Ligação da TAP Lisboa-Vigo é “dramática” para o Porto

Executivo da Câmara do Porto insiste que TAP pretende abandonar o Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Companhia aérea esvazia acusações

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Junta quer garantir que aeroporto Sá carneiro continua ao serviço da região Norte Nelson Garrido

O desagrado com a estratégia da TAP para o Porto continua a subir de tom e o plano estratégico da companhia aérea voltou a merecer duras críticas do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, acompanhado dos vários membros da vereação, durante a reunião do executivo desta terça-feira. O autarca classificou a nova ligação Lisboa-Vigo como “dramática” e o socialista Manuel Pizarro disse mesmo que a anunciada “ponte aérea” entre Lisboa e o Porto “não tem outro objectivo que não retirar passageiros do Porto”. “Suspeito e temo o pior”, confessou Rui Moreira.

Ricardo Valente, eleito pelo PSD, foi o primeiro a levar o tema TAP para a reunião, questionando Rui Moreira sobre se este sabia qual tinha sido o sentido de voto dos representantes do Estado na aprovação do plano estratégico que, entre outras coisas, ditou o fim das ligações aéreas da companhia aérea portuguesa do Porto para Barcelona (Espanha), Bruxelas (Bélgica), Roma e Milão (Itália). “O Porto merece uma explicação. O conselho de administração da TAP tem representantes do Estado, que votaram este plano estratégico. Como votaram? E comunicaram à tutela?”, questionou. Rui Moreira – que já defendera que a avaliação da relação da TAP com o Porto é diferente caso a empresa se mantenha privada ou volte a ser pública – admitiu que as perguntas do vereador eram “legítimas” e que iria “tentar saber” o que acontecera.

Mas, com o assunto em cima da mesa, o autarca não perdeu oportunidade de voltar a criticar duramente a estratégia da TAP. Confirmando a sua preocupação com o fim da ligação aérea a Milão, Rui Moreira centrou-se, desta vez, no que chamou do “segredo mais bem guardado” pela companhia aérea – a ligação Lisboa-Vigo. “Isto é dramático. Todo o tráfego da Galiza é retirado do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, o que vai fazer com que daqui a um tempo se parem com as ligações intercontinentais. Está-se a reduzir o hinterland para depois justificar o fim das ligações intercontinentais, concretizando-se o que a TAP está a fazer há doze anos, que é destruir o aeroporto do Porto”, acusou o autarca.

“Não consigo compreender como se considera estratégica a ligação Vigo-Lisboa, parecendo claramente uma intenção de transformar Lisboa na plataforma portuguesa, eliminando o Porto”, concordou Ricardo Valente, enquanto Pedro Carvalho, da CDU insistia que “a TAP tem de continuar na esfera pública e a fazer um serviço público”. Para o comunista a “gestão ruinosa” da TAP, a que se refere Rui Moreira “não decorre de uma política errada, mas de uma política deliberada, para servir alguns interesses, nomeadamente os da privatização”.

Manuel Pizarro e Carla Miranda também juntaram as suas vozes às críticas à TAP, com a segunda, actual deputada pelo PS, a garantir que “alguns deputados eleitos pelo Porto já questionaram o Governo sobre o que pretende fazer e se conhecia a suspensão destas linhas”. Já Pizarro defendeu que a ideia “caritativa da ponte aérea” entre o Porto e Lisboa tem um único objectivo: “É drenar o tráfego do Aeroporto Francisco Sá Carneiro para o Aeroporto de Lisboa”.

Confrontada pelo PÚBLICO com estas acusações, fonte oficial da empresa esvaziou as polémicas relativas a como votaram ou deixaram de votar os administradores, referindo que as decisões veiculam todo os elementos. "As decisões são do Conselho de Administração da TAP e ponto final", afirmou, para logo recusar que haja uma estratégia de esvaziamento do aeroporto do Porto. "O tráfego da Galiza continua a ter o mesmo produto no aeroporto Sá Carneiro, em especial o transporte terrestre disponibilizado pela TAP e que liga Vigo a este aeroporto", referiu a mesma fonte, garantindo não pretender descontinuar este serviço. "Com os voos Vigo/Lisboa [a TAP] pretende dar resposta à procura existente de ligações entre as duas cidades, tanto directas como para utilização do hub de Lisboa nos casos em que o destino final é outro. Pretende-se, apenas, servir melhor o passageiro, nas situações em que o seu destino final não é servido directamente a partir do Porto. Desta forma oferecemos-lhe um produto mais competitivo, poupando-lhe uma viagem desnecessária, e evitando que ele possa ser atraído para outro hub fora de Portugal evitando o troço Porto/Lisboa", explica o porta-voz da transportadora.

À reunião do executivo desta terça-feira também regressaram as queixas dos moradores da Baixa contra o excesso de ruído e os problemas de segurança e limpeza provocados pela animação nocturna. Uma moradora da Travessa de Cedofeita, que disse ter “medo” de viver sozinha num edifício abandonado por todos os outros moradores, ouviu o vereador do Comércio e Turismo, Manuel Aranha, dizer que vai “sugerir” que a artéria seja abrangida pelo alargamento em curso das ruas da cidade que estão sujeitas ao Regulamento da Movida do Porto. Angelina Simões, que gere uma hospedaria na Rua da Conceição, garantiu que para ela era tarde demais.

A mulher, que tem sido uma das vozes mais activas nas críticas ao desassossego de que padecem os moradores, garantiu que não consegue manter mais a hospedaria que acolhe várias pessoas com problemas psiquiátricos e que vai “entregar o edifício à senhoria”. “Eu vou-me embora porque a câmara não me quis ajudar”, queixou-se, depois de Rui Moreira lhe ter permitido intervir, apesar de não ter podido inscrever-se para o fazer. *com Luísa Pinto

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