Fábrica da Font Salem amplia produção e vira-se para os refrigerantes

Investimento de 8,6 milhões na antiga unidade da cerveja Cintra permitiu aumentar a capacidade para dois milhões de litros. Haverá novos investimentos quando passar a produzir os refrigerantes da Unicer.

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Em seis anos de actividade em Portugal, a Font Salem investiu mais de 50 milhões de euros na sua fábrica portuguesa Daniel Rocha

Em 2016, da fábrica da espanhola Font Salem em Santarém sairão dois milhões de litros de refrigerantes. A empresa catalã, que em 2010 comprou a unidade à insolvente Drinkin, estava inicialmente focada na produção de cerveja com a marca das maiores cadeias de distribuição, mas o crescimento deste mercado ficou aquém das expectativas. Além da queda de consumo e do preço, as duas líderes do sector (Central de Cervejas e Unicer) produzem marcas mais baratas em exclusivo para as cadeias de hiper e supermercados — Marina, no caso da Unicer, e Cergal, da Central de Cervejas —, deixando pouco espaço para mais cerveja nas prateleiras.

“A quota da marca de distribuição não cresceu como queríamos. Situa-se aproximadamente nos 20% e a previsão era estar perto dos 40%, como sucede em Espanha”, diz Antoni Folguera, director-geral. Reforçar as vendas para Espanha e exportar para outros mercados foi a solução mas, em meados de 2013, começou a ser desenhado um novo projecto. “O mercado dos refrigerantes tem muito potencial. A quota das marcas próprias é de 50% e em Espanha é de apenas 25 a 30%, o consumidor não tem tanta fidelidade. Actualmente, a maior parte do volume [que é vendido em Portugal] é feito em Espanha, por empresas nossas concorrentes”, detalha.

Com uma estrutura que garante ser “competitiva” e trabalhadores com experiência, a Font Salem avançou para a segunda ampliação da fábrica dos últimos seis anos e investiu 8,6 milhões de euros, dois milhões dos quais garantidos por fundos comunitários. No próximo ano, poderá fabricar um milhão em 200 mil hectolitros de cerveja e dois milhões de litros de refrigerantes.

“Isto permite-nos competir com as maiores fábricas em Espanha e ficar muito equilibrados face a outros produtores. Os custos de entrada são muito importantes mas, se não tivermos capacidade de produção equivalente, dificilmente conseguimos um preço competitivo”, detalha o gestor, acrescentando que este é um investimento “estratégico” que permite reduzir as importações nacionais de refrigerantes.

Ao mesmo tempo, o encerramento da fábrica da Unicer em Santarém (a Rical), anunciado no início de Outubro, acabou por ser uma oportunidade para a Font Salem, que passará a produzir as marcas Frisumo, Frutea ou Frutis, detidas pela cervejeira. As duas empresas já tinham acordos de produção conjunta, mas o fecho da Rical traduziu-se no “prolongamento” dessa colaboração. “Serão maiores volumes e uma parceria mais intensa, tudo será feito aqui. Mas ainda estamos na fase de discussão”, adianta Antoni Folguera. “Vai ser preciso mais uma ampliação se os volumes chegarem ao que queremos”, continua.

Nesse cenário, será também preciso aumentar o número de trabalhadores. Actualmente, a fábrica tem 110 funcionários (em termos médios) e poderá recrutar mais 40, caso se concretizem as previsões de aumento de produção de refrigerantes. Antoni Folguera esclarece que os trabalhadores da Rical que perderam emprego são fortes candidatos a preencher as necessidades da empresa, mas não há qualquer acordo no que toca à sua incorporação automática na Font Salem. Quando anunciou o encerramento, a Unicer tinha referido, em comunicado, que dos 70 funcionários da Rical, 25 seriam integrados na fábrica que passaria a produzir os sumos.

“Será um processo de recrutamento aberto e é lógico que, tendo já experiência, são candidatos que preferimos. Mas há diferenças salariais, a nossa empresa tem um modelo low cost”, salienta Antoni Folguera, realçando que tudo depende da evolução do mercado.

Em seis anos de actividade em Portugal, a Font Salem investiu mais de 50 milhões de euros na sua fábrica portuguesa, valor que inclui a aquisição da unidade à Drinkin e as várias ampliações da linha de produção. A unidade impressiona pela dimensão de tubos metálicos, tapetes onde rolam latas de cerveja ou cola. Vêem-se poucos trabalhadores e a automatização é crescente. Cerca de 80% do que sai de Santarém são latas. E Espanha é o principal destino das bebidas (40%). Portugal absorve 20% e 10% são exportados para outros países nas regiões de África (Senegal, Guiné Equatorial ou Nigéria), China ou América Latina (Colômbia, México ou Peru). Os restantes 30% referem-se a produção feita para outros fabricantes (o chamado copacking).

A velha marca Cintra está a ser usada fora de Portugal e é vendida, agora, no Senegal, Gana ou Benim. Angola deixou de ser um país a conquistar, numa altura em que a crise do petróleo fez travar as importações de bebidas e bens alimentares.

A história da fábrica de Santarém começou em 2001, quando foi fundada por Sousa Cintra. O empresário investiu 60 milhões de euros no negócio com a ajuda de fundos públicos e comunitários. Sem conseguir vingar no mercado com a marca Cintra, a empresa foi vendida em 2006 a Jorge Armindo, presidente da Amorim Turismo, que, em Fevereiro de 2009, avançou com um pedido de insolvência. 

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