São João da Madeira vai a votos no domingo para que nada fique igual

Eleições intercalares marcadas depois da renúncia do presidente da câmara, que alegou não ter condições para governar. Seis candidatos estão na corrida.

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A oposição diz que as justificações do autarca para a renúncia ao mandato são “um embuste” Adriano Miranda

Em Outubro do ano passado, o presidente da Câmara de São João da Madeira renunciou ao cargo acusando a oposição de bloquear projectos. Sem maioria, Ricardo Figueiredo e os elementos da sua lista provocaram eleições intercalares que viriam a ser marcadas para 24 de Janeiro, domingo próximo. O PS e o Movimento Independente São João da Madeira Sempre, presentes no executivo, contestaram as críticas e acusaram o presidente da câmara de fugir às suas responsabilidades. Nas eleições de domingo, há seis candidatos e muitas promessas. E todos querem que nada fique na mesma.

Ricardo Figueiredo renunciou, recandidata-se como independente, com o apoio do PSD e do CDS-PP, e pede maioria absoluta. Acredita que nada ficará igual. “Tenho total confiança na capacidade dos sanjoanenses decidirem o seu próprio futuro”, diz. Tem cartazes em sítios específicos para lembrar que “naquele local havia um projecto chumbado pela oposição”. Promete “desbloquear” a cidade e “repor a normalidade”, ou seja, concretizar as tais obras chumbadas, como as piscinas desenhadas por Souto Moura. Não se arrepende de ter renunciado ao cargo. “Foi a decisão certa comprovada, ao longo de dois anos, por uma oposição negativa que de forma deliberada, reiterada e consciente procurou bloquear a acção do presidente da câmara”. “Provoquei eleições porque não tinha condições para governar e defender os interesses dos sanjoanenses”. Ricardo Figueiredo acredita na vitória. “Se não tiver maioria, tenho uma derrota”.  

O PS está confiante que, desta vez, ganhará as eleições e olha para as justificações de Ricardo Figueiredo como “um embuste”. “Das 931 deliberações, aprovámos 916, aprovámos os planos e orçamentos de 2014 e 2015, principais instrumentos de gestão de um município”, recorda Luís Ferreira que volta a encabeçar a lista “rosa”. “Estamos muito confiantes de que ganharemos as eleições e não colocamos outro cenário”. O PS governará com ou sem maioria. “Se não nos derem maioria, governaremos em minoria, gerando os consensos necessários à governabilidade de um concelho, o que não é inédito no país. O que é inédito é uma câmara ter plano e orçamento aprovados e demitir-se por não ter condições para governar”. O candidato socialista aponta o dedo a Ricardo Figueiredo. “Pela falta de disponibilidade de tempo e de vontade para gerar consensos é que chegámos a esta situação”.

Jorge Lima, único elemento eleito pelo Movimento Independente São João da Madeira Sempre, recandidata-se e também acredita na vitória. “O movimento independente, constituído por cidadãos sem nenhuma filiação ou interesse partidário, só pode querer o melhor para todos os sanjoanenses, incondicionalmente, e, por isso, concorre para ganhar”, refere. Continua a não perceber os motivos que conduziram às intercalares. “Esta situação é absurdamente ilegal. Fui eleito pelo povo, por sufrágio universal, e não é democrático que um terceiro faça com que perca o meu mandato”, comenta. Na sua opinião, as explicações para a renúncia são “um conjunto de jogos políticos que não têm nenhuma justificação”.

Jorge Cortez, o candidato que mais vezes concorreu à câmara sanjoanense, na primeira tinha 27 anos, agora tem 60, é o cabeça-de-lista da CDU. Eva Braga, que fez parte da assembleia municipal, é a candidata do BE. O Partido Nacional Renovador (PNR) apresenta-se pela primeira vez nas autárquicas em São João da Madeira, José Almeida Pereira dá a cara pelo partido.

PSD dá medicamentos, PS oferece manuais escolares
Se ganhar, Ricardo Figueiredo executará os projectos que acusa a oposição de travar, como as piscinas de Souto Moura, a reabilitação dos prédios de habitação social, a construção de um balneário para apoio a projectos de integração social e de um campo de futebol para os escalões jovens da Academia dos Campeões Sanjoanenses. Comparticipar a 100% a compra de medicamentos a idosos carenciados, introduzir um factor de 10% de dedução nas rendas sociais, revitalizar o centro cívico com mais estacionamentos e pólos de atractividade para crianças e famílias, dinamizar o mercado municipal, construir a Sanjotec 3 para reforçar a economia e criar emprego, avançar para a terceira fase do Parque Urbano do Rio Ul, são outras propostas.

O PS insiste que o concelho precisa de alguém a tempo inteiro e em dedicação exclusiva. “Só a falta de tempo do ex-presidente explica a demissão em bloco do PSD, provocadora das eleições e com prejuízos evidentes para a cidade”. O PS quer que o município recupere a centralidade e promete apresentar uma candidatura de São João da Madeira com as Terras de Santa Maria à Capital Europeia da Cultura em 2027. O PS quer que o ensino superior chegue à cidade e promete um vale de 500 euros por cada criança nascida de mãe sanjoanense e que habite no município – quantia que tem de ser utilizada no comércio local. Promete manuais escolares gratuitos até ao 6.º ano, retirar o amianto das escolas e das habitações sociais, e exigir os serviços que o hospital perdeu.

A reabilitação urbana é a principal prioridade para o movimento independente. A ideia é abranger toda a cidade, edifícios da câmara, equipamentos desportivos, piscinas municipais, áreas habitacionais. No seu programa, está a redução dos impostos municipais em 20%, a reabilitação de habitações sociais desocupadas, bem como a municipalização da distribuição de água e do estacionamento à superfície.

A CDU garante que não aparece só porque há eleições. “Somos um colectivo aberto à comunidade em que nos inserimos, somos sanjoanenses interessados no desenvolvimento da nossa terra”, refere Jorge Cortez. Lutar pela requalificação da linha do Vale do Vouga, pela reposição do Hospital Distrital de São João da Madeira, desligando-o do Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga, e pela diminuição do preço das portagens na A-32 estão nas propostas da CDU que promete ainda ponderar a municipalização da água e melhorar o sistema de transportes. Para o BE, São João da Madeira merece mais e melhor, é esse o seu slogan, e promete descer a factura da água em sete euros, afectar pelo menos 5% do orçamento à área social, ter uma companhia residente da Casa da Criatividade, garantir que o hospital recuperará valências perdidas, relançar o comércio através de uma bolsa de arrendamento de lojas a custos controlados.

O PNR promete “trabalhar para servir a cidade e os seus habitantes” e assume, nas suas propostas, alienar o património municipal não afecto a qualquer função relevante, rever o Plano Director Municipal, ajustar as tarifas de água, punir a pintura de grafittis, “impedir qualquer possibilidade de vinda dos chamados ‘refugiados’ para o nosso concelho”, e impedir o comércio chinês no centro histórico.

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