Um dos três candidatos à liderança do CDS-Madeira desiste

Os centristas madeirenses decidem quem é o sucessor de José Manuel Rodrigues num ambiente de divisão interna. Intervenção de Paulo Portas encerra os trabalhos.

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João Catanho, um dos três candidatos à liderança do CDS-Madeira no XV Congresso, desistiu ontem da corrida à sucessão de José Manuel Rodrigues. Este abandono ocorreu depois de o seu apoiante Ricardo Vieira ter retirado a moção que previa uma alteração profunda no partido. Vieira abandonou os trabalhos por discordar do adiamento da discussão dos estatutos, decisão aprovada por uma maioria de um voto (59 contra 58).

“Na minha opinião pessoal não estão reunidas as condições para este ser um congresso livre e participado. Com alguma pena minha, vou deixar os trabalhos, porque não há condições para um congresso democrático”, disse antes de sair do hotel onde decorre até hoje a reunião.

“É uma situação insólita, muito má, que não prestigia nada o CDS”, comentou o deputado Rui Barreto, um dos candidatos à presidência do partido. “Para alguns, a democracia só serve quando ganham”, disse, por seu lado, o líder parlamentar Lopes da Fonseca, outro dos candidatos em liça.

Em causa está a sucessão de José Manuel Rodrigues, líder histórico dos centristas madeirenses, que apresentou a demissão na ressaca das legislativas de Outubro, em que os centristas madeirenses perderam 11 mil votos.

Barreto dizia personificar o “novo” CDS. Fonseca justifica a candidatura com a necessidade de unir às “várias sensibilidades”. E Catanho considerava importante centrar o partido, reforçando a sua matriz doutrinária e ideológica. Hoje, último dia do congresso, o futuro do partido, no que toca à sucessão de José Manuel Rodrigues, vai ser clarificado, mesmo que exista a convicção de que o vencedor herda um partido fragmentado. No grupo parlamentar de sete deputados, as diferenças de visão estratégica são evidentes e assumidas. “Temo que o partido possa sair fraccionado do congresso”, admitira Rui Barreto ao PÚBLICO, lamentando que o capital de estabilidade conseguido nos últimos 20 anos se perca — o que, depois do abandono dos apoiantes de João Catanho, parece ter ocorrido.

Lopes da Fonseca admitia os mesmos receios, mas compreendia a existência de várias moções globais em discussão. “Foi a primeira vez que um presidente do CDS-Madeira apresentou a demissão devido a resultados eleitorais”, observou, ressalvando que o partido precisa de ter uma “transição pacífica”. Foi dessa necessidade, justificou ao PÚBLICO, que nasceu a sua candidatura. “Se não existir um candidato que consiga unir as duas sensibilidades no congresso, temo que o partido se fracture.”  

“Não nos podemos dar ao luxo de passar por uma crise profunda, com guerrilhas internas, quando há problemas graves para resolver na Madeira”, acrescentou. 

“O CDS cresceu bastante nos últimos actos eleitorais, e isso tem de ser reflectido nos estatutos”, defendeu Ricardo Vieira. Observou que o CDS-Madeira tem de ser um partido que privilegie mais os vários órgãos, retirando peso à liderança. “Se conseguir aprovar a maioria das minhas propostas, a questão da liderança acabará por ser secundária”, desejava. Ora ontem isso não se confirmou.

Já Rui Barreto via nas ideias de Ricardo Vieira o “velho” CDS e uma tentativa de “revisionismo” do partido. “Tivemos, com José Manuel Rodrigues, uma liderança carismática e duradora, e não podemos agora voltar ao velho conservadorismo”, argumentou, explicando que o CDS-Madeira tem de continuar a ser um partido de “causas” e menos “doutrinário”.

Para Rui Barreto, conhecido por ter votado contra os orçamentos do Estado para 2013 e 2014 à revelia da coligação nacional PSD-CDS, tal não significava perder o ADN do partido. “Não podemos é ficar paralisados, sem interpretar a vontade do eleitorado.”

O deputado, o primeiro a assumir a candidatura, tem o apoio da maioria do grupo parlamentar, mas após terem surgido outros nomes perdeu terreno nas bases. João Catanho, que surgia na corrida escudado na moção de Rui Vieira, desdobrara-se em contactos e tinha ganho apoios importantes fora do Funchal.

“Considero muito importante centrar o partido nos valores fundamentais que o caracterizam. Julgo que deveremos ter as melhores soluções estruturais e organizativas face aos importantes desafios que o CDS na Madeira tem pela frente nos próximos tempos”, dizia então. Pretendia reforçar a matriz ideológica e doutrinária do partido.

Hoje, no encerramento do congresso, que conta com a presença de Paulo Portas, será conhecido o sucessor de José Manuel Rodrigues, que liderou o partido nas últimas duas décadas. Se será o “novo” CDS, o “velho”, o “presente” ou uma quarta via a ganhar, é uma incógnita. Certo é que quem sair vencedor terá depois de unir o partido que ontem apareceu ainda mais dividido.

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