Quando for grande quero ter um banco

Se o interesse do Governo é, “tomada em consideração a defesa dos depositantes, a defesa dos postos de trabalho, a salvaguarda da economia, em especial das regiões autónomas e a defesa da estabilidade do sistema financeiro”, então não salvem os bancos e paguem apenas os depósitos

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António Arruda (Arquivo)

À medida que crescemos e nos tornamos adultos vamos aprendendo que cada acção tem uma reacção e não podemos esperar resultados diferentes com as mesmas atitudes. Já assim o diziam Newton e Einstein.

Assim, aplicando o método científico à realidade, fui crescendo e evoluindo, habituando-me a pensar que se não tivesse um juízo de valor em relação às minhas acções, as suas consequências poderiam ser nefastas.

Os nossos pais, seguindo as suas próprias tradições, tentam educar-nos (pelo menos tentam!) por recompensas – Faz isto e damos-te aquilo! – para que inconscientemente nos possamos aperceber que uma boa acção terá fatalmente uma boa reacção. Ainda que nem sempre seja assim.

Cedo aprendi que se esperasse ter elogios portando-me mal, isso não iria acontecer, embora os nossos pais, maioritariamente, sejam benevolentes no que toca a elogios. Ainda assim os meus professores não o foram e se queria ser bem-sucedido não me poderia render ao mau comportamento.

Ora, imagine-se, o que eu não sabia é que tudo isto estava errado!

Seja porque é possível portar-me mal e ser bem-sucedido, como posso errar uma e outra vez e o resultado conduzir-me-á sempre ao sucesso! Só não sabia é que isto só é possível se for dono de um banco! Seja porque cá na nossa terra, caminhando para 900 anos de existência, não os deixam cair e também porque não tenho os chatos dos pais a ver o mal que nos portamos, diga-se por pais, o agente fiscalizador – Banco de Portugal.

Vejo o nosso primeiro-ministro, não eleito nos votos mas elegido posteriormente por negócio eleitoral, dizer sobre o caso do BANIF, que “esta venda tem um custo muito elevado para os contribuintes. Mas é, no quadro das soluções hoje possíveis a melhor que defende o interesse nacional”. Ora, aquilo que me ensinaram e eu aprendi foi que o interesse nacional é o mesmo do interesse dos contribuintes! Aliás, pelo que me é dado deduzir, o interesse dos contribuintes não será terem custos elevados. Logo, o interesse não será necessariamente nacional; será privado! Do banco ou de quem em seu nome usou o dinheiro que lhe faltará.

Assim, sendo eu contribuinte, não me lembro de o BPN, BPP, BES e BANIF me terem contactado para distribuição de lucros. Então porque sou agora indigitado no pagamento de créditos?!

Se o interesse do Governo é, “tomada em consideração a defesa dos depositantes, a defesa dos postos de trabalho, a salvaguarda da economia, em especial das regiões autónomas e a defesa da estabilidade do sistema financeiro”, então não salvem os bancos e paguem apenas os depósitos.

Quanto aos trabalhadores, correm o risco idêntico ao de qualquer pequeno empresário falido, na hoje designada microeconomia. Tal como vem acontecendo aos milhares de pequenos comércios, de indústrias e de serviços, quando tem de despedir os seus respetivos trabalhadores. Sendo também certo que ele próprio — empresário — tudo perde (os valores investidos, o património pessoal penhorado, etc.) e se torna em insolvente.

Agora que já cresci, que pena a minha, de quando era pequeno, não me terem dito que isto era assim! Certamente que o meu desejo, quando fosse grande, só poderia ser querer ter um banco.

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