Arábia Saudita soma apoio do Kuwait no conflito com o Irão

Governo de Rohani distancia-se de ataque à embaixada saudita e avisa Riad que não pode ofuscar a execução de líder religioso xiita.

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Os protestos contra a execução de Nimr prosseguem em todos os países com população xiita Mohammed Al-Shaikh/AFP

O Kuwait é o último dos aliados a assumir a causa da Arábia Saudita, ao anunciar a retirada do seu embaixador em Teerão, em protesto contra o ataque de sábado à embaixada saudita. Apesar do alastramento da crise, o Irão desvaloriza a aliança reunida contra si e o Presidente Hassan Rohani avisou Riad que não pode usar o corte de relações diplomáticas para esconder “o seu crime” – a execução do xeque Nimr, líder religioso da minoria xiita, na origem da actual tensão.

O Kuwait, onde um terço da população segue o xiismo, absteve-se de adoptar as medidas mais drásticas anunciadas pelo Sudão e o Bahrein, que alinharam com Riad no corte de todas as relações, incluindo comerciais, com o Irão. Uma opção mais próxima dos Emirados Árabes Unidos, um dos principais parceiros comerciais do Irão na região, que na segunda-feira mandou chamar o seu embaixador em Teerão e anunciou a redução dos contactos diplomáticos. Novos apoios podem surgir nos próximos dias – Riad convocou para sábado uma reunião do Conselho de Cooperação do Golfo, do qual fazem também parte Omã e Qatar, e no domingo será a vez da Liga Árabe se reunir para "condenar a interferência iraniana".

“A ruptura das relações pela Arábia Saudita e os seus vassalos não terá qualquer efeito no desenvolvimento do Irão”, reagiu um porta-voz do governo iraniano. A AFP recorda, com efeito, que as relações comerciais entre Riad e Teerão pesam pouco na balança de ambos os países.

Mas o governo iraniano não esconde o desconforto com o incidente na embaixada saudita, que a diplomacia de Riad tem explorado, desviando atenções da execução do religioso xiita. Segunda-feira, o Conselho de Segurança aprovou uma declaração em que condena o ataque e exige a Teerão que “proteja as instalações diplomáticas” e “respeite na íntegra as suas obrigações internacionais”, sem fazer qualquer referência à decapitação de Nimr. A Arábia Saudita “antecipou a nossa reacção excessiva e agora está a usá-la para nos isolar novamente”, admitiu ao jornal New York Times Fazel Meybodi, religioso de Qom, principal pólo xiita do Irão.

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Rohani, que esperava que o período que antecede as legislativas de Fevereiro ficasse marcado pelo fim das sanções internacionais ao país, atribuiu o ataque “a radicais” e já nesta terça-feira disse esperar que os governos europeus “sempre prontos a reagir às questões ligadas aos direitos humanos que cumpram o seu dever” de condenar a execução.

Os analistas dizem que o acirrar de tensões serve também os conservadores iranianos, críticos do acordo nuclear que dizem ter sido conseguido a troco de demasiadas cedências, e que não hesitarão em pôr em causa o levantamento das sanções se isso lhes render votos. Coincidência ou não, a televisão iraniana divulgou nesta terça-feira imagens de uma nova instalação subterrânea construída para armazenar os recentes mísseis Emad, que os EUA dizem ser capazes de transportar ogivas nucleares. O local foi inaugurado por Ali Larijani, líder do parlamento e figura próxima do Supremo Líder, o ayatollah Ali Khamenei.

Respondendo aos receios de que o reacender do cisma decrete a morte antecipada das negociações para resolver as guerras no Iémen e na Síria, o embaixador saudita na ONU garantiu que Riad vai participar nas negociações entre a oposição e o regime sírio, previstas para dia 25 – “se decidimos boicotá-las será por razões mais fortes” do que o Irão, disse Abdullah al-Moallimi. Mas as expectativas para o encontro estão já ensombradas: um porta-voz da Casa Branca admitiu que “será ainda mais difícil conseguir juntar toda a gente à mesma mesa se os sauditas [apoiantes da oposição] e iranianos [aliados de Damasco] continuarem a trocar acusações em público”. E no entretanto a aviação saudita intensificou os ataques aéreos contra os rebeldes xiitas no Iémen, três dias depois de dar por terminada a trégua que foi acordada em Dezembro sob os auspícios da ONU.

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