Pedrosa festeja centenário da Barraqueiro e afasta acordo com o Governo sobre a TAP

Executivo diz que o processo de privatização não acabou, Neeleman e Pedrosa lembram que têm um contrato.

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Humberto Pedrosa e David Neeleman na assinatura do contrato de promessa de compra e venda da TAP, em Junho Rui Gaudêncio

Os novos donos da TAP, Humberto Pedrosa e David Neeleman, tiveram ontem uma primeira reunião com o ministro do Planeamento e Infra-estruturas, Pedro Marques, que tem a missão de negociar o regresso do controlo da TAP para o Estado, ou seja, pelo menos 51%. Foi uma "conversa de accionistas, e "simpática", mas tornou evidente que os projectos do Governo e dos novos donos da TAP "não casam", revelou ontem Humberto Pedrosa na cerimónia de lançamento do livro destinado a festejar os 100 anos do grupo Barraqueiro.

Ainda que a porta não tenha ficado fechada a novas reuniões, o empresário destacou que há dois projectos diferentes para a TAP. "Temos um projecto em que somos maioritários e toda a liberdade para tomar decisões na empresa", disse Pedrosa. Como "não pode haver duas maiorias", qualquer entendimento com o Governo parece difícil, admitiu. "O Governo tem uma decisão que está tomada, mas também tem de pensar no interesse da companhia, frisou o empresário aos jornalistas, lembrando que já foram injectados 180 milhões de euros na TAP. 

Depois do encontro com Pedro Marques, David Neeleman adiantou que o governante não apresentou uma proposta de reversão da privatização e assegurou que o único compromisso deixado foi o de que a Atlantic Gateway vai “cumprir o contrato” com “muitas restrições” que assinou com o Estado para comprar 61% da TAP.

 “Só falámos que a gente vai cumprir com o contrato que assinámos. Foram as condições que aceitámos quando investimos o nosso dinheiro, explicámos isso tudo”, disse David Neeleman, quando questionado sobre se o consórcio está disponível para reverter o negócio. “O nosso projecto é outro”, disse Humberto Pedrosa quando questionado pelos jornalistas sobre o que lhes tinha sido proposto pelo ministro no encontro.

Há dois “projectos diferentes” para a TAP e ambos querem a maioria do capital, “e isso não casa”, resumiu o empresário. Um entendimento será, por isso, “difícil”, reconheceu. Segundo Humberto Pedrosa, não ficou agendada nova reunião com o ministro do Planeamento, mas o PÚBLICO sabe que do lado do executivo o dossier não está dado por encerrado. 

"Este processo de privatização não está concluído", disse fonte do Governo. A mesma fonte sublinhou que o executivo "continuará orientado pela defesa do interesse público”, mas não adiantou quaisquer pormenores sobre a estratégia do Governo para reverter a privatização da TAP. 

Ainda não se sabe quanto custaria ao Estado desfazer o negócio. Uma vez que as acções estão desde Novembro do lado dos privados, que pagaram dez milhões de euros pelo capital e também já injectaram cerca de 150 milhões de euros na transportadora, a reversão só pode acontecer se Neeleman e Pedrosa aceitarem tornar-se minoritários na empresa, exigindo a devida compensação.

 Também não se pode excluir a possibilidade de que uma reversão resultasse na exigência de que o Estado assumisse alguns dos compromissos de capitalização da transportadora (num total de 338 milhões de euros) que foram contratualizados pela Atlantic Gateway. E isto seria algo que dificilmente passaria pelo crivo de Bruxelas.

Para já, certo é que a TAP é, para Humberto Pedrosa, parte integrante do grupo Barraqueiro, como o próprio empresário destacou no livro Grupo Barraqueiro - 100 anos em imagens, destinado a celebrar o centenário do grupo, que foi apresentado esta quinta-feira em Lisboa.  

“Ao incluir a TAP, cujo processo de aquisição de participação maioritária acabamos de concretizar, o Grupo Barraqueiro passa a contar com a colaboração de quase 20 mil trabalhadores”, lê-se na mensagem do presidente, no início do livro. Razão que baste para que Pedrosa reclame para a Barraqueiro o título de “maior empregador em Portugal e o grupo líder no segmento exportador”.

No livro que foi apresentado na Câmara do Comércio e Indústria Portuguesa, em Lisboa, o empresário recordou que já leva quase 50 anos de liderança da Barraqueiro – desde 1967, quando o seu pai a comprou ao sócio fundador Luís Jerónimo. Foi sob a sua liderança que a Barraqueiro cresceu para se transformar num grupo com mais de 30 empresas de transporte de passageiros e mercadorias, a que já nem falta uma transportadora aérea. “Contam-se pelos dedos” as empresas que podem festejar um centenário, destacou Pedrosa na cerimónia de apresentação do livro, lembrando que a década de 90 foi decisivo no crescimento do grupo, pela privatização das rodoviárias nacionais.

Um processo a que esteve ligado Eduardo Catroga, que fez a apresentação do livro e qualificou Pedrosa como “um homem de fibra” e com “visão estratégica”.

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