Refugiados encontraram em Penela uma vila de "pessoas simpáticas"

Famílias chegaram a Portugal há um mês. Já há projectos para o futuro e outros para mais breve: como jogar futebol pelo Penelense.

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As primeiras famílias de refugiados chegaram a Portugal em Novembro Adriano Miranda

O sudanês Belal já pensa em jogar futebol pelo Penelense, enquanto a síria Tasneem, de 13 anos, espera vir a ser médica. Há um mês em Penela, refugiados já falam em sonhos, numa vila feita de "pessoas simpáticas".

"Um, dois, três, quatro?", contava em português uma das crianças sírias na sala de recepção do Centro de Refugiados de Penela, que neste sábado pareceu demasiado pequena para as quatro famílias de refugiados e jornalistas que estavam presentes num encontro promovido pelo centro.

"É fácil aprender português", conta Belal Ibrahim, de 22 anos. No Sudão, perdeu o pai, militar que morreu durante a guerra. Com a avó e dois irmãos gémeos foi para o Egipto, onde ficou oito anos. Depois da cidade de Cairo, com 7,7 milhões de habitantes, surge agora Penela, vila de seis mil habitantes, que é para Belal sinónimo de conforto e segurança. Nesta vila, o jovem sudanês, que tem como clube favorito o Porto, já começou os treinos no clube de futebol Penalense e sonha poder participar em jogos oficiais em Janeiro.

Belal, que só diz bem das pessoas de Penela, quer também continuar o curso de Geografia, que começou na Universidade do Cairo, mas a necessidade de trabalhar para sustentar a família - avó e dois irmãos gémeos de 13 anos - pode impedir que tal aconteça, confessa.

"Encontrámos famílias com alguma estabilidade emocional, agregados fortes e que se protegem", sublinha o psicólogo do centro, Hugo Vaz, realçando que, apesar da exposição dos refugiados "a cenários de guerra", estão motivados para se integrarem "verdadeiramente no país".

"Estou muito contente. Muito feliz", salienta Tasneem, de 13 anos, que aproveitou a vinda dos jornalistas para ir registando tudo, tirando fotografias e filmando para depois enviar para amigos e para a avó no Egipto - "para mostrar o que estou a fazer em Portugal". Neste primeiro mês, Tasneem mostra-se entusiasmada com os primeiros passos na aprendizagem do português e vê um futuro em Portugal, como "médica".

Depois de três anos no Egipto, a liberdade de sair para rua para brincar é uma coisa "que marca muito", refere Tasneem, que classifica o dia da chegada a Penela, a 7 de Novembro, como "um dia maravilhoso". "Não sentimos que estamos num país que não conhecemos. Não nos sentimos estrangeiros. Pareceu que tínhamos chegado ao nosso país", disse Tasneem.

"É começar de novo", resume o pai de Tasneem, Fouad Nadeem, sírio de Alepo, que encontrou em Penela "pessoas muito simpáticas, que estão sempre a dizer: 'bom dia, boa tarde, boa noite'". Há apenas um senão. "Emprego". É esse o único receio de Fouad, que recorda que apenas nos dez primeiros meses terão apoio directo do centro de refugiados. Numa vila pequena, poderá ser difícil encontrar emprego e pergunta-se a si próprio como irá continuar terminando os dez meses de intervenção directa. Os salários baixos não o preocupam: "não quero poupar. Quero apenas viver, simplesmente, como qualquer outra pessoa".

Quanto a um regresso à Síria, Fouad, com a voz embargada, abandona o seu sorriso constante para dizer que "esse sonho não poderá ser realizado, porque a Síria vai desaparecer do mapa do mundo. Temos que começar uma vida de novo. Tenho filhos e não posso parar".

Em Penela, os refugiados estão alojados em apartamentos de tipologia T3 e T4, devidamente equipados, propriedade do Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, mas actualmente geridos pela Câmara de Penela, num complexo que já tem sete famílias portuguesas a viver. Este grupo de refugiados integra-se no Programa Nacional de Reinstalação, um processo diferente daquele que a União Europeia lidera face à crise das migrações em curso.

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