facto de estarmos a ter esta discussão é uma vitória para os bons”.

Os SAG Awards, atribuídos pela Guilda de Actores dos EUA, distinguiram Leonardo DiCaprio como melhor actor pela sua interpretação em O Renascido, de Alejandro G. Iñárritu e a distinção para melhor actriz principal foi entregue a Brie Larson, em The Room. O filme Spotlight recebeu o prémio para o melhor elenco numa longa-metragem. Nas categorias de interpretação secundária, os prémios de melhor actor foram entregues ao já citado Idris Elba, pela sua interpretação em Beast of no Nation e a Alicia Vikander, emThe Danish Girl.

Kevin Spacey, em The House of Cards  mereceu o prémio de melhor actor masculino numa série de drama, e o prémio feminino, na mesma categoria, foi para Viola Davis, pela sua interpretação em How to Get Away With Murder. Nas séries de comédia, o prémio de melhor actor foi para Jeffrey Tambor, emTransparent. Nos prémios colectivos de televisão, além do já referido atribuído a Orange is the New Black, a série Downton Abbey mereceu a distinção de melhor elenco em série de drama (destronando as também nomeadas Game of ThronesHouse of CardsHomeland ou Mad Men).

Mas este sábado não foi só o universo televisivo que prosseguiu o debate em curso sobre a falta de diversidade em Hollywood. O cinema independente fez-se ouvir desde Park City, no Utah, onde decorreu a gala de premiados do festival de Sundance. O grande vencedor foi The Birth of a Nation, realizado, protagonizado e produzido por Nate Parker, distinguido com o galardão do grande júri e com o prémio do público.

O filme, que partilha título com a tão mítica quanto controversa obra de 1915 de D. W. Griffith, cujos contornos racistas provocaram à época um ressurgimento do Ku Klux Klan, conta a história da uma revolta de escravos no sul dos Estados Unidos, em 1831, liderada por Nat Turner. “Obrigado, Sundance, por criares uma plataforma para nós crescermos, ao contrário do que Hollywood está a fazer”, afirmou Parker no palco da cerimónia. The Birth of a Nation venceu também nos bastidores: durante o festival, foi anunciada a compra dos direitos de distribuição, pela Fox Seachlight, pelo valor recorde de 17,5 milhões de dólares (cerca de 16,1 milhões de euros).

Além de Nate Parker, também o realizador afro-americano Roger Ross Williams, premiado como melhor realizador de documentário americano por Life, Animated, deu a sua bicada em Hollywood. “Nesta era de ‘#OscarsSoWhite’ [‘#ÓscaresTãoBrancos’, a hashtag que tem corrido as redes sociais] e de diversidade, quero agradecer a Sundance por me ter distinguido”.

Entre os restantes premiados em Sundance destacam-se Swiss Army Man (melhor realização para Daniel Scheinart e Daniel Kwan), estreado no festival, protagonizado por Daniel Radcliffe e que tem dividido opiniões. “Sim, somos o filme com um cadáver flatulento e, sabe-se lá como, ainda conseguimos vencer este prémio”, disse um Daniel Kwan bem-humorado.

O prémio do grande júri para melhor documentário americano foi para Weiner, de Josh Kriegman e Elyse Steinberg, sobre um antigo congressista americano caído em desgraça. O público preferiu, por sua vez, Jim: The James Foley Story, filme biográfico de Brian Oakes dedicado ao fotojornalista assassinado pelo Daesh em 2014. No que diz respeito aos filmes documentais estrangeiros, júri e público estiveram de acordo: Sonita, de Rokhsaresh Ghaem Maghami, sobre uma jovem afegã a viver no Irão que descobre que a família planeia vendê-la como noiva a um homem desconhecido e que sonha ser uma estrela hip hop, foi o vencedor em ambas as categorias. O polaco Michal Marzack foi distinguido como melhor realizador de documentário por All These Sleepless Nights.

O prémio de melhor filme estrangeiro foi para Sand Storm, do israelita Elite Ziker, enquanto o público preferiu Between Sea and Land, dos colombianos Manolo Cruz e Carlos del Castillo. O melhor realizador foi Felix van Groeningen, por Belgica.

 

 

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