Quatro membros do Governo vão disputar eleições para as distritais do PS em Março

Secretário-geral socialista vai empenhar-se para que haja candidaturas únicas, mas no Porto e em Coimbra adivinha-se um combate duro.

José Luís Carneiro e Manuel Pizarro deverão reeditar corridas anteriores à distrital portuense.
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José Luís Carneiro e Manuel Pizarro deverão reeditar corridas anteriores à distrital portuense. Fernando Veludo/NFACTOS
Marcos Perestrello quer manter-se à frente da federação lisboeta enquanto Pedro Nuno Santos está disponível para o quarto mandato em Aveiro.
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Marcos Perestrello quer manter-se à frente da federação lisboeta enquanto Pedro Nuno Santos está disponível para o quarto mandato em Aveiro. Daniel Rocha/Arquivo

Os socialistas vão disputar em breve uma das eleições internas mais importantes deste novo ciclo político – as distritais. O calendário eleitoral está marcado para dentro de três meses e desta vez há quatro membros do Governo a disputá-las. Os congressos federativos estão marcados para o dia 19 de Março, mas o combate das distritais acontecerá quinze dias antes e é no Porto e em Coimbra que se concentram as atenções.

O secretário-geral do PS e primeiro-ministro, António Costa, aproveitará as eleições internas para dar um sinal de unidade do partido e empenhar-se-á para que haja candidaturas únicas, mas as distritais do Porto e de Coimbra vão ficar de fora deste figurino. “Um Governo que exige negociação e confronto de ideias diário na governação não lhe interessa que haja um curto-circuito interno, nem confrontos entre grupos e facções em cada distrito”, afirma o dirigente nacional Miguel Alves, que vai disputar a presidência da distrital de Viana do Castelo.

O presidente da maior federação do PS, José Luís Carneiro (apoiante de António José Seguro nas eleições primárias), vai recandidatar-se a um terceiro mandato à frente do PS-Porto e deverá ter oposição garantida. O vereador da Câmara do Porto e ex-secretário de Estado-Adjunto da Saúde Manuel Pizarro (que esteve com António Costa) está a ser pressionado internamente para ir defrontar o actual secretário de Estado das Comunidades.

Ao que o PÚBLICO apurou, há uma grande mobilização para que desta vez Manuel Pizarro protagonize uma candidatura que vá ao encontro do novo ciclo político que se iniciou com Costa na liderança do partido. Desta vez, Pizarro não deixará o terreno todo para Carneiro, como aconteceu há dois anos. Em 2014 os dois socialistas chegaram a um entendimento político que foi visto como um teste à pacificação interna. A crispação entre as tropas de Costa e de Seguro nunca foi ultrapassada e isso ficou evidente na elaboração da lista de deputados à Assembleia da República apresentada pelo presidente da distrital ao secretário-geral. Costa não gostou das escolhas, avocou a lista e reorganizou-a, tornando-a mais equilibrada.

O dirigente nacional Manuel Pizarro não faz grandes comentários, limita-se apenas a dizer: “Estou, como sempre tem acontecido, concentrado numa acção política a favor do Porto e consistente com a orientação do PS. Partilho da ideia que julgo que é hoje maioritária de que o PS precisa no Porto de uma federação mais activa, mais aberta e com maior participação democrática, e estarei disponível para participar num esforço necessariamente colectivo para que surjam soluções consensuais que vão nessa direcção.”

Ou Governo ou partido
O PÚBLICO sabe que José Luís Carneiro quer continuar à frente da maior estrutura distrital socialista, até porque do ponto de vista estatutário não há nenhum impedimento. O secretário-geral do partido veria com bons olhos que quem desempenha cargos governativos se concentrasse exclusivamente nessas funções, deixando que outros se ocupem dos cargos partidários. A este propósito, um dirigente nacional declarou ao PÚBLICO que o “PS tem regras para não acumular cargos executivos”. Seja como for, se Costa não der nenhum sinal em sentido contrário, todos aqueles que são membros do Governo vão disputar eleições em Março.

Marcos Perestrello, secretário de Estado da Defesa, recandidatar-se-á à presidência da FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa), o mesmo acontecendo com Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, que estará disponível para o quarto mandato à frente da distrital de Aveiro. Carlos Miguel, secretário de Estado das Autarquias Locais, que fez campanha por Costa, vai de novo a votos na Federação Regional Oeste e José Luís Carneiro recandidata-se ao Porto. O ministro da Agricultura, Capoulas Santos, é a única excepção e não vai disputar a liderança da distrital de Évora.

Coimbra, uma federação muito disputada
Coimbra é outro distrito difícil. O actual líder distrital, Pedro Coimbra, não terá vida facilitada porque a “estrutura da concelhia estará a dar sinais de que poderá não o apoiar”, segundo fontes socialistas locais. O deputado, que esteve com António José Seguro no combate interno das primárias, deverá recandidatar-se, mas antes de anunciar a candidatura pretende auscultar apoios. “Tenho a consciência do dever cumprido e dos resultados alcançados no distrito nas autárquicas, europeias e legislativas com o apoio de todos”, revela Pedro Coimbra.

Na corrida para esta distrital estará também Francisco Rolo, o vice-presidente da Câmara de Oliveira do Hospital, que foi apoiante de Costa. Simpatizante de Sampaio da Nóvoa, o autarca ainda não anunciou, mas a imprensa local dá conta da sua disponibilidade para avançar. Outro nome de que se fala é o do presidente da Câmara da Lousã, Luís Antunes, um ex-apoiante de Seguro e que nas presidenciais dará o seu voto a Maria de Belém. No meio deste puzzle rosa, há ainda o nome de Carlos Cidade. O vereador da Câmara de Coimbra ponderou ir a jogo, mas terá desistido de entrar na corrida eleitoral.

Mais a Norte, em Viana do Castelo, Miguel Alves, actual presidente da Câmara de Caminha, anunciou há dias aos militantes que vai disputar a liderança da distrital e que para isso vai abandonar as funções de secretário nacional-adjunto do PS. Ao PÚBLICO confirmou a pretensão de “consolidar a presença autárquica do PS e valorizar o Alto Minho”, anunciando a candidatura no início do ano.

À distrital de Viseu, voltará a candidatar-se o deputado António Borges. O ex-presidente da Câmara de Resende diz que o cronograma eleitoral ainda não foi definido e que só pretende pensar na sua recandidatura no início do ano.

Garantida é a recandidatura de Luís Festa à distrital de Portalegre. Apoiante incondicional do secretário-geral, Luís Festa conta com o apoio de presidentes de câmara e das 15 concelhias. “Estamos muito coesos e a equipa que vai a votos abrange todo o distrito”, diz, apelando ao partido para que se mobilize para o combate das presidenciais.

Em Leiria, José Miguel Medeiros, deputado e membro da comissão parlamentar de Defesa, ainda não decidiu porque, disse ao PÚBLICO, tem outras “tarefas políticas para resolver”. Assume que só está “disponível para um cenário de grande concertação e para trabalhar para o PS, juntando as pessoas”.

O deputado Francisco Rocha não tem ainda uma data para anunciar a sua recandidatura à federação de Vila Real. Em Braga, Joaquim Barreto sucede a… Joaquim Barreto. O deputado, que acabou por fazer campanha por Costa, conta com o “apoio das várias estruturas do partido e também de autarcas do distrito” e deverá anunciar nos próximos dias a sua candidatura. Desta vez, não deverá ter oposição. Em 2014, Barreto defrontou Maria José Gonçalves, uma militante de Famalicão, apoiante de Seguro, e as eleições ficaram marcadas por várias impugnações de parte a parte.

Do processo eleitoral das 19 federações do PS vão sair os responsáveis políticos que vão preparar o combate autárquico de 2017.

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