Uma sede em cada terra e o desejo do candidato que subiu a uma igreja

Sampaio da Nóvoa já é reconhecido por onde passa. E responde a Marcelo: “Na nossa República, qualquer soldado raso pode chegar a general.”

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Sampaio da Nóvoa já é reconhecido nas ruas, nas festas e nas feiras Nuno Ferreira Santos
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Quatro capitais de distrito em dois dias. Guarda, Viseu, Aveiro, Coimbra. É a essência de uma campanha eleitoral: passar por uma terra, conquistar simpatia, mostrar a implantação. Sampaio da Nóvoa cumpre o roteiro. Mas o relógio não pára e, ao segundo dia de campanha, o candidato viveu um dilema. Estava a ficar atrasado para o seu compromisso final, o jantar com mais de 500 apoiantes em Coimbra.

Ponderou alterar uma etapa, a inauguração da sede naquela cidade. “Problema”, disseram-lhe os seus apoiantes, ainda em Cantanhede, onde o candidato devia ir também inaugurar uma sede em Cantanhede.

E o candidato foi. Como foi à de Coimbra. Recebeu palmas, mas perdeu o horário nobre dos telejornais e atrasou o jantar. Em Coimbra, a mensagem procurou focar a candidatura: “Portugal já teve um presidente militar, quando a estabilidade do jovem regime democrático teve que ser conquistada a pulso. Teve vários presidentes vindos dos partidos, que consolidaram uma democracia madura. Quando a crise da participação cidadã é um dos maiores bloqueios e desafios que se colocam à nossa democracia, sabemos que chegou o tempo de um presidente cidadão. Esse tempo é agora.”

Nóvoa escolheu o tema da democracia para explicar por que considera que a falta de participação dos cidadãos está directamente relacionada com a frustração das suas expectativas: “A democracia tem de ser capaz de responder à crise de confiança sentida por cada vez mais cidadãos. Uma crise a que não é indiferente a grave e persistente crise económica. Mas onde também são visíveis sinais de cansaço com uma política velha.”

De manhã, em Oliveira de Azeméis, onde inaugurou (mais) uma sede, Nóvoa explicou que teme a abstenção. “Tenho dois adversários: a abstenção e Marcelo Rebelo de Sousa”, disse.

À noite, em Coimbra, nenhum dos seus adversários foi nomeado. Mas o final do discurso tinha uma referência clara a Marcelo, que o acusara, no debate televisivo da semana passada, de ser inexperiente e de querer “passar de soldado raso a general”.  A resposta veio assim: “Na nossa República, qualquer soldado raso pode chegar a general. É isso, de resto, que separa uma República de uma monarquia.”

Neste segundo dia de campanha, Nóvoa pôde confirmar que os debates produzem efeitos. A notoriedade do candidato, um dos riscos que a campanha teve de enfrentar desde o início, já não parece ser um problema. Na feira de Espinho, ou nas ruas de Aveiro, Nóvoa é reconhecido.

Lançar cavacas do alto da igreja
Domingos Coelho está a circular pelas bancas que vendem cavacas nas festas de São Gonçalinho, no centro de Aveiro. Ele próprio tem uma banca, mas a curiosidade leva-o a tentar encontrar o candidato. “Só tenho uma pergunta para lhe fazer: será que para ele 10 mil euros de reforma também não lhe chegam?”

A pergunta, que tem um grão de sal, porque relembra a polémica frase de Cavaco Silva sobre os seus rendimentos, não chega a ser feita. Mas explica por que Domingos simpatiza com Nóvoa. “É bom que venham pessoas de fora dos partidos. O Presidente mais honesto que já conheci chama-se António Ramalho Eanes e recusou receber mais dinheiro.”

O momento alto do dia de Nóvoa surgiu quase por acaso, a dois passos da banca de Domingos. Há uma tradição em Aveiro: pagar uma promessa lançando cavacas do alto da igreja de São Gonçalinho. Cá em baixo, quem apanhar as duras e pesadas cavacas tem direito a bons augúrios, se as conservar um ano, e não as comer. 

Lá em cima estão dezenas de lançadores, e há uma fila de gente com sacas de cavacas para lançar. Cá em baixo há gente com cestos feitos de rede, espécie de camaroeiros gigantes, para as apanhar. Nóvoa sobe a escadaria e desata a encestar cavacas. Recebe uma salva de palmas. Apesar de já ter vivido quatro anos em Aveiro, Nóvoa formulou um desejo depois de lançar as cavacas (o que não é exactamente o que diz a tradição): “Estar à altura” do desafio a que concorre.

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