Le Pen derrotada nas regionais, mas com uma votação recorde

A Frente Nacional não ganhou em nenhuma região, mas teve um número recorde de votos. Tornou-se um partido de dimensão igual ao PS francês.

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Marine Le Pen perdeu e denunciou “o sistema” DENIS CHARLET/AFP
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Xavier Betrand, d'Os Republicanos, eleito presidente da região Norte-Pas-de-Calais-Picardia, em vez de Marine Le Pen PHILIPPE HUGUEN/AFP
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Christian Estrosi, que ganhou as eleições na região Provence-Alpes-Côte d’Azur, face a Marion Maréchal-Le Pen, com a ajuda dos socialistas VALERY HACHE/AFP
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Valérie Pécresse, a candidata de centro-direita que ganhou a disputada eleição em Ile-de-France MIGUEL MEDINA/AFP

Nem Marine Le Pen nem Marion Maréchal-Le Pen conseguiram ser eleitas para a presidência das regiões onde concorriam pela Frente Nacional na segunda volta das eleições regionais em França. A "barreira republicana" erguida pelos socialistas funcionou, e o aumento de cerca de nove pontos na afluência às urnas foi suficiente para conter a extrema-direita.

“A história recordará que foi aqui que travámos a progressão da Frente Nacional (FN)”, afirmou um emocionado Xavier Bertrand, do partido de centro-direita Os Republicanos, eleito com 57,5% dos votos, contra 42,5% de Marine Le Pen na região Norte-Pas-de-Calais-Picardia, graças à desistência do candidato do Partido Socialista.

No Sudeste, na região Provence-Alpes-Côte d’Azur, Christian Estrosi, também do partido de Nicholas Sarkozy, beneficiou da desistência da esquerda para ganhar a Marion Maréchal-Le Pen: terá 54,5% dos votos, face a 45,5% da mais jovem Le Pen. Florian Philippot, estratego da Frente Nacional, ficou-se pelos 36,6% na região de Alsácia-Champagne-Ardenne-Lorena, contra 47,6% de Philippe Richert, candidato do centro-direita.

"Um sucesso sem alegria"
A estratégia socialista resultou, embora tenha implicado o sacrifício dos seus candidatos e da presença do partido nos órgãos regionais durante este mandato. Por isso o tom geral não foi de regozijo. “Para o PS, estes resultados constituem um sucesso sem alegria, porque a abstenção ainda foi demasiado forte, e a extrema-direita decididamente demasiado alta”, afirmou o primeiro-secretário do PS, Jean-Christophe Cambadélis.

"Esta noite, não há espaço para alívio ou triunfalismo", sublinhou o primeiro-ministro socialista, Manuel Valls. "O perigo que representa a extrema-direita não desapareceu, muito pelo contrário”, afirmou, numa declaração ao país, em que saudou a capacidade dos eleitores em “responder ao apelo muito claro lançado pela esquerda de fazer barreira contra a extrema-direita”.

Pelo menos nos discursos, os responsáveis políticos da esquerda e da direita sublinharam o facto de a abstenção continuar alta – 59% dos eleitores foram votar, quando há uma semana, na primeira volta, apenas 50% o fizeram, mas ainda assim 41% recusaram-se a ir às urnas – e da necessidade de ouvir realmente os eleitores e ir ao encontro das suas necessidades. “Aos que não foram votar e já não acreditam”, disse o primeiro-ministro socialista, “devemos provar-lhes que a política não vai voltar a ser como era.”

Marine Le Pen, no discurso em que reconheceu a derrota, preferiu denunciar “o sistema” e “as campanhas de calúnias e de difamação decididas nos palácios dourados da República”. A verdadeira clivagem, afirmou, já não é entre esquerda e direita, mas "entre os patriotas e os adeptos da globalização".

O aumento da afluência às urnas terá sido decisivo para esta reviravolta nos resultados. A FN, porém, progrediu: na primeira volta, quando ficou em primeiro lugar em seis regiões (ver mapa em baixo), teve seis milhões de votos. Desta vez, com mais de 90% dos votos contados, ultrapassou 6,5 milhões e em percentagem está praticamente empatada com o PS, em torno dos 28,5%.

O valor mais alto de sempre da FN, atingido por Marine Le Pen na primeira volta das presidenciais de 2012, tinha sido de 6,4 milhões de votos. “O tecto de vidro não existe para a FN”, comentou a líder do partido anti-imigração e anti-União Europeia.

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Os Republicanos tiveram cerca de 40,5% dos votos e ganharam sete regiões, onde vivem 42 milhões de pessoas, e a união das listas de esquerda (liderada pelo Partido Socialista) cinco das 13 regiões metropolitanas francesas, onde vivem 20 milhões de pessoas. Nicolas Sarkozy, nas suas declarações, manteve-se discreto. Mas espera-se que os barões do partido passem ao ataque rapidamente, desfazendo a sua estratégia eleitoral de se aproximar dos temas da FN e não retirar os seus candidatos, mesmo que os da extrema-direita estivessem em vantagem.

Os Republicanos tiveram uma vitória especialmente saborosa, na região de Île-de-France, que inclui Paris e que há 17 anos era dirigida pelo PS: numa disputa cerrada, o candidato da esquerda, o socialista Claude Bartolone, presidente da Assembleia Nacional, foi batido por Valérie Pécresse, por poucos milhares de votos: 43,2% para Bartolone e 42,9% para Pécresse.

O final da campanha foi marcado pelas declarações do socialista, que disse numa entrevista que Pécresse defende “os interesses da raça branca”, acusando-a de ter “as mesmas opiniões que a FN”.

“Estes resultados são muito duros para a esquerda”, reconheceu Emmanuelle Cosse, secretária-geral da Europa Ecologia-Os Verdes, que se apresentou em listas conjuntas com o PS na maioria das regiões na segunda volta. “Já é tempo de o conjunto da esquerda se interrogar após quatro eleições fracassadas”, sublinhou.

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