Portugal volta a ser ultrapassado pela China na liderança de vendas para Angola

Quota de mercado da China passou para 18,5% do total no terceiro trimestre, contra os 16% de Portugal. França foi o maior comprador de petróleo angolano.

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Entre Janeiro e Setembro do ano passado, a China exportou para Angola bens no valor de 89.819 milhões de kwanzas, contra os 77.792 milhões de Portugal. AFP/Peter Parks

A China vendeu mais produtos do que Portugal para o mercado angolano no terceiro trimestre do ano passado, retomando assim a liderança enquanto fornecedor. Historicamente, as empresas portuguesas têm detido a primazia na exportação de produtos para Angola, mas a tendência foi quebrada no primeiro trimestre de 2015, altura em que foram ultrapassadas pelas suas congéneres chinesas. Depois, no segundo trimestre, Portugal recuperou o primeiro lugar, mas por pouco tempo.

De acordo com os dados agora divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) de Angola, entre Junho e Setembro o maior fornecedor deste país foi a China, relegando de novo Portugal para segundo plano.

Os dados do INE mostram que, no terceiro trimestre do ano passado, Angola importou da China produtos no valor de 89.819 milhões de kwanzas (cerca de 535 milhões de euros, ao câmbio actual), ficando 38,8% abaixo do valor de idêntico período de 2014, mas 18,5% acima do trimestre anterior. Já as compras a Portugal foram de 77.792 milhões de kwanzas, uma quebra de 54,6% face a 2014 e mais 16% em relação aos três meses anteriores.

Assim, e de acordo com os últimos dados trimestrais, a quota de mercado da China passou para 18,5% do total, contra os 16% de Portugal.

Olhando para os primeiros nove meses, verifica-se que as empresas chinesas (que muitas vezes contam com fortes apoios do Estado, nomeadamente ao nível de financiamentos, mesmo quando não são empresas públicas) estão a alargar a distância face às portuguesas. Entre Janeiro e Setembro, a China exportou para Angola bens no valor de 89.819 milhões de kwanzas, contra os 77.792 milhões de Portugal.

França dispara compras de petróleo angolano
Curiosamente, os dados do INE mostram que no terceiro trimestre de 2015 o lugar de maior cliente de Angola, que tem sido ocupado pela China, coube a França. As importações de petróleo angolano por parte deste país europeu chegaram aos 678.458 milhões de kwanzas, disparando 780% face a idêntico período de 2014. Para a China, cujo crescimento económico está a perder velocidade, foram barris avaliados em 414.372 milhões (menos 44,6%).

Os dados do INE não dão qualquer informação que permita entender se este movimento francês é algo episódico ou reflecte uma nova relação entre os dois países. No início de Julho do ano passado, o presidente francês, François Hollande, fez uma visita oficial a Luanda, onde foi recebido pelo presidente angolano, José Eduardo dos Santos (que tinha ido a Paris em Abril de 2014).

Sectores mais afectados
O forte arrefecimento na importação de bens por parte de Angola está ligado ao baixo preço do petróleo, que conduziu a uma redução de divisas estrangeiras e gerou impactos negativos na economia local. A crise económica, que provocou uma compressão da procura em 2015, deverá manter-se (pelo menos) este ano.  

O maior volume de importações por parte de Angola incide sobre sectores como máquinas e aparelhos e bens alimentares. Assim, percebe-se que sejam as empresas portuguesas que operam nestes sectores, e que apostaram neste mercado, quem mais está a sentir os impactos da crise angolana.

Conforme já noticiou o PÚBLICO, nos primeiros dez meses do ano passado as vendas de produtos como máquinas e aparelhos e os bens alimentares foram as que mais sofreram em valor, caindo, em conjunto, 376 milhões de euros face a idêntico período do ano passado. Este valor corresponde a 45% do total, que, segundo os dados do INE português, caiu 834 milhões de euros.

Só as empresas que exportam máquinas e aparelhos para o mercado angolano viram as vendas encolher 228 milhões de euros (-33,5%), enquanto no caso das empresas de produtos alimentares o impacto foi de 148 milhões (-35,4%).  

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