CDS-PP: a "juventude" não é só o futuro, também pode ser o presente

O CDS enfrenta um período de renovação, não só da estrutura, mas das suas bandeiras. Cristas terá de unir as diversas tendências e integrar os mais desconfiados

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Depois de 16 anos de uma liderança personalizada, Paulo Portas soube deixar a presidência do partido, ao qual cunhou as suas iniciais, com a mesma astúcia e sentido de oportunidade que o tornaram no "político das sete vidas". Uma recandidatura possibilitaria a participação numa disputa eleitoral antecipada, o que se poderia traduzir numa extensão da sua liderança por mais seis anos. Consciente, optou por sair; quem sabe, preparando uma futura candidatura a Belém.

A sucessão rapidamente se limitou a Nuno Melo e a Assunção Cristas. O primeiro, com um estilo guerreiro, que lhe valeu a referência para continuar "na frente do combate político do CDS", uma imagem que contrasta com a aparente simpatia da ex-ministra. Imagem essa que se revelou falaciosa: nem todos seriam capazes de abdicar de uma candidatura — especialmente, nestas condições — para evitar uma "balcanização" do partido. Com efeito, Melo colocou os interesses do partido acima dos seus interesses pessoais. Para tal, certamente contribuiu a sondagem da Aximage, cujos dados demonstram que a preferência dos eleitores centristas por Assunção Cristas (51.3%) é quase o dobro da preferência por Nuno Melo (27.5%).

Posteriormente, e com um discurso incisivo e pragmático, Assunção Cristas anunciou a sua candidatura. Assume-se de centro-direita, mas não debate liberalismo e conservadorismo. A democracia-cristã está-lhe no sangue, mas só se filiou no CDS em 2007. Católica praticante, defende o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Mulher, procura ser líder do partido mais conservador do sistema partidário português. Convidada para o "ajudar a melhorar", afirma que o CDS não será "o partido de uma mulher só". É este o perfil daquela que será, muito provavelmente, a futura primeira presidente do Partido Popular. A participação no "Prós e Contras" valeu-lhe o olhar atento de Portas, graças ao qual é hoje uma das mulheres capazes de marcar os próximos anos. Cristas conseguirá empreender uma mudança do CDS junto da opinião pública como mais ninguém seria capaz. A alternativa é falhar em marcar a agenda política, como falhou ao afirmar que serão "firmes na oposição e construtivos na governação", quando deveria ser o inverso.

Cristas acredita que o CDS está "livre do fantasma do voto útil". Mesmo que tal fosse verdade, a dinâmica de competição tornou-se, no pós-legislativas, essencialmente bipolar: nunca a divisão esquerda/direita esteve tão vincada. Se é verdade que votar "utilmente" é votar em qualquer partido com representação parlamentar — porque o PCP e o BE podem viabilizar um Governo PS, ao mesmo tempo que o CDS e o PSD se poderão coligar —, não é menos verdade que, embora tenhamos a clara noção do que diferencia o PCP e o BE do PS, não é tão perceptível o que distingue o CDS do PSD. Mais, não sabemos qual é o atual peso eleitoral do CDS, pelo que não será igualmente possível aferir a liderança de Cristas nas primeiras sondagens.

O CDS enfrenta um período de renovação, não só da estrutura, mas das suas bandeiras. Cristas terá de unir as diversas tendências e integrar os mais desconfiados. Ninguém — nem a própria — sabe se conseguirá segurar o partido. Precisa de tempo para consolidar a sua posição, pelo que a longevidade do Governo PS será um fator decisivo. Contudo, o mais importante a reter é que, hoje, não é necessário estar num partido durante toda uma vida para o liderar. O mérito pode superar a tática. Precisamos apenas de aproveitar e capitalizar as oportunidades. Esta é a lição de democracia que recebemos do CDS. Um exemplo de como a "juventude" não precisa de ser apenas o futuro: também pode ser o presente. 

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