José Manuel Neto mostra a voz singular da sua guitarra no palco do CCB

Um dos mais disputados guitarristas portugueses apresenta-se esta sexta-feira a solo, com convidados, no ciclo Há Fado no Cais, no CCB.

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"Vou tocar aquilo que foi o meu percurso, com a distância de ter chegado até aqui” DR/CAIXA ALFAMA

O segundo concerto do ciclo Há Fado no Cais, que até final do ano levará ao CCB, em Lisboa, vários fadistas, tem hoje como protagonista José Manuel Neto, um dos mais disputados e talentosos guitarristas das novas gerações do fado. A solo, vai lançar este ano o seu primeiro disco. Mas, em gravações ou em palco, tem corrido mundo ao lado de vozes como as de Carlos do Carmo, Camané, Ana Moura, Aldina Duarte, Cristina Branco, Mísia ou Mariza. Nascido em Lisboa, a 29 de Outubro de 1972, filho da fadista Deolinda Maria, começou a tocar guitarra portuguesa aos 15 anos. Este espectáculo é um olhar pessoal sobre o seu percurso no fado. Com ele, no palco, estarão Carlos Manuel Proença, na viola, Daniel Pinto, no baixo, e três convidados: Rão Kyao, na flauta, e os fadistas António Rocha e Ricardo Ribeiro, vozes de distintas gerações.

“O António Rocha [hoje com 77 anos] foi uma das primeiras pessoas com que eu gravei e é um fadista como já não há, da antiga geração. O Ricardo [com 34 anos] representa aqui a nova geração. E o Rão Kyao (já tocamos há muito tempo juntos) mostra como o fado não é necessariamente só cantado, também pode ser tocado. Ele utiliza a flauta como uma voz, e é o que eu tento fazer na guitarra.” José Manuel Neto podia ter escolhido muitos nomes, tantos foram aqueles com quem tocou ao longo dos anos. Mas no contraponto com António Rocha, escolheu Ricardo Ribeiro. “Da nova geração, é o que tem a tradição mais presente e é mais inovador, ao mesmo tempo. Não estou a falar do Camané, que é de outra geração e é outra coisa. Mas desta geração não conheço ninguém que tenha a tradição tão presente e que seja tão para a frente.”

O repertório que compõe o espectáculo é variado. “Haverá”, diz José Manuel Neto, “alguns temas dos grandes compositores e guitarristas antigos, caso do Jaime Santos, do José Nunes, do Armandinho… Que eu sinto um bocado à minha maneira, porque isto do fado, se não lhe metermos o nosso cunho pessoal, fica um bocado limitado.” Mas vão tocar também temas do disco que está para sair, mas não da autoria dele, embora já tenha “uns quantos na caixa”. Ficarão para um próximo disco. “Esse talvez seja só de instrumentais meus. Mas agora vou tocar o que toquei durante muito tempo, aquilo que foi o meu percurso, com a distância de ter começado e ter chegado até aqui.”

Nos temas que ele agora toca, há uns que não são do repertório da guitarra portuguesa, “compostos por músicos de outras áreas, caso do Carlos Bica, do Tiago Machado e do Valter Rolo. E há um tema que não foi gravado, ou terá sido só uma vez, de um violista chamado Eduardo César, Valsa Eduardina. O resto é tudo guitarradas instrumentais.” Há temas destes que estarão no concerto e no disco, outros apenas no concerto.

A arte da guitarra, foi-a aprendendo com os mestres. “Sou novo, mas ainda sou do tempo em que identificávamos na rádio quem é que estava a tocar, pela forma de abordagem ao instrumento.” E como é que alguém que acompanha vozes tão diversas lida com isso? “Para mim é relativamente fácil”, diz José Manuel Neto. “Até porque toda a minha vida tenho tocado com diferentes pessoas. Há sempre uma fase de adaptação, mas há pessoas com que já não tenho que me adaptar, com o Camané ou o Carlos do Carmo. Ana Moura, Mariza, são géneros completamente diferentes. Ninguém canta da mesma maneira, por isso não podemos tocar da mesma maneira.”

O concerto desta sexta-feira, no Grande Auditório do CCB, às 21h, é o segundo da série, que começou com o fadista Marco Oliveira, no dia 15. Até final do ano ouviremos Carolina, Marco Rodrigues, Camané, António Vasco Moraes, Raquel Tavares, Vânia Conde, Luís Guerreiro, Helder Moutinho, Pedro Moutinho e Matilde Cid.

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