Jovens mais inteligentes ou dependentes?

O exercício físico é um excelente estimulante da circulação cerebral.

Com a evolução do conhecimento da biologia e funcionamento cerebral, concretamente a investigação nas neurociências, é hoje possível aumentar a acuidade das funções cognitivas como por exemplo a memória operativa, a atenção, as capacidades perceptivas visio/espaciais, a inibição e mesmo a tomada de decisão através da acção de substâncias psicoactivas, concretamente estimulantes e potenciadores cognitivos, que actuam tentando respeitar os mecanismos naturais do cérebro como são exemplos o Oxiracetam e o Modafinil. Este tipo de substâncias tem uma acção estimulante sobre determinadas estruturas e circuitos cerebrais através do aumento da concentração de Dopamina, principalmente em regiões de regulação do ritmo circadiano aumentando os períodos de vigília, conduzindo a uma agilização do funcionamento neurológico através do aumento das conexões sinápticas, mantendo a pessoa com a percepção ou o sentimento de não necessitar de dormir e ao aumento da clareza mental. É evidente que existem pessoas mais propensas a utilizar substâncias que melhorem o seu desempenho cognitivo, nomeadamente aquelas que estão sujeitas a uma tensão elevada. O princípio de que os sistemas neuronais podem crescer quando estimulados (Plasticidade neuronal) e daí resultar uma maior actividade do cérebro, está presente na generalidade da acção das substâncias estimulantes e mesmo das psicadélicas em doses baixas.

No entanto esta ideia de ficarmos “mais inteligentes” de um momento para o outro, veja-se o filme "Limitless” com o seu NZT 48 ou a recente panóplia de nutrientes e suplementos cerebrais que vêem no mesmo sentido para nos proporcionar uma acelerada e “bem-aventurada clarividência” mental: a inteligência à distância de uma pílula!... Que ainda por cima não causam dependência ou outros efeitos colaterais, deve merecer alertas que me parecem relevantes.

Desde logo a necessidade em continuar a informação e educação numa alimentação variada onde vamos adquirir nutrientes acrescidos, como a colina, os ómega 3 e a tirosina, essenciais para o metabolismo cerebral e para estimular a produção de neurotransmissores.

O exercício físico, que para além dos ganhos musculares e perca de gordura, é um excelente estimulante da circulação cerebral.

O comprometimento com actividades socioculturais e de promoção profissional potenciadores de robustos sentimentos de confiança e utilidade, que influenciam os mapas mentais para tomadas de decisão mais sentidas.

As actividades potenciadoras de bom humor que são de grande efeito na diminuição da excitação cerebral e consequente redução do stress.

Depois lembrar que, e apesar dos efeitos conhecidos do aumento da capacidade de percepção, da concentração, da memória de trabalho, do processamento e do ritmo verbal, nenhuma estimulação cerebral e das funções neurocognitivas substitui a obtenção de informação e conhecimento.

Por fim, mas não menos importante, sabemos da ténue possibilidade de danos colaterais assinaláveis a curto prazo. O que não sabemos é que consequências poderão advir a médio e longo prazo como por exemplo adaptações funcionais a longo prazo em sistemas neuronais e despertar características ou memórias mais penosas para os indivíduos, designadamente em pessoas mais vulneráveis geneticamente.

Mas estamos no tempo da ultrapassagem do tempo, e em comparação com estas actividades mais dilatadas no tempo, torna-se tentador uma estimulação em horas ou dias, um desempenho imediato potenciado pelo valor emocional atribuído à representação da acção que é pretendida. Não se pode esperar, pois aquele treino cognitivo é mais demorado, seguramente mais sedimentado e sem interferência noutros mecanismos cerebrais, a oferta é de facto atraente.

Psiquiatra, Presidente da Associação Portuguesa de Adictologia- Associação Portuguesa para o Estudo das Drogas e das Dependências (APEDD)

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