Cartas à Directora

Cepa torta, garantida

Começo por referir que não estou a escrever com “azia”, por supostamente o meu clube ter sido excluído da taça. Estou a escrever genuinamente preocupado com o meu país de hoje e de amanhã e, felizmente ou infelizmente, esta preocupação é incompatível com uma lógica clubista.

Estou chocado com o anúncio da greve geral na função pública pela reposição imediata das 35 horas, assim como estarão chocados muitos do que suam para ganhar a vida, incluindo, presumo, mesmo alguns funcionários públicos. Senhores: é isto uma prioridade da nação?

Esta suposta nova era, do fim da chamada austeridade, parece ser mais uma reposição do “estatuto” da função pública do que outra coisa. Realmente, são eles os grandes beneficiários do desapertar do cinto. Será justo ou apenas consequência da sua “forte expressão sindical”? A ser o segundo cenário, é bastante injusto. Onde ficam, por exemplo, os pensionistas, cuja melhoria das condições de vida era a prioridade e a urgência que justificou a construção desta geringonça bizarra?

Preocupa-me ainda este perfume de ligeireza, de tudo ser possível, de tudo o que foi feito é para ser desfeito/revertido/anulado, insuficientemente fundamentado e ignorando que depois da embriaguez vem a ressaca. Em resumo: a lógica de conquista e manutenção de poder, não especificamente de quem lá está agora, ignora os interesses do país a prazo. Enquanto assim for, teremos cepa torta garantida por vários anos.

Carlos J F Sampaio, Esposende

 

A Xinga-Pura-Da-Pelintragem

Desde há uns anos a esta parte que a minha área política deixou de ter representação parlamentar. Houve, em tempos, um partido que a representou, partido esse cuja ala mais à direita era representada pelo grupo da Nova Esperança liderado por Marcelo Rebelo de Sousa.

Acontece que, com o advento das aves de rapina do sistema financeiro, a ala maioritária que constituía o grosso do partido e que se situava ideologicamente à esquerda de Marcelo, pura e simplesmente, levou sumiço. Neste momento, até Marcelo (pasme-se!) parece um homem de esquerda quando se olha para os dois partidos acantonados à direita no Parlamento.

Em todo o caso, com o estreitamento do território nacional e da nossa democracia, não só a minha área política deixou de estar representada no Parlamento como também o próprio território em que resido deixou de ter representatividade parlamentar e qualquer expressividade nacional, apesar das comoventes proclamações inseridas na nossa Constituição.

Com efeito, tenho a perfeita consciência de que, pelo facto de residir a leste da A1, na chamada "Terra de Ninguém", já deixei de ser cidadão português há muito tempo pelo que as eleições presidenciais e legislativas deixaram de ser assunto que me diga respeito. Hoje, a cidadania portuguesa está reservada aos cidadãos da cidade Lisboa-Porto, rebaptizada por Passos Coelho e conhecida na Europa como a Xinga-Pura-Da-Pelintragem. 

Santana-Maia Leonardo, advogado, Ponte de Sor

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