Mina da Panasqueira vendida aos canadianos da Almonty

É o regresso dos canadianos às minas de volfrâmio. Da última vez que passou pela Covilhã a Almonty precisou de apenas três anos para registar lucros. Depois, acabou por vender a empresa.

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Daniel Rocha

O interesse da multinacional canadiana Almonty no regresso às Minas da Panasqueira não só se manteve, como se concretizou. O valor do negócio não foi ainda oficializado, mas na terça-feira presidente da gigante canadiana, Lewis Black, esteve no Couto Mineiro da Barroca Grande, na primeira visita técnica à mina da Covilhã. A acompanhá-lo esteve António Corrêa de Sá, um engenheiro de minas que já esteve na administração da Panasqueira, mas também da Somincor, soube o PÚBLICO.

Há vários meses que os actuais proprietários das Minas da Panasqueira, o conglomerado japonês da Sojitz Beralt Tin & Wolfram, procuravam activamente um investidor que mantivesse as minas em funcionamento, já que a descida da cotação da matéria-prima levou a empresa a enfrentar graves problemas de viabilidade financeira – e num ano reduziu em cerca de 20% o seu número de trabalhadores. A Sojitz comprou as Minas da Panasqueira em 2008, precisamente à Almonty, uma empresa que, na sua comunicação oficial, sublinha que precisou de apenas três anos para fazer o turn-around na mina, também, então, deficitária, para a vender aos japoneses recuperando o investimento 30 vezes.

Em Julho de 2015, a Almonty tornou-se oficialmente na maior empresa de produção de tungsténio do mundo – uma importante matéria-prima usada em todos os tipos de indústria, pelas suas características físicas que a tornam tão resistente como um diamante –, com a compra da Woulfe, cujo principal activo é a mina de Sangdong, na Coreia do Sul. “Esta transacção representa a oportunidade de combinar um dos activos de tungsténio mais promissores do mundo com a nossa significativa carteira de activos de produção, para criar uma potência tungsténio verdadeiramente global“, escreveu Lewis Black na altura em que comunicou o negócio ao mercado, mais concretamente à Bolsa de Toronto, onde são cotadas as principais empresas de mineração do mundo. As Minas da Panasqueira vão agora voltar à carteira de activos da Almonty, engrossando um portfolio onde pontuam ainda a mina de volfrâmio de Los Santos em Salamanca, Espanha, e outras duas minas na Austrália.

O PÚBLICO tentou saber junto do Ministério da Economia quais os impactos que a mudança de accionista pode vir a ter na actividade de exploração da mina, e que compromissos e contrapartidas foram feitos, mas não obteve resposta em tempo útil. Recorde-se que a cessação temporária da exploração chegou a estar em cima da mesa, uma vez que a extracção do minério era bem mais dispendiosa que a sua cotação, e que a concessionária se estava a endividar para manter a actividade, ao mesmo tempo que estava a reduzir a reserva do minério.

Apesar de a procura mundial não ter diminuído, a cotação do minério, o paratungstato de amónio (APT), o produto produzido a partir do concentrado de volfrâmio, não tem parado de descer, mantendo-se abaixo dos 200 dólares por MTU (acrónimo de metric ton unit) há já largos meses. E, segundo as informações dadas ao PÚBLICO pelo então administrador da empresa, Alfredo Franco, a cotação dita normal e para a qual as Minas da Panasqueira são rentáveis, situa-se nos 350 dólares. Até aqui, os trabalhadores mostraram-se favoráveis à venda da Mina, desde que tal permitisse assegurar postos de trabalho.

Apesar de ser uma mina de pequena dimensão, a Panasqueira continua a ser um activo muito importante, por ter uma reserva de uma matéria-prima que a União Europeia considera crítica, e por isso prioritária. Os desígnios da Almonty são, assumidamente, combater a primazia da China neste sector, e a proximidade às minas de Los Palos, em Salamanca, também não deve ser alheia a este interesse renovado. Se os preço reduzido das matérias-primas tem mantido muito afastado do sector os potenciais investidores, há quem defenda que esta é a melhor altura para comprar activos e para investir em infra-estruturas que possam potenciar a rentabilidade da mina em ciclos de melhor cotação das matérias-primas.

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