A Libéria está livre do ébola, anuncia OMS

Como podem aparecer novos casos, o fim da epidemia deste vírus na África Ocidental ainda não foi declarado.

Vírus do ébola USAMRIID/Reuters

A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou esta quinta-feira o fim do último ressurgimento do vírus do ébola na Libéria, um marco que assinala pela primeira vez, desde que a epidemia começou em 2013, que não há mais casos conhecidos da doença na África Ocidental. Mas, segundo a OMS, ainda é muito cedo para declarar o fim desta epidemia – a pior de sempre desde que o vírus foi identificado em 1976, no ex-Zaire e no Sudão – que matou mais de 11.300 pessoas entre as cerca de 28.600 infectadas.

Ainda podem surgir novos casos porque o vírus do ébola pode manter-se nos sobreviventes durante mais de um ano e ser transmitido através de relações sexuais e provavelmente também de outras formas. “Todas as cadeias de transmissão conhecidas foram paradas na África Ocidental”, disse a OMS num comunicado.  

Esta notícia representa uma viragem na luta contra a doença que começou em florestas da zona Leste da Guiné-Conacri em Dezembro de 2013 e que se disseminou depois para a Libéria e a Serra Leoa, os três países mais afectados, atingindo o pico em Outubro de 2014 e espalhando o medo da doença a nível mundial. Mas a OMS só foi notificada do que se estava a passar na Guiné-Conacri em Março de 2014. E a 8 de Agosto de 2014 declarou a epidemia do vírus do ébola na África Ocidental como uma emergência de saúde pública de âmbito internacional.

Além da Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa, registaram-se casos em sete outros países – Nigéria, Estados Unidos, Espanha, Itália, Mali, Senegal e Reino Unido –, mas numa escala muito mais pequena, totalizando aí 36 casos de infecção e 15 mortes. Quase todas as mortes ocorreram assim nos três países mais afectados, na África Ocidental, onde o vírus nunca antes tinha surgido. Além disso, esses países, ao fim de anos de conflitos e instabilidade política, tinham sistemas de saúde muito fracos e falta de especialistas e de infra-estruturas.

Em média, morreram cerca de 40% das pessoas infectadas nesta epidemia, embora se pense que em surtos anteriores a taxa de mortalidade tenham variado entre 25 e 90%. Não há tratamentos considerados totalmente eficazes nem vacinas cuja eficácia também esteja cabalmente demonstrada.

Depois de uma resposta inicial lenta à epidemia, a OMS e diversos países empenharam-se nesta luta e enviaram pessoal médico, hospitais de campanha, laboratórios e equipamentos para os países atingidos pelo vírus, que se juntaram ao pessoal médico local. E, lentamente, os novos casos começaram a diminuir devido às campanhas de saúde pública – um esforço que passou por localizar e isolar pessoas potencialmente infectadas e pelo tratamento dos doentes e pelo enterro dos mortos em condições de segurança.

O vírus é transmitido às pessoas por animais selvagens, como morcegos e macacos, e dissemina-se depois entre as populações humanas através do contacto com os fluidos corporais dos infectados. Esta doença é uma febre hemorrágica endémica em África, com um hospedeiro natural na natureza (suspeita-se que são morcegos frugívoros, embora não haja certezas). Os sintomas aparecem entre o segundo e o 21.º dia após o contágio, como febre, fraqueza e dores. As hemorragias vêm depois e resultam do colapso dos órgãos e dos vasos sanguíneos. É aqui que o vírus inunda o sangue e as secreções corporais e pode infectar alguém que entre em contacto com estes fluídos.

O vírus foi identificado pela primeira vez em dois surtos ocorridos em 1976: um deles na cidade de Nzara, no Sul do Sudão, e o outro na pequena povoação de Yambuku, perto do rio Ébola, no ex-Zaire, actual República Democrática do Congo.

Fase ainda crítica

A declaração da OMS surge agora porque já passaram 42 dias – o dobro do período de incubação do vírus – desde que os testes ao último doente de ébola na Libéria deram um resultado negativo. A Libéria já tinha declarado por iniciativa própria, em Maio e depois em Setembro de 2015, que o país estava livre do vírus, mas de cada vez que fez essa declaração voltou a surgir um novo conjunto de casos. Os especialistas pensam que esses novos casos de ébola se deveram a relações sexuais, uma vez que o vírus se mantém no sémen muito para lá dos 21 dias de incubação, o período entre a transmissão e o aparecimento dos sintomas.

Nesta epidemia que infectou e matou mais pessoas do que todos os outros surtos juntos, desde a descoberta do vírus, a Libéria é agora o último país a ser declarado livre do ébola. A Guiné-Conacri e a Serra Leoa foram-no no ano passado.

“Estamos agora num período crítico na epidemia do vírus do ébola, à medida que passamos da gestão de casos e doentes para a gestão do risco residual de novas infecções”, disse Bruce Aylward, representante especial da OMS para a resposta ao ébola. “Ainda estamos à espera de ressurgimentos do vírus e temos de estar preparados para eles.”

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