Falhar pior ainda

Estranho é o dia em que se pode confiar mais no New Statesman do que no New Yorker. Mas esse dia chegou.

Li hoje a coluna de Nicholas Lezard no New Statesman sobre a morte do pai dele. Diz que estava a escrever sobre Samuel Beckett quando o pai morreu e cita uma passagem famosa de Malone Dies em que Beckett diz que o dia da morte é como qualquer outro só que "mais curto". A citação é correcta, triste e hilariante. Lê-la no inglês original vale a pena.

Também li um artigo palerma de Tad Friend no New Yorker, dedicado ao tema de ele continuar a jogar squash melhor do que quase toda a gente da mesma idade, em que ele cita Samuel Beckett não só sem dar a referência (onde estão os "legendary fact-checkers do New Yorker quando precisamos deles?) como falando de um excerto de Beckett como sendo uma "máxima" dele.

Beckett não tinha máximas. Duh! A fonte provável da erudição de Friend é um outro artigo ridículo de Janeiro de 2014 de Mark O'Connell para a Slate em que aparece uma fotomontagem de Beckett a jogar ténis sob o título "The Stunning Success of 'Fail Better: How Samuel Beckett became Silicon Valley's life coach".

Recuso-me a identificar a fonte que eu traduzi com a ajuda de Beckett. Para quê emendar as tentativas estúpidas de erudição de quem não tem tempo para ler os (curtíssimos) livros que finge citar, sabendo que não enganará um único verdadeiro leitor?

Estranho é o dia em que se pode confiar mais no New Statesman do que no New Yorker. Mas esse dia chegou. Be afraid. Be very afraid. O que não carece de tradução ou citação.

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