Tirem-no deste filme

Julie Delpy tem nas mãos uma boa comédia romântica, e deita-a a perder com uma farsa descabelada sobre um filho monstruoso.

Foto

Julie Delpy insiste na comédia familiar que tem norteado o seu trabalho como realizadora, com resultados desiguais (melhor em O Verão do Skylab, 2010, menos conseguido em 2 Dias em Nova Iorque, 2012). A “marca registada” da actriz-argumentista-realizadora é a dispersão frenética dos seus filmes, que partem em todas as direcções possíveis ao mesmo tempo sem nunca escolherem uma e muitas vezes ficando sempre aquém das potencialidades, e isso volta a acontecer aqui: Lolo tem um arranque de estadão, com 15 minutos deliciosos que sugerem uma versão hiper-sexualizada da comédia screwball, sobre a corte-relâmpago entre uma organizadora de eventos parisiense e um programador de Biarritz.

Mas o filme vai abaixo com a mesma rapidez com que arrancou, e o que parece ser uma comédia inteligente sobre arriscar refazer a vida sentimental depois dos 40 anos derrapa para uma farsa descabelada sobre as manobras secretas do filho Lolo para se desfazer do novo namorado. Hipócrita, manipulador, egoísta, paredes-meias com o psicótico, Lolo é uma personagem sem redenção possível que parece existir apenas enquanto projecção dos piores pesadelos maternais; a sua entrada em cena sugere um filme de terror paranóico em choque tonal com a comédia romântica pós-40, como se Julie Delpy estivesse a fazer um mash-up entre dois filmes diferentes a ver o que dali sai. E sai asneira, porque é na comédia romântica que o filme está melhor, mas esse lado é rapidamente afogado pelo resto – e nem uma estonteantemente inspirada Karin Viard no papel da melhor amiga sem papas nem língua salva Lolo do descalabro. 

<_o3a_p>

Sugerir correcção
Comentar