Maria de Belém aposta no contacto com as pessoas para garantir uma segunda volta

Candidata admite que máquina partidária do PS “intervenha marginalmente” na campanha. A nível do Governo, conta com o apoio do ministro da Cultura, João Soares, que estará no arranque da campanha, em Alpiarça.

Maria de Belém
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Maria de Belém Miguel Manso
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A socialista garante que gosta do contacto com o povo e que conhece muito bem o país Guilherme Marques

Maria de Belém de Roseira faz-se este domingo à estrada para garantir um lugar na segunda volta das eleições presidenciais de 24 de Janeiro, mas sabe que o caminho é estreito. O ministro da Cultura, João Soares, marca presença no arranque oficial da campanha da ex-presidente do PS, que começa pela manhã, em Alpiarça, no distrito de Santarém, com uma visita à Casa-Museu, José Relvas, um republicano que foi ministro das Finanças e embaixador de Portugal em Espanha.

Aos 66 anos, Maria de Belém lança-se num dos maiores desafios de sempre da sua vida e promete fazer uma campanha “simples, modesta e de proximidade”, muito centrada no contacto com as pessoas e virada para a defesa de causas como a luta contra a pobreza infantil que - diz - “compromete o desenvolvimento cognitivo das crianças”.

A candidata presidencial, que faz questão de dizer que a sua candidatura é “suprapartidária” e que não tomou a iniciativa de insistir junto de ninguém para a apoiar, parte para este combate confiante e determinada em cativar os portugueses a colocarem a cruz junto ao seu nome no boletim de voto. Muito centrada na mensagem que quer passar, a ex-ministra da Saúde e depois da Igualdade de António Guterres garante que vai deixar de falar dos outros candidatos para que os jornalistas não centralizem a sua atenção naquilo que diz sobre os seus adversários.

Para já, a nível do Governo conta com o apoio do ministro da Cultura, mas espera que ao longo da campanha outros governantes se lhe juntem e ajudem a passar a mensagem da sua candidatura. Vai apostar no apelo ao voto nas eleições para a Presidência da República porque está muito preocupada com os níveis de abstenção. “Vou passar uma mensagem no sentido de apelar ao voto, porque acho que é muito importante a participação”, diz, mostrando-se pronta para o grande combate. Ao longo da pré-campanha foi tomando o pulso ao país, às instituições e às pessoas, ganhando de alguma forma lastro para a disputa eleitoral do dia 24 de Janeiro, onde uma dezena de candidatos vai a votos.

No contacto com as pessoas, assume que está à vontade e vai às suas memórias do tempo em que era ministra da Saúde para dizer que há muito se habituou à proximidade com o povo. “As pessoas nunca sentiram barreiras nem biombos no relacionamento comigo”, afirma com orgulho. Aliás, o seu modelo de campanha assenta “muito” nessa proximidade e no contacto de rua, mas a candidata não descura as visitas a instituições e as reuniões com os apoiantes para dar a conhecer as ideias de força da sua campanha.

Mobilizada quanto baste para a campanha, a candidata espera contagiar os portugueses com a sua vontade de disputar uma segunda volta presidencial. Questionada sobre se a mensagem que tem vindo a passar tem encontrado eco nas pessoas, responde com prontidão: “Sim. Gosto muito de fazer isto, tenho muita prática, mas não é só ter prática, tenho gosto e é o que eu gosto de fazer”. “Sinto-me bem no contacto com o povo e conheço muito bem o país”, partilha.

O desemprego e a precariedade não vão passar ao lado da campanha da ex-presidente do PS. “Sinto-me muito preocupada com uma coisa de que ninguém fala e, merecendo eu a confiança dos eleitores e vindo a ser eleita Presidenta da República, terei uma especial atenção com o terrível impacto do desemprego e da precariedade na saúde mental. Estamos a assistir a fenómenos que são de uma intensidade tão grande a que não estávamos habituados. Muito desse impacto negativo já se traduz a nível da serenidade, da tranquilidade e do comportamento das pessoas”, declara.

A candidata alude ao recente caso de um homem que matou a mulher e depois se fez explodir colocando um dispositivo no corpo para dizer que “isto não são coisas a que assistamos ou possamos assistir com indiferença. Isto já pressupõe comportamentos desesperados e exasperados que nada têm a ver com a cultura portuguesa”. A ex-ministra da Saúde defende, em declarações ao PÚBLICO, que estes fenómenos que se têm vindo a revelar de uma forma isolada devem ser analisados no sentido de perceber se revelam uma alteração do padrão comportamental e se têm a ver com situações graves a nível da saúde mental”.

É com este tipo de preocupações e com “força de carácter”, como dizem alguns dos seus cartazes, que se apresenta ao eleitorado. A candidata a Belém acredita que a máquina partidária “intervenha marginalmente” na campanha, mas essa não será a tónica. Espera também que algumas figuras do PS, partido do qual foi presidente quando António José Seguro era líder, a acompanhem. O seu mandatário distrital por Lisboa, o ex-ministro da Educação, Marçal Grilo, estará presente no primeiro dia de campanha em Alpiarça. Mais a Norte, é esperada a participação do seu mandatário distrital pelo Porto, o psiquiatra e sexólogo Júlio Machado Vaz, activista na luta contra a discriminação e a homofobia. Este apoio poderá permitir que Maria de Belém, católica e conservadora no capítulo dos costumes e da chamada agenda fracturante, possa chegar a outras franjas do eleitorado.

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