Portugal e Brasil: países irmãos?

Fora do âmbito político-diplomático, a impressão que se tem é que brasileiros e portugueses estão muito distantes

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Pilar Olivares/Reuters

Quando, em 1500, o português Pedro Alvares Cabral chegou às novas terras tropicais do continente sul americano, mal podia imaginar que ali se ergueria a maior nação lusófona do mundo. E foi assim que o Brasil deu os seus primeiros passos rumo aos cinco séculos de relação com Portugal. Dois povos unidos, não somente pela ancestralidade luso-brasileira, mas por uma história em comum, pela cultura e pela língua portuguesa. A atual relação entre os dois países é considerada privilegiada, já que mantém diversos acordos de cooperação em diferentes áreas. São ações coordenadas em questões político-diplomáticas, bem como econômicas, culturais, jurídicas e científicas.

É interessante observar, apesar de tudo, que a relação Brasil-Portugal poderia ser muito maior do que atualmente é. Fora do âmbito político-diplomático, a impressão que se tem é que brasileiros e portugueses estão muito distantes. Não somente pela distância física; é como se nutrissem ressentimentos mútuos, além de questões históricas mal percebidas por ambos os povos. Para o jornalista português Carlos Fino, também conselheiro de imprensa na Embaixada de Portugal no Brasil, em artigo de 2012, a realização do evento Ano do Brasil em Portugal, foi o momento para uma oportuna reflexão sobre os dois países.

Para ele, as relações entre Brasil e Portugal, embora marcadas por enormes progressos, ainda são pautadas pelo sentimento de estranheza, que a retórica oficial da fraternidade com base no sangue, na língua e na história comuns, tenta disfarçar ou em nada contribui para ultrapassar. O português José Fernandes Fafe, em seu livro A Colonização portuguesa e a emergência do Brasil, afirma que “indignados” são os portugueses “convencidos” de terem realizado a melhor das colonizações. Sobre os problemas derivados da colonização portuguesa, os que os brasileiros devem fazer é utilizar tais informações para se conhecerem cada vez mais, sem desprezar sua história e origem. Mas sim, utilizando-as como ponto de partida para corrigir aquilo que considerem prejudicial para a sociedade.

Carlos Fino também aponta que a colonização portuguesa deixou heranças positivas ao Brasil e cita o fato do país ser imenso e rico, unificado sob a mesma língua e que soube evitar a fragmentação da América hispânica. Fino tem razão sob essa questão e pode-se acrescentar a essa herança a noção de país, que ocorreu em 1815, com a elevação do Brasil à condição de Reino unido de Portugal e Algarves. Além da mudança da sede do Império português para o Rio de Janeiro, dotando o Brasil de um aparelho de Estado, que anos depois viria a funcionar para o futuro novo país, com sua independência em 1822. Dentre tantas polêmicas, encontra-se a língua portuguesa, um grande e indissolúvel elo entre as duas nações. Recentemente muito debatida, por conta do novo acordo ortográfico, que unificou o registro escrito do idioma.

Para Laurentino Gomes, no livro 1822, apesar das divergências do passado e das incertezas de um futuro, Brasil e Portugal tem conseguido manter e reforçar, com relativo sucesso, seus laços ancestrais. Gomes dá destaque para a cultura brasileira que é bastante consumida e apreciada em Portugal, sobretudo a música, o cinema e as telenovelas. “[...] dois séculos depois, o sonho do Reino Unido [...] se mantém vivo. É um reino menos formal do que o imaginado por D. João VI, D. Pedro I e José Bonifácio de Andrada e Silva, porém mais sólido e duradouro porque tem suas raízes plantadas na língua e na cultura que sempre funcionaram como a identidade entre esses dois povos”, destaca Gomes.

Este texto foi adaptado da dissertação de Mestrado “A Imagem do Brasil na mídia impressa portuguesa: um estudo do caso Diário de Notícias e Público ”, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Brasil, 2014.

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