No Bairro Padre Cruz começou uma obra que "é um sonho" para os moradores

A Câmara de Lisboa deu início à construção de dois edifícios, para albergar 20 famílias oriundas das casas de alvenaria do bairro. Fernando Medina deixou o "firme compromisso" de que tudo fará para que os restantes 509 agregados sejam realojados.

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Fernando Median deixou uma “caixa do tempo” num buraco aberto no estaleiro da obra Ricardo Campos
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Para quem acompanha à distância este processo, o lançamento da primeira pedra do quarteirão-piloto do Bairro Padre Cruz foi pouco mais do que o assinalar do início de mais uma obra da Câmara de Lisboa. Mas para quem vive nas casas de alvenaria do bairro e luta há décadas por uma habitação condigna, aquilo que aconteceu esta quarta-feira foi “um sonho” tornado realidade.

“Alegra-nos muito e achamos que é um sonho”, confessou a presidente da Associação de Moradores do Bairro Padre Cruz, que foi a primeira a discursar na cerimónia que marcou o arranque da construção de dois novos edifícios. A previsão do município é que dentro de um ano eles estejam prontos para receber 20 famílias oriundas da área de alvenarias, construída na década de 60 do século passado.  

“Hoje dá-se início a uma nova esperança”, disse ainda Elisete Andrade, que não hesitou em classificar o momento como “um dos mais ansiados pelo bairro”. Saudações feitas, a representante dos moradores aproveitou a oportunidade para manifestar a “confiança” que tem de que seja para continuar a “regeneração” deste que segundo a autarquia é o maior agregado de habitação pública da Península Ibérica.

Mensagem idêntica foi transmitida pelo presidente da Junta de Freguesia de Carnide, que considerou que “é preciso, é urgente, é útil e necessário que este processo não fique por aqui”. “Temos obrigação de fazer o que ainda não foi feito”, defendeu Fábio Sousa, lembrando que há “mais de 500 famílias” à espera de uma nova habitação.

Apelos à parte, o autarca do PCP destacou que a obra agora iniciada, e cujo custo ronda os 1,2 milhões de euros, representa “um milhão de passos”, “de possibilidades e de oportunidades”. “Estamos felizes por este momento. Aliás, estamos mesmo muito felizes”, afirmou Fábio Sousa.  

Os reptos de Elisete Andrade e de Fábio Sousa não caíram em saco roto e tiveram resposta pronta da vereadora da Habitação e do Desenvolvimento Local. Depois de destacar que as habitações em construção “são o fruto de muita luta, investimento e persistência”, Paula Marques deixou a garantia de que “o processo não parará e terá outra cadência”.

Segundo a autarca dos Cidadãos Por Lisboa, “muito em breve” será lançado pela Câmara de Lisboa o concurso público para a edificação de outros 48 fogos no Bairro Padre Cruz, estando também “em preparação” mais uma fase de demolição das casas de alvenaria. “Sempre com respeito pelos moradores”, frisou Paula Marques, que concluiu a sua intervenção falando num “dia feliz”.

“Hoje é mesmo um dia feliz”, corroborou o presidente da Câmara de Lisboa, aproveitando a deixa da vereadora. Para Fernando Medina as casas de alvenaria, que existem tanto neste bairro de Carnide como no da Boavista, na freguesia de Benfica, representam “um dos problemas de maior significado do ponto de vista da dignidade da habitação”.

Na intervenção que fez junto ao estaleiro da obra, o autarca socialista deixou o “firme compromisso de tudo fazer para que este processo possa estar concluído o mais rápido possível”.

Questionado depois pelo PÚBLICO sobre daqui a quantos anos poderá estar finalizado o realojamento das 529 famílias que residem nas construções dos anos 60, Fernando Medina não avançou qualquer prazo, mas manifestou a expectativa de que seja possível imprimir um ritmo mais acelerado a este processo. Ao seu lado, o arquitecto Rui Franco, do gabinete da vereadora Paula Marques, juntou às 20 casas já em construção e às 48 de que a autarca tinha falado outras 20 cujo concurso se espera que seja lançado “ainda em 2016”.

Para o presidente da câmara, o investimento no Bairro Padre Cruz constitui além de tudo “uma mensagem muito clara”: a de que “a cidade de Lisboa é de todos e para todos”. “É um sinal muito claro da nossa prioridade com todas as zonas da cidade. A câmara tem a sua atenção concentrada em todo o território”, afirmou Fernando Medina, rejeitando que essa atenção se dirija apenas às áreas mais turísticas.

Discursos feitos, foi depositada “uma caixa do tempo” num buraco aberto no estaleiro da obra, junto ao número 47 da Rua Rio Douro. No seu interior estavam um convite para a cerimónia de lançamento da primeira pedra, uma lista de convidados e a proposta camarária que determinou a adjudicação da obra, além de um jornal do dia.

De um carrinho de mão alguns dos presentes foram retirando, com a ajuda de uma colher de pedreiro, cimento, sobre o qual foi depois depositada a tampa por trás da qual ficou escondida a “caixa do tempo”. O momento foi acompanhado por vários moradores do bairro, que brindaram os trolhas de circunstância com piropos vários. “O presidente sai daqui pedreiro”, atirou um dos populares entre gargalhadas. 

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