Henrique Neto “actor” no Chiado no dia da apresentação da biografia oficial

O candidato presidencial passou a tarde na rua a distribuir panfletos e acabou por “recrutar” um voluntário em plena Rua Garrett. Diz achar “graça” a ser o primeiro nome dos boletins de voto, mas que não tem “repercussões”.

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Henrique Neto não passou despercebido pelas ruas da Baixa-Chiado Guilherme Marques

Henrique Neto com gola alta preta e casaco até aos joelhos, rodeado por três câmaras de televisão em frente a uns Armazéns do Chiado lotados, a distribuir panfletos sobre a sua candidatura. Não é muito difícil de entender a mãe que respondeu à filha que “era um actor, estão a filmar uma novela” quando esta perguntou “quem era o senhor”.

O senhor é empresário, militante socialista e candidato presidencial nas eleições de Janeiro, e passou a tarde numa acção de campanha na Baixa-Chiado, em Lisboa, a distribuir panfletos pelos transeuntes com a ajuda de voluntários. Depois, apresentou a sua nova biografia Henrique Neto, O estratega - Histórias de Vida de um Homem de Visão, numa livraria da Rua Nova do Almada.

Apesar do Chiado estar confuso e cheio de pessoas, na ressaca do Natal e talvez na troca de presentes, Henrique Neto destacava-se facilmente. Na Rua Garrett, mesmo no centro da típica zona alta lisboeta, o candidato atraía olhares, não tanto pelo reconhecimento político, mas pelas câmaras de televisão e jornalistas de gravadores, num número superior ao dos voluntários da campanha presidencial.

“No final do dia devo ter entregue uns 200 flyers”, diz uma das voluntárias. “Até agora ainda não se fez muitas destas iniciativas, mas agora é que vai começar”, assegura outro membro da comitiva. Quase todas as pessoas aceitam os papéis, incluindo muitos turistas, que, tal como a maioria dos portugueses, não parecem saber para que serve o que têm nas mãos. “Até agora ainda não ouvimos bocas, ninguém disse algo desagradável. Mas acho que o Henrique Neto não vai suscitar esse tipo de sentimentos”, continua o mesmo voluntário.

A meio da rua, um jovem aproxima-se do candidato. Diz chamar-se Sebastião, tem 24 anos, sem filiação partidária e apoia Henrique Neto, porque avaliou “os candidatos todos e tinha imenso interesse em conhecê-lo pessoalmente”. Pede uns folhetos e pergunta se “pode ajudar”. Henrique Neto diz que sim e a partir de agora tem mais um voluntário para a campanha. Assim mesmo.

Uma biografia que sairia "à mesma"
A apresentação da sua biografia contou com a presença de algumas caras conhecidas, como Nuno Crato, Mira Amaral, Ribeiro e Castro ou Pacheco Pereira. O fundador da Editora Gradiva, Guilherme Valente, admitiu que queria publicar o livro da vida do “seu amigo de infância Henrique Neto” já há muito tempo. “Nunca o pensei fazer numa circunstância política destas”, admitiu, mas ressalvou que, “mesmo que o Henrique não fosse candidato à Presidência da República, publicaria o livro à mesma”.

A autora da biografia, a jornalista Filipa Moreno, também concorda que a obra é influenciada por surgir num “ambiente político de presidenciais”, mas acredita que “o livro pode ter vida para lá do 24 de Janeiro”. “Todos nós gostamos de conhecer casos de sucesso e o Henrique Neto é um desses casos”, diz, até porque o candidato presidencial ascendeu de “uma família pobre” até à fundação do “maior grupo de moldes do mundo”.

Sobre o facto de ter sido o primeiro nome sorteado para figurar no topo do boletim de voto das presidenciais de 24 de Janeiro, o antigo deputado pelo PS desvaloriza, apesar de “achar graça”. "Nunca me saiu a sorte grande, desta vez saiu-me o primeiro lugar. É um factor positivo, mas vale o que vale. Não tem grande repercussão política", refere.

Quanto aos orçamentos para a campanha, tornados públicos pelo Tribunal Constitucional na segunda-feira, Henrique Neto também mostrou indiferença em relação aos seus valores de despesa, estimados em 275 mil euros, quando comparados com os 175 mil de Marcelo Rebelo de Sousa.

“Quanto é que custou às televisões os anos que o dr. Marcelo Rebelo de Sousa fez comentários? Portanto, ele agora não precisa de fazer nada, os portugueses conhecem-no, sabem o que ele é. Talvez não o conheçam é o suficiente e espero que os próximos debates mostrem um Marcelo Rebelo de Sousa ainda muito desconhecido, nomeadamente nas suas perspectivas políticas”, preferiu destacar. Texto editado por Leonete Botelho.

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