Luta de poder leva Sarkozy a afastar a sua nº 2 nos Republicanos

Após 6,8 milhões de eleitores terem votado na FN de Le Pen, debate interno no centro-direita francês não é fácil

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Nathalie Kosciusko-Morizet critica a linha política de Nicholas Sarkozy de pegar em temas da extrema-direita Miguel MEDINA/AFP

Apesar de se tornarem mais claras as críticas à estratégia de Nicolas Sarkozy de tentar conter o avanço eleitoral de Marine Le Pen roubando temas à extrema-direita, o ex-Presidente não arrepia caminho e arruma a casa. Expulsou da direcção de Os Republicanos a sua número 2, Nathalie Kosciusko-Morizet, cujas críticas a esta curva apertada à direita já não suportava.

“Acreditar que o partido se reforça depurando-o é uma velha ideia estaliniana”, criticou Kosciusko-Morizet, cujas relações com Sarkozy já se tinham degradado muito. Na verdade, a possibilidade da sua expulsão já era mencionada há meses, pois os confrontos da antiga ministra da Ecologia com o chefe do centro-direita estavam a tornar-se cada vez mais azedos e frequentes.

Ela não é ainda uma candidata declarada, mas é bem possível que concorra às primárias abertas a toda a população, em Novembro de 2016, para escolher o candidato do centro-direita às eleições presidenciais do ano seguinte. Mas, na verdade, há uma multidão de barões dos Republicanos a posicionarem-se como candidatos. A dificuldade será escolher entre todos os que se perfilam contra Sarkozy, que tornou claro que regressava à liderança do partido para ganhar as presidenciais e regressar ao Eliseu, que perdeu em 2012 para o socialista François Hollande.

Os Republicanos ganharam as eleições regionais de domingo passado – graças à ajuda do PS, que desistiu em duas regiões para impedir a vitória dos candidatos da Frente Nacional (FN) de Marine Le Pen, que teve uma votação recorde de 6,8 milhões de eleitores, embora sem conseguir nenhuma região. Mas Sarkozy proíbiu qualquer candidato do seu partido de se retirar e indicar o voto na FN ou no PS, aquilo a que se chama o “nem-nem”. “Se os eleitores tivessem aplicado o ‘nem-nem’, os nossos candidatos no Norte e na Provence teriam sido batidos”, sublinhou Kosciusko-Morizet.

Os eleitores, em geral, parecem pouco satisfeitos com Sarkozy: pela primeira vez desde Julho de 2012, uma sondagem dá François Hollande, o mais impopular dos Presidentes, à frente do seu rival: 45% têm boa opinião dele em Dezembro, segundo um estudo Ifop-Fiducial para a revista Paris Match, uma subida de 14 pontos num mês, enquanto Sarkozy 35% de opiniões positivas e perdeu dois pontos.

Mas o que está na cabeça de todos os políticos franceses são as eleições presidenciais de 2017. E aí, outra sondagem revela que François Hollande não passaria à segunda volta, se enfrentasse Marine Le Pen e Sarkozy. Le Pen ganharia, com 26%, Sarkozy teria 24% e Hollande apenas 19%, segundo a sondagem TNS Sofres-OnePoint para Le Figaro, LCI e RTL.

Ainda assim, o Governo socialista não tem planos para inverter a sua política – anunciou no entanto, que vai lançar em Janeiro um grande plano de formação para desempregados, pois esse foi o assunto que a maioria dos eleitores destacou como o decisivo nas eleições regionais, mais do que a segurança (39%) e a chegada de imigrantes (34%). A taxa de desemprego em França é de 10,2%.

“O desemprego é a primeira fonte do voto na FN. A oposição devia apoiar o Governo num projecto ambicioso”, declarou ao Le Monde o ex-primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, outro barão d’Os Republicanos. “Apostar no falhanço dos socialistas seria um erro, pois o mapa do voto na FN e o do desemprego são quase coincidentes”, aconselhou. “Correr atrás da FN é uma fuga e uma estratégia frágil. Devíamos formular propostas fortes e credíveis para atrair os eleitores, em vez de ir atrás do que propõe a FN”, sublinhou.

 

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