“Marcelo já negou nesta campanha mais vezes Pedro do que Pedro negou Cristo”

Sampaio da Nóvoa manifestou “confiança, determinação e apoio” às negociações do Governo com Bruxelas, a propósito do Orçamento do Estado.

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Fotos Marco Duarte
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“A Europa está raquítica”, queixa-se Fortunato Frederico, o rápido cicerone que mostra a sua fábrica, a Kyaia, a António Sampaio da Nóvoa. O nome pode não dizer muito, mas as marcas que produz fazem dele o mais bem sucedido empresário português do calçado: Fly London, Camel Active.

A Europa é um continente pequeno para a ambição deste homem que construiu, em 1984, uma fábrica nos arredores de Guimarães, e agora exporta 97% do que produz: “Da Nova Zelândia a Anchorage [Alasca].” Ao todo, 63 países. Por isso,  Nóvoa tem em Fortunato Frederico um importante “mandatário para a inovação”. Um empresário que precisa de “crescer a 10 ou 12% ao ano”, enquanto gere um negócio mais ou menos familiar em que vai apontando, pelo nome, ao candidato os funcionários. Dos mais velhos, como “Xavier, o nosso senador”, ou Maria Adelaide, que agora é chefe de equipa, mas chegou à fábrica com 15 anos e agora tem 35, ou Isaac “o homem que mantém a fábrica a trabalhar”. Aos mais novos, como António, que “estava farto de só ir ao Correio” e agora, a pedido do patrão, vai ter “uma oportunidade”  no escritório.

Foi na fábrica que Nóvoa, em resposta aos jornalistas, exortou António Costa a ter “uma presença mais crítica na Europa”. “Portugal não pode ser tratado de forma diferente de outras países em situações análogas”, disse, a propósito das negociações sobre o Orçamento de 2016.” E sobre isso, o candidato manifesta “confiança, determinação e apoio.”

Nessa breve resposta aos jornalistas, Nóvoa adiantou ainda, pela primeira vez, a sua posição sobre as polémicas subvenções vitalícias dos deputados. “Respeito a decisão do Tribunal Constitucional, mas é evidente que pessoalmente estou contra a existência de subvenções vitalícias.” O candidato vai ainda mais longe, e defende que nem os ex-Presidentes deviam ter direito essa subvenção. E, por isso, anuncia que prescindirá dela, se for eleito: “Em coerência, se a lei não for alterada, abdicarei da subvenção se for eleito.”

Mas o dia tinha, além de um empresário conhecido, o mais conhecido dos sindicalistas. Manuel Carvalho da Silva foi, aliás, durante algum tempo o candidato preferido de alguns sectores da esquerda. Hoje, Carvalho da Silva é o coordenador nacional dos mandatários de Nóvoa.

Marcelo, o “construtor de trapaças”
Em Nogueira de Regedoura, Santa Maria da Feira, falando num jantar-comício que encheu o Centro Luso-Venezuelano local, o antigo líder da CGTP confessou a sua “admiração sincera” pela “campanha muito difícil, propositadamente esvaziada de espaço para discussão política”.

“Parabéns pelo combate, pela coerência e pela solidez das suas posições”, continuou. “Nós vamos ter segunda-volta, depende de todos e todas que aqui estamos”, afirmou.

“O Presidente é eleito para fazer política ao mais alto nível e não para fazer entretenimento”, criticou Carvalho da Silva, dirigindo a Marcelo o reparo de não estar verdadeiramente a distribuir “afectos”, mas simulacros disso.

Defendendo que a um Presidente se deve exigir “sensatez e honradez”, Carvalho da Silva lançou um duro ataque ao candidato apoiado pelo PSD e CDS: “Mas alguma vez Marcelo foi sensato e honrado? Marcelo é um mestre da dissimulação. Diz tudo e o seu contrário. É o mais exímio construtor de trapaças a partir de umas pinceladas iniciais de verdade.”

Elogiando o que classificou como “pequenos passos corajosos geradores de esperança e confiança”, dados pelos quatro partidos que suportam o Governo no Parlamento, Carvalho da Silva considerou que só Sampaio da Nóvoa conseguirá “fazer as pontes” necessárias que permitam manter a “sintonia” dos órgãos de soberania “com o povo português”. 

O último ponto do discurso de Carvalho da Silva foi sobre “a defesa da dignidade do trabalho”.

“Um Presidente não culpa os seus soldados rasos”
O candidato entrou em palco logo a seguir. Agradeceu a Carvalho da Silva e acrescentou: “Muitos me diziam para ter cuidado, que estes dias finais iam ser difíceis. Pois bem, aqui me vêm, mais alegre, mais enérgico, que no início desta campanha, para dar tudo por tudo.”

“Foi aqui”, frisou Nóvoa, em Aveiro, o distrito onde se encontra, “que me fiz professor e aprendi o valor da escola pública”.

A educação e o Serviço Nacional de Saúde são a prova “do tanto que este país conseguiu”. “Como é que nos podem dizer que não podemos mais? Não. Portugal é capaz.”

Compromisso e diálogo, em vez de crispação e confrontação, é o que Nóvoa começa por propor. Falando do exemplo de Fortunato Frederico, que viu em Guimarães, Nóvoa elogiou “o exemplo notável” da “revolução tranquila” feita no calçado: um exemplo de médio prazo, com apoios estatais. Uma cultura que não se baseia “nos preços baixos”.

Depois veio a pergunta: “Quem estará em melhores condições” para defender estas ideias na Presidência? Alguém que tenha “causas e compromissos”, e defenda os “mais desfavorecidos”, explicou. E a “urgência da renovação democrática”. E “cumprir a Constituição”, que é o “dever” principal do Presidente.

Falando contra a “campanha vazia, de episódios, de pequenas coisas”, acusou Marcelo de “fazer tudo o que pode para não se comprometer”.

Ironizando com o afastamento que o candidato apoiado pelo PSD e CDS impôs a Pedro Passos Coelho na campanha, Nóvoa deixou a frase da noite: “Marcelo já negou nesta campanha mais vezes Pedro do que Pedro negou Cristo.”

Lembrando o debate da RTP, na terça-feira à noite, e a justificação de Marcelo para que o PSD, que liderava, se ter oposto ao Rendimento Social de Inserção (ex-RMG), culpando a sua direcção de se ter imposto, contra a sua própria sensibilidade, Nóvoa rematou: “Um Presidente, seja de uma República, seja de um partido, não culpa os seus soldados rasos.”

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