Falta de oferta nacional força cadeia Brio a importar produtos de mercearia

Cadeia de supermercados Brio tem 95% de fornecedores nacionais de produtos frescos, mas tem de comprar fora a maioria dos artigos de mercearia. No próximo ano, a rede abre cinco novas lojas, incluindo a primeira fora de Lisboa.

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Com 50 trabalhadores, a rede Brio estima atingir uma facturação entre seis a sete milhões de euros no próximo ano Enric Vives-Rubio
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Para conseguir abastecer as prateleiras com produtos de mercearia, a Brio, maior cadeia de supermercados biológicos do país, tem de importar 85% destes artigos. A agricultura biológica está a conquistar cada vez mais produtores e área cultivada, mas falta diversificar, sobretudo, na área da transformação alimentar, diz António Alvelos, director-geral.

“Tudo o que é transformado é importado. Estamos a tentar procurar fornecedores. Em 2011 [quando a empresa foi comprada pelo The Edge Group] tínhamos azeites, compotas, mel; agora, a diferença é que há, por exemplo, 30 produtores diferentes de azeite. Fora destes produtos não há nada”, detalha.

O cenário é o inverso na zona dos frescos. Cerca de 95% dos fornecedores são nacionais e o número de novos produtores a propor vender na cadeia está a aumentar. Os dados mais recentes da Direcção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural mostram isso mesmo. Entre 2013 e 2014, o número de agricultores registados aumentou 9% e a terra usada para produzir cresceu 8%, atingindo os 212.345 hectares. Este ano, a área deverá aumentar 35%, com a entrada neste negócio de 1300 produtores e mais verbas de Bruxelas.

António Alvelos conta que a empresa tem sido contactada por quem se está a iniciar na produção. “Alguns, encaminhamos para determinados produtos para que não sejam sempre os mesmos. Faz-nos falta sobretudo carne e ovos, até porque há apenas um matadouro em Portugal onde é possível seguir o modo biológico e isso dificulta a logística e faz aumentar o preço”, detalha.

Mais cinco lojas no horizonte
Depois de anos de travão, a Brio voltou a dar gás ao projecto de expansão e, das cinco actuais lojas que tem na zona de Lisboa, espera passar a dez no próximo ano. Em Janeiro terá o primeiro supermercado fora da capital, em Aveiro, e está a negociar para abrir no Porto e na zona centro do país.

“Entre 2012 e 2013 parámos a expansão. Durante estes anos de crise sentimos que os clientes que tínhamos compraram muito menos”, diz o director-geral. Este ano, a empresa deverá facturar quatro milhões de euros, mais 10% em comparação com 2014 e tendo em conta o mesmo número de lojas. Este crescimento segue-se ao do ano passado, quando os Brio sentiram já a recuperação das vendas e cresceram cerca de 15%. “As coisas estão francamente a voltar a crescer”, afirma António Alvelos.

A diferença de preços face aos produtos convencionais está, agora, nos 15 a 20%, tendo descido ligeiramente face a 2011, quando os produtos biológicos eram 20 a 25% mais caros. António Alvelos diz mesmo que tem havido uma aproximação cada vez maior, principalmente, nas frutas e legumes. “Quando há excedentes de produção, chegam a ser mais baratos do que os convencionais. Às vezes conseguimos um preço competitivo”, exemplifica.

Uma coisa que mudou de forma substancial nos últimos quatro anos foi o interesse do consumidor. “Há uma diferença enorme. Claramente, a alimentação biológica e saudável está na mente da maior parte das pessoas. Há uma grande mudança, tanto em relação a estes produtos alimentares como noutras áreas viradas para o cuidado com o corpo, como as medicinas alternativas. Em 2011, uma ou duas pessoas falavam sobre estes temas, hoje todos falam”, analisa o gestor.

A cadeia detida pelo The Edge Group — holding de investimentos de Miguel Pais do Amaral e José Luís Pinto Basto — tem nos planos desde o início arrancar com vendas online, mas a “complexidade” do negócio acabou por adiar a estreia. “Vamos tentar em 2016, ainda sem certezas absolutas. A complexidade tem a ver com logística, não em termos das entregas mas do controlo do stock”, detalha António Alvelos. Outro dos projectos que a empresa tinha em 2011 era vender produtos com marca própria, mas o tema está a ser discutido internamente. O director-geral avança que o posicionamento da cadeia Brio é “um pouco contrário ao conceito de marca própria”, mas nada está fechado.

Com 50 trabalhadores, a rede Brio estima atingir uma facturação entre seis a sete milhões de euros no próximo ano, e crescer até aos oito ou nove milhões no ano seguinte.

A primeira loja abriu em 2008 em Campo de Ourique, fundada por Carlos Vicente e Miguel Carvalho Marques. Em Maio de 2011, os dois sócios venderam 50% do capital ao The Edge Group, que recentemente comprou a Majora e é dono do Fitness Hut.

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