Mulheres nas bancadas

Não serei eu capaz de ver um jogo simplesmente porque gosto, só porque sou mulher?

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Naphtali Marshall/Unsplash

Sei que apenas, e só, por ser mulher muitos já desvalorizarão qualquer opinião que possa emitir sobre futebol. Mas, não tenham medo, não vou falar de tácticas, transferências, jogadas, bastidores, árbitros e sorteios. Vou falar apenas de algo que gosto – futebol.

Gosto do espectáculo, gosto da emoção que é criada em torno do jogo, as análises das supostas melhores tácticas a utilizar, os treinadores de bancada e as suas opiniões. Gosto da magia do futebol.

Claro que gosto de assistir a um bom jogo, bem disputado, com fair-play, e acima de tudo que a equipa por quem torço vença. Sim, aí não consigo ser imparcial. Gosto de torcer para vencer, como acho que é o caso de todos os que vão ao estádio.

Mas, para mim a magia do futebol, e algo que com o passar dos anos ainda não se alterou, é a presença de uma mulher na bancada. Então se estiver sozinha pior.

Felizmente começam a ser mais, e começam a entender mais de futebol, e a não se limitarem a acompanhar os maridos. Nunca me hei-de esquecer do meu avó falar que não levava a minha avó para o futebol, porque ela a primeira vez que assistiu a um jogo o envergonhou dizendo “possa, há ali um homem vestido de preto que não joga mesmo nada, nunca pôs o pé na bola”.

Hoje perguntam-me muitas vezes quando me vêem na bancada “Quem tem lá dentro? É esposa de algum jogador?” Estas perguntas deixam-me desanimadas por sentir que há ainda muito a fazer pela igualdade de homens e mulheres, não só dentro, mas também fora de campo.

Não serei eu capaz de ver um jogo simplesmente porque gosto, só porque sou mulher? Parece-me que ainda não! Não sei se isto é comum em todos os estádios, ou se sou eu que não “tenho ar” de quem gosta “de ver a bola”.

Adoro estar sentada na bancada do campo do Estádio Municipal 22 de Junho, em Vila Nova de Famalicão, ouvir os comentários sábios de pessoas com idade dos meus avós, de ver jovens com menos sangue frio a não conseguirem ser isentos na análise dos lances, de ver crianças a cantar o hino com uma alegria e brilho nos olhos que são indescritíveis.

Comento os lances, dou a minha opinião, vibro. Não sei a jogada x e y que aconteceu no ano de 1985, quem foi campeão em 76, mas isso não invalida que esteja na bancada para ver o jogo.

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