Morreu o cantor francês Michel Delpech

"Morreu sem ter envelhecido. As suas canções tocavam-nos porque falavam de nós", reagiu François Hollande.

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Delpech, fotografado em 2014 JOEL SAGET/AFP
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Delpech em 1970 AFP

O cantor francês Michel Delpech, com vários êxitos nos anos 70 – como as canções Chez Laurette, Quand j'étais chanteur, Les divorcés , Inventaire 66 ou Pour un flirt – morreu este sábado à noite, aos 69 anos, no hospital de Puteaux, nos arredores de Paris. O cantor, antigo ídolo hippie, estava doente desde há três anos, quando lhe foi diagnosticado um cancro na garganta segundo a agência AFP.

“Michel Delpech morreu sem ter envelhecido. As suas canções tocavam-nos porque falavam de nós. Tanto das nossas emoções como das nossas dificuldades. Ele reflectia melhor que ninguém o espírito dos anos 70”, disse o Presidente francês, François Hollande, em comunicado.

“Nunca passou de moda. De Chez Laurette a Le Loir et Cher ele disse-nos ‘que Marianne é bonita’ (Que Marianne était jolie). Ela chora neste início de ano um dos seus melhores cantores”, acrescentou o Presidente francês.

O cantor, que nasceu a 26 de Fevereiro de 1946 em Courbevoie, nos arredores de Paris, lançou o seu primeiro disco aos 18 anos. Era um 48 rotações com a canção Anatole. Mas o seu primeiro êxito foi Chez Laurette, de 1965. Foi nessa altura que o agente de Mireille Mathieu, Johnny Stark, passou a gerir a sua carreira.

Contemporâneo de Julien Clerc e de Michel Fugain, Michel Delpech, que escrevia letras mas não compunha, deixou uma marca numa época de mudança entre o fim do yé-yé e a chegada dos hippies.

Michel Delpech era “um poeta que falava da vida das pessoas, um melodista inigualável e um homem muito cativante”, reagiu no Twitter à morte do cantor Pascal Nègre, o presidente da Universal Music France.

“A força de Delpech é que ele ficará connosco”, afirmou o apresentador de televisão Nagui.

Nas suas canções, Michel Delpech fazia com “simplicidade e ‘finesse’” uma crónica da França dos anos 70, abordando desde as transformações sociais nas famílias ao êxodo rural e às preocupações ecológicas. As letras de Les divorcés  ("Tu garderas l'appartement. /Je passerai de temps en temps, /Quand il n'y aura pas d'école.") Le Loir et Cher , Le chasseur, Pour un flirt ( "Pour un flirt avec toi /Je ferais n'importe quoi"), Wight is Wight, Quand j'étais chanteur  ou Inventaire 66 ("Une minijupe, deux bottes Courrèges/ Un bidonville et deux Mireille/ Une nouvelle Piaf, un p'tit oiseau de toutes les couleurs/ Une nouvelle Darc qui brûle les planches/Une religieuse, un Cacharel/ Des cheveux longs, des idées courtes/ Un vieux Paris, un Paris 2/Des paravents à l'Odéon, un Palmarès de la Chanson/ Et toujours, le même président//", falava de De Gaulle, sem o nomear) mostram isso. Ao mesmo tempo vivia ao estilo da época. A sua divisa era “sexo, drogas e rock and roll”, delapidando a fortuna, consumindo substâncias ilícitas e acumulando conquistas amorosas.

“Colava a mim próprio uma imagem que me era imposta, a de príncipe charmoso, um cantor para as meninas com camisas às pintinhas”, disse numa entrevista ao jornal France-Soir. Mas tudo mudou na sua vida quando em 1978 a sua mulher o abandonou, partindo para a Polinésia e ele ficou com a guarda dos filhos. Michel Delpech entrou numa depressão que durou sete anos, virando-se para o hinduísmo e indo buscar ajuda na psicanálise. Em 1992 volta a casar e regressa aos palcos. Uma travessia do deserto que contou na sua autobiografia L'homme qui avait construit sa maison sur le sable (1993).

Grande admirador dos Beatles, dos Beach Boys, de Neil Young e de Nick Cave, Michel Delpech recomeçou a publicar álbuns no final dos anos 90.

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