Natal, vir e voltar

A partir de meados do mês de Dezembro, os aeroportos testemunham o retorno de emigrantes prestes a enfrentar uma mesma dificuldade: dispor do tempo necessário para rever todas aquelas pessoas que lhes são queridas

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São portugueses mas vivem em Paris, em Basileia, em Londres, no Luxemburgo, em Bogotá ou em Nova Iorque. Adoptaram um outro país que não aquele de onde são naturais em consequência de um ano de Erasmus, de uma experiência de estágio lá fora ou, mesmo, do envio directo de CV para empresas estrangeiras. Em comum têm todos a procura de uma vida melhor e de condições mais benéficas de empregabilidade, e um mesmo país de origem: Portugal.

O ano é, como no caso de Diogo, passado apenas com visitas esporádicas a casa em momentos-chave, mas estes jovens emigrantes regressam agora para celebrar o Natal, numa tradicional reunião familiar.

Durante os preparativos, enchem a mala com o mínimo essencial, que inclui, claro, as prendas que vão distribuir por quem lhes é importante, de modo a que haja espaço suficiente para aquilo que querem levar de volta. Para além de receios práticos e bastante comuns como o de perder o avião, os dias que antecedem a viagem não se fazem acompanhar de medo, apreensão ou de qualquer outro tipo de sentimento pessimista, e os objectivos são unânimes: rever a família e os amigos, matar saudades do mar e da comida portuguesa, desfrutar do tempo privilegiado a que temos direito, ir a consultas de rotina e recarregar as baterias dos mimos. Para Maria, se, por ventura, adoecer, nem isso tem mal, porque é em Portugal, em casa, que tudo sabe bem e que se recupera de qualquer coisa, normalmente com ajuda do carinho da mãe, que tanta falta faz lá fora.

Porque regressam eles no Natal, em vez de o passarem no país de acolhimento? A resposta, diz Mónica, é simples: é cá que se encontram as suas pessoas e só com elas faz sentido passar certos momentos, como, por exemplo, a Passagem de Ano.

A partir de meados do mês de Dezembro, os aeroportos testemunham, então, o retorno de emigrantes prestes a enfrentar uma mesma dificuldade: dispor do tempo necessário para rever todas aquelas pessoas que lhes são queridas e com quem o contacto, ao longo do ano, é pontual e mais digital do que presencial. Com eles trazem histórias de sucessos profissionais e pessoais que, por cá, se viram impossibilitados de alcançar.

Durante alguns dias, as suas cidades-natal tornam-se num local de confluência e de reencontro das imensas vidas espalhadas pelos vários cantos do mundo e as casas maternas voltam a ser aquilo que foram em tempos — cheias de gente, com todos os filhos à volta da mesa e o vaivém constante de uma vida quotidiana preenchida —, como se o tempo rebobinasse momentaneamente.

Todavia, passadas as festividades, o relógio recomeça a contar e indica a hora da partida dos que vivem, agora, num país estrangeiro. Com eles regressam corações aquecidos, paladares recuperados, saudades de quem fica e, ainda que nalguns casos muito ténue, um desejo calado de que a conjuntura fosse mais favorável e de que as histórias pudessem ser, finalmente, contadas pessoalmente e a um ritmo constante.

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