Nóvoa faz o elogio do “compromisso” num dia dedicado a “bons exemplos”

Ramalho Eanes participou na campanha esta terça-feira. No Domingo, em Lisboa, Jorge Sampaio será um dos oradores no comício

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Nuno Ferreira Santos
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Apesar de tudo, o tema do dia, escolhido por Sampaio da Nóvoa, acabou por casar com o tema do dia escolhido pelo ciclo noticioso. Nem sempre acontece. O mais normal é haver perguntas sobre uma coisa e respostas que tentam fugir para outra. O terceiro dia de campanha eleitoral, passado nos distritos de Castelo Branco, Portalegre e Évora, foi dedicado aos “bons exemplos” da economia. Isto, quando os sindicatos parecem decididos a convocar uma greve caso o Governo não avance já com o limite de 35 horas semanais de trabalho. Nóvoa falou do assunto ao lado de Rui Nabeiro, na fábrica de cafés Delta, em Campo Maior.

O candidato usou o exemplo do seu apoiante Nabeiro para elogiar “uma empresa que tem sido exemplar, no interior do país, que cria emprego, e cria emprego com dignidade”. Porque, no fundo, e mesmo sem se querer “alongar” sobre o conflito entre os sindicatos e o Governo, Nóvoa tomou posição:  “Os direitos dos trabalhadores são muito importantes. São eles, a par da iniciativa dos empresários, que fazem a economia de um país desenvolvido. “ Recusando dar “conselhos”, considerou que é normal haver impasses. “Os processos de acordo são sempre longos. É preciso criar uma cultura de negociação e de compromisso. A margem para o diálogo tem existido na sociedade portuguesa nas últimas semanas.”

A Delta anuncia, em cartazes, colados nas paredes dos vários  sectores da fábrica, que preza a legalidade, a responsabilidade social. Os trabalhadores vestem uma farda, cor de café com leite, que só distingue os lugares de cada um na cadeia de produção com uma inscrição igualitária nas costas: “Inovação”, “recursos humanos”, “logística”, “torrefacção”.

Antes de chegar a Campo Maior, Nóvoa visitou outro “bom exemplo”, a Centauro, em Castelo Branco. A fábrica onde se produzem, maioritariamente para exportação, componentes e equipamentos de refrigeração, também tem histórias edificantes de diálogo laboral para contar. Ramalho Eanes, que era Presidente da República quando as instalações a que agora regressa foram inauguradas em 27 de Fevereiro de 1982, recorda que não havia ali “salários em atraso” – a chaga desses anos.

Ao lado, o fundador da empresa, com 80 anos, sorria. José Ribeiro Henriques tem escrito sobre a porta de entrada da fábrica um lema que pode ter leitura política: “Se há algo que não se pode copiar é a experiência.” Eanes e Nóvoa passaram por baixo da inscrição, liderando uma comitiva numerosa (Vasco Lourenço, Fernando Paulouro Melo Gomes, João Afonso, entre outros). Henriques ia explicando demoradamente como funciona cada uma daquelas máquinas que ocupam uma área gigantesca do parque industrial de Castelo Branco. Mas também outro dos seus lemas: a forma de lidar com as aptidões dos trabalhadores. Se um funcionário não se adapta a uma tarefa, experimenta outra. E outra. Até experimentar toda a cadeia de produção. Despedir? Isso é demasiado simples para José Ribeiro Henriques, que conta a Eanes o exemplo de um funcionário que experimentou todas as tarefas possíveis sem qualquer tipo de êxito na produtividade. Um dia, o empresário reparou numas miniaturas de madeira que o funcionário fazia nos tempos livres. Descobriu que o seu ponto forte era a precisão. Não tinha qualquer especialização mas passou a lidar com as máquinas de maior precisão, Hoje, conta Henriques, tem a alcunha de “engenheiro”.

Eanes daria o exemplo de Henriques para refutar a ideia, de Marcelo Rebelo de Sousa, de que é indesejável “passar de soldado raso a general”. O general apontou o empresário como o exemplo de alguém, “de origens humildes”, que de facto galgou todas as patentes do oficialato de uma vez. Mas a conversa é política, e Eanes percebe-o. E dá uma frase para a campanha: “Sampaio da Nóvoa já é general.”

O que talvez tenha estado menos de acordo com o desejo do candidato foi a comparação seguinte. Eanes, que apoiou Cavaco Silva, disse ver semelhanças entre o actual Presidente e o candidato que agora apoia. É claro que, na frase seguinte, afirmou também ver “muitas diferenças” entre os dois. Diferenças que Nóvoa , falando de seguida, procurou sublinhar.

A visita terminou no refeitório onde os trabalhadores se preparavam para almoçar, pagando 1,5 euros  pela refeição. Eanes despediu-se de Nóvoa, depois de lhe ter passado a fotografia da placa comemorativa da inauguração, em 1982, que recebeu nesta visita. “Fica como prova de exigência”, disse, ao passar o saco com a moldura ao candidato. “E de responsabilidade”, respondeu Nóvoa.

No comício marcado para domingo, 17, em Lisboa, Nóvoa contará com a presença de outro antigo Presidente. Jorge Sampaio é um dos dois oradores da noite, ao lado de Teresa Salgueiro, a ex-vocalista dos Madredeus.

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