Iraquianos tomam centro de Ramadi e proclamam derrota do Estado Islâmico

Tropas e tribos sunitas conquistaram o grande complexo governamental que servia de base aos jihadistas. Persistem ainda algumas bolsas de resistência.

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Combatente iraquiano observa neste domingo os avanços sobre um bairro de Ramadi. AFP

As forças especiais do exército iraquiano conquistaram neste domingo o grande edifício governamental do centro de Ramadi, até agora o grande centro de operações do grupo Estado Islâmico na cidade. As tropas de Bagdad estavam a tentar fazê-lo desde terça-feira, primeiro dia da campanha para reconquistar a cidade, nas mãos dos jihadistas desde Maio.

Com a captura do edifício, o exército reclama a derrota dos jihadistas. "Controlar o complexo significa que foram derrotados em Ramadi", disse à Reuters um porta-voz dos militares, Sabah al-Numani. "O próximo passo é limpar bolsas de resistência que existam aqui e ali na cidade."

O exército anunciou o começo da operação nas primeiras horas da manhã. A reconquista da cidade começou pelos subúrbios, ainda em Novembro, mas o avanço pelo centro foi lento. As ruas estão armadilhadas com explosivos e carros bomba. O grupo, para além disso, fez vários atentados suicidas contra os militares. Os soldados da equipa antiterrorismo combatem com aliados tribais sunitas e recebem apoio aéreo da coligação liderada pelos Estados Unidos, crucial em ataques aéreos e detecção de armadilhas. 

Fontes militares ouvidas pela BBC acreditam que os combatentes do Estado Islâmico recuaram para o Nordeste de Ramadi. Não se sabe ao certo quantos jihadistas continuam na cidade, mas alguns relatos referem cerca de 400 homens. Combatiam em muito menor número, mas profundamente entrincheirados. Só este fim-de-semana, avançam fontes do exército, foram desactivadas cerca de 260 armadilhas com explosivos. 

“Há casas armadilhadas e bombas à berma da estrada em todo o lado. Têm de ser eliminadas. A vigilância aérea está a ajudar-nos a detectar carros armadilhados e bombistas suicidas antes de chegarem a nós”, afirmava o porta-voz do exército, ainda antes do começo da operação deste domingo. 

É ainda incerta a situação no terreno, assim como o grau de resistência que os iraquianos podem enfrentar nos bairros a Nordeste. Em todo o caso, a conquista do centro de Ramadi está a ser recebida como uma vitória final. A AFP dá conta de festejos em várias zonas do país e há já felicitações de oficiais americanos. 

"A nossa coligação aérea orgulha-se de apoiar os corajosos soldados iraquianos na derrota do Estado Islâmico em Ramadi. O apoio prosseguirá até que todas as zonas tenham sido libertadas", escreveu no Twitter o enviado especial de Washington para a aliança contra os jihdistas, Brett McGurk.

As milícias xiitas, que no passado foram o motor de muitas das vitórias contra os extremistas do Estado Islâmico no Iraque, não participam na batalha por Ramadi. O Governo quis evitar os conflitos sectários na capital da província de Anbar, a maior do país e o bastião da sua população sunita. No fim das operações, a defesa de Ramadi ficará a cabo da polícia iraquiana e tribos sunitas. 

Mais de 250 famílias escaparam da cidade desde que começaram as grandes operações de terça-feira, mas é provável que existam ainda civis em zonas controladas por jihadistas. Alguns sobreviventes dizem terem sido usados como escudos humanos à medida os combatentes do Estado Islâmico recuavam.

Pressão sobre jihadistas
Para além de uma importante reconquista territorial, recuperar Ramadi é importante para a imagem do exército iraquiano. Os jihadistas tomaram a cidade em Maio com poucas centenas de combatentes que, mesmo assim, conseguiram provocar a fuga desordenada de milhares de tropas governamentais. Estes deixaram para trás equipamento e armas, numa repetição da imagem da primeira vaga de conquistas do Estado Islâmico, em 2014. A queda de Ramadi foi duramente criticada por Washington.

Na noite de sábado, várias contas ligadas ao Estado Islâmico publicaram nas redes sociais aquilo que dizem ser um comunicado do seu autoproclamado califa, Abu Bakr al-Baghdadi. O registo em áudio não foi ainda analisado, mas, a confirmar-se a sua autenticidade, será a primeira que o líder do grupo faz um comunicado desde que, em Outubro, se avançaram notícias de que Baghdadi morrera ou ficara gravemente ferido num bombardeamento no Iraque.

O alegado califa pede aos seguidores na Arábia Saudita e no Golfo que se juntem ao grupo e parece admitir um momento difícil – desde o seu último comunicado, há sete meses, milícias curdas reconquistaram grande parte do território dos jihadistas no Norte da Síria e a Rússia começou a sua campanha aérea.

“Não se desassosseguem, ó muçulmanos, o vosso Estado está bem e alarga-se diariamente, e com cada contrariedade que o atinge, cospe os hipócritas e torna-se mais firme e forte”, reivindicou Baghdadi.   

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