Marcelo diz que Maria de Belém se revelou uma 'candidata psicóloga'

A dois dias do arranque da campanha, RTP 1 juntou o candidato da direita e a socialista que quer disputar com ele a segunda volta.

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Maria de Belém e Marcelo Rebelo de Sousa no frente-a-frente desta sexta-feira Miguel Manso

Foi quente o debate entre Maria de Belém e Marcelo Rebelo de Sousa. O ex-presidente do PSD, o primeiro a falar, começou de uma forma suave, dizendo que não tem adversários personalizados – “o meu principal adversário são problemas dos portugueses”. Mas a antiga ministra da Saúde contrapôs, afirmando que nesta corrida "há adversários, que não são inimigos” e tratou de agarrar o frente-a-frente desta sexta-feira na RTP 1.

“Considero Marcelo Rebelo de Sousa o meu principal adversário, já o disse e não viria aqui dizer outra coisa. Gosto de ser coerente e não dizer uma coisa hoje e outra amanhã”, declarou, numa crítica a Marcelo, que não foi poupado ao longo do debate. “Vemos muitas vezes Marcelo Rebelo de Sousa com comportamentos muito contraditórios, com opiniões muito diferentes umas das outras”, atirou, sublinhando que a “dualidade [da personalidade] do candidato da direita não dá a característica principal que deve ter um Presidente da República, que é da confiança e da maturidade para garantir a estabilidade”.

Marcelo não gostou e acusou-a de “ziguezaguante, uma pessoa com duas caras”. Considerou que a prestação de Maria de Belém nesta pré-campanha foi uma surpresa pelo “lado psicólogo que não lhe conhecia. Eu era hiperactivo, fiquei logo caracterizado como um doente mental, ainda por cima enganando-se porque fiquei a saber que as características são a falta de concentração, que não é o meu caso, falta de aproveitamento escolar, nunca foi o meu caso, falta de auto-estima, felizmente não é o meu caso”.

O candidatou mostrou-se surpreendido por Maria de Belém se preocupar com as horas que dorme: “Veja-se ao que chegou o debate político em campanha eleitoral”. E com ironia perguntou: ”Quantas horas seriam necessárias para o Presidente ser eleito: 12 horas, 10 horas, 11 horas, nove horas? Passamos a ter uma campanha que não é política, mas psicológica”.

Embalado, criticou a sua adversária de ter opiniões diferentes sobre o mesmo assunto. “Num espaço curtíssimo, sobre dissolução do Parlamento começou por dizer que o faria em caso de violação das regras dos tratados [europeus], depois eram só as regras fundamentais e depois era só em casos excepcionais. Num mês e meio teve três posições”. “Temos a autoridade moral da doutora Maria de Belém, psicóloga”, voltou a ironizar.

Maria de Belém rebateu os argumentos sobre o que disse relativamente à dissolução do Parlamento e concentrou-se em dizer que a análise que fez sobre as características do professor foi baseada nas suas declarações, de que dormia muito pouco. “E acha que isso é relevante?”, perguntou Marcelo?

Desafiada pelo jornalista João Adelino Faria a apontar contradições ao professor de Direito, Maria de Belém citou o caso do Serviço Nacional de Saúde. O tema da saúde ocuparia uma boa parte do debate, com o moderador a desafiar os candidatos presidenciais a pronunciarem-se sobre a morte do Jovem de 29 anos no Hospital de S. José.

Mas antes disso, Marcelo não perdoou e apontou um dos “exemplos” da sua “hiperactividade, da criação de factos políticos” que foi ter “sustentado contra boa parte” do seu partido, durante longos anos, o Governo de António Guterres, de que a candidata socialista fazia parte, “permitindo fazer os lugares que fez e foram o despoletar da sua carreira política”. “Fiz isso por Portugal e pelo euro”. “A minha hiperactividade ali foi essencial para dar estabilidade ao país. Foi ou não? Foi ou não foi?”.

“Aquilo que fez em termos de viabilização dos orçamentos teve, como é evidente, contrapartidas”, atirou Maria de Belém, dizendo que a “revisão constitucional foi uma das moedas de troca”. Maria de Belém trazia a lição bem estudada e surpreendeu Marcelo ao lembrar-lhe que acusou Francisco Pinto Balsemão de ser “lélé da cuca” quando ambos integravam o Governo.

Regressando à saúde, o candidato da direita falou dos cortes neste sector para dizer: “Houve cortes que tiveram algumas virtualidades, nomeadamente em matéria de medicamentos, houve cortes em termos funcionais que se revelaram negativos. Os mais negativos foram aqueles que resultam do adiamento de investimentos na saúde”.

Num debate entre dois católicos, houve perguntas sobre temas fracturantes como a interrupção voluntária da gravidez, a eutanásia e a liberalização de drogas leves. Aqui, Maria de Belém esteve muito mais à-vontade, reclamando debates alargados na sociedade portuguesa para discutir estes temas. Relativamente à eutanásia, defendeu que é preciso ouvir o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida porque a “aprovação dessa natureza poderá ser entendida não como uma eutanásia pessoal, mas como uma eutanásia social”.

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