Cristina Nóbrega lança hoje em disco o seu “sonho de uma noite de Verão”

O concerto que a fadista Cristina Nóbrega deu em 2014, no Largo do São Carlos, é lançado hoje em disco, no Museu do Fado.

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Cristina Nóbrega no concerto do Largo do São Carlos, a 29 de Agosto de 2014 José Frade

Chama-se Cristina Nóbrega ao Vivo no Chiado e é o quinto disco de uma fadista que tem feito uma carreira singular. Nascida em Lisboa, em 23 de Fevereiro de 1967, quando foi convidada em 2014, pelo Museu do Fado, para apresentar um concerto na sua cidade natal e lhe falaram no largo do Teatro Nacional de São Carlos, disse logo que sim sem hesitar. “É um lugar mágico, com uma mística muito própria”, diz Cristina ao PÚBLICO. E o resultado acabou por ser fixado em disco, que é lançado hoje no Museu do Fado, às 19h, com entrada livre. O concerto? “Chamo-lhe um sonho de uma noite de Verão”.

“Sendo um espectáculo de rua, tem características particulares para o fado. O que se pensou foi fazer uma introdução onde Lisboa estivesse presente [ouvem-se, no início, pregões, uma varina, um amolador, um cauteleiro], mostrar a ligação com a música, depois apresentar os músicos…” Um deles, o guitarrista Luís Ribeiro, tocou com Amália. “Foi a pessoa que gravou comigo o meu primeiro CD.” Rodolfo Godinho, o outro guitarrista em palco, participara em Um Fado Para Fred Astaire, de 2013, disco só com letras originais de Tiago Torres da Silva para fados tradicionais, que inclui um dueto com Omara Portuondo, com Pedro Jóia na guitarra clássica. Além dos guitarristas, tocaram nesse concerto João Bengala (viola), João Penedo (contrabaixo), Victor Zamora (piano), Moisés Fernandes (trompete) e Luís Pedro Ribeiro (cajon). Isto perante um largo cheio, onde Cristina cantou clássicos do fado, como Claridade ou Barco Negro, e temas do seu repertório, em particular os do disco com Tiago Torres da Silva, como A saudade não existe ou Quando o mar nos leva ao fado.

Amália "mudou a minha vida"
Mas voltando ao início: “A minha história é diferente daquela história convencional da pessoa que sempre quis ser artista”, diz Cristina. Mas sempre teve uma ligação grande às artes, por via do pai, que tem uma “sensibilidade bastante grande” para as artes. Daí ela ter estudado dança no Conservatório e música na Academia. Mas chegou ao primeiro disco por pressão de amigos, gravou uma “demo” com o guitarrista Luís Ribeiro (seu colega de empresa, ela trabalha como executiva em telecomunicações) para apresentar a editoras. E aquilo que era para ser uma simples maqueta acabou por ser o seu primeiro disco. “Gravei em duas tardes catorze temas, à primeira, fados que eu sabia mais.” Entre várias editoras, a iPlay quis editar o disco, tal qual. Ela ainda disse: “Mas eu canto muito melhor…” Mas a editora estava decidida e transformou a maqueta no disco Palavras Do Meu Fado ‎(2008).

Depois vieram Retratos ‎(2010), Um Fado Para Fred Astaire ‎(2013) e Cristina Nóbrega Live at Mosteiro dos Jerónimos (2013), este com um CD de estúdio e um DVD ao vivo. E em 2008 ela estava a estrear-se em Espanha, na Noite Branca, a convite do Círculo de Bellas Artes, recebendo depois em 2009 o prémio Amália Rodrigues. O que faz sentido, até pelo seu passado. “Quando descobri a discografia da Amália, que a minha mãe tinha em casa, em vinil, começo a ouvir aquilo apaixonadamente. Passava as noites, nessa altura estava na universidade, a ouvir, a tirar as letras. Achei absolutamente extraordinário, achei que era outra dimensão das palavras e da música. Porque até aí eu cantava tudo. E o que faz a viragem é o primeiro e único concerto que eu vi da Amália, no Coliseu dos Recreios. Ela já não cantava com aquela voz, mas estava lá tudo. Isso mudou a minha vida.”

Arranjou uma professora de canto, venceu a timidez e, passados vinte anos, estava a cantar em Madrid com uma multidão à frente. Já era outra. "É um desafio de mim para comigo. Uma das coisas que é libertadora é não querer ser perfeito, é muito castrador. Depois, gosto muito de cantar. E o fado tem-me trazido coisas muito gratas. O que preciso mesmo é tentar, tentar, tentar."

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