Mudança na pasta das Finanças é mais um sinal da crise que o Brasil vive

Joaquim Levy, aposta de Dilma Rousseff no último ano, demitiu-se e vai ser substituído por Nelson Barbosa, considerado mais próximo da Presidente.

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Joaquim Levy, à esquerda, e Nelson Barbosa, em vésperas do render da guarda EVARISTO SÁ/AFP

Escolhido há cerca de um ano por Dilma Rousseff para pôr ordem nas contas públicas do Brasil, Joaquim Levy demitiu-se do cargo de ministro das Finanças e vai ser substituído por Nelson Barbosa, homem de confiança da Presidente, que transita da também estratégica pasta do Planeamento. A mudança é um novo episódio da crise económica e política que a sétima potência mundial está a viver.

 O Brasil entrou em recessão no segundo trimestre de 2015 e a situação económica foi afectada, já este mês, pelo início de um processo de destituiçãoimpeachment – de Dilma.

Depois de, em Setembro, a Standard & Poors ter classificado a dívida soberana do Brasil como especulativa - rating lixo - na passada quarta-feira foi a Fitch a fazê-lo. A decisão pode ser penalizadora para o país porque muitos dos grandes fundos não investem em países com uma classificação de especulativa de duas ou mais agências de notação financeira.

O Governo prevê que a economia se contraia 3,1% em 2015 e 1,9% em 2016 o que, a confirmar-se, representaria a primeira vez em mais de 80 anos que o país teria recessão durante dois anos consecutivos. Uma tal situação só ocorreu em 1930-31.

A saída do austero Levy, economista apelidado de “mãos de tesoura”, está longe de ser uma surpresa. Como recorda o jornal O Globo, aquele que foi a principal aposta do início do segundo mandato da Presidente perdeu várias batalhas internas, inclusive com Barbosa, na tentativa de promover o chamado ajuste fiscal – plano de austeridade para reequilibrar as contas públicas. “Levy foi o ministro que a Presidente Rousseff designou mas que nunca quis ouvir”, escreveu o diário, em editorial.

O Parlamento aprovou na quinta-feira um Orçamento para 2016 que prevê um modesto excedente primário de 0,5%, quando Levy reclamava 0,7%. Essa terá sido, segundo analistas citados pela agência AFP, “a gota de água que fez transbordar o copo”. O excedente primário é a diferença entre receita e despesa, sem contar com o pagamento dos juros da dívida.

As posições do ex-ministro motivaram protestos da oposição e de certas correntes do Partido dos Trabalhadores (PT), de Dilma e do seu antecessor, Lula da Silva. E Levy sai do Governo sem ter conseguido travar o crescimento do défice e com o ónus de ficar associado à entrada do país em recessão.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores do Brasil, fechou na sexta-feira, dia da demissão, em queda de 2,98%. Na opinião de António Alves dos Santos, coordenador do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, para os investidores o maior problema não é a saída de Levy, mas o nome escolhido para lhe suceder.

“O mercado não vê com bons olhos a chegada de Barbosa ao Ministério da Fazenda, porque ele é um dos responsáveis pela política económica que foi adoptada no primeiro mandato de Dilma”, disse à agência Lusa, em São Paulo. Apesar disso, “considera-o a escolha mais normal porque era o ministro do Planeamento, conhece a máquina”, afirmou à AFP André Leite, analista da consultora TAG Investimentos, de São Paulo.

Nelson Barbosa trabalhou no comité de reeleição do antigo Presidente, Lula da Silva, e participou na elaboração do programa económico da primeira campanha de Dilma, de quem é próximo. E é apreciado pelo PT. Espera-se que tente receitas menos ortodoxas do que as do antecessor, apesar de, numa conferência de imprensa, ter afirmado que “o compromisso com o ajustamento orçamental continuará a ser o mesmo”. “Só com estabilidade orçamental termos um crescimentos duradouro", disse.

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